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O carioca olímpico pode preparar o bolso que deve vir aumento de luz aí…
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Um amigo meu, que é Ph.D. pela Universidade de Chicago e um liberal, deixou seu lado bairrista falar mais alto e ficou muito empolgado com a Olimpíada no Rio. Focava bastante nos tais “ganhos intangíveis”, que não são tão visíveis assim. Em debates, tentei lhe falar sobre o elevado custo do evento, principalmente do custo de oportunidade. Mas ele, como tantos outros cariocas, só pensava nas vantagens. Esqueceu da aula de seu grande mestre, Milton Friedman: “Não existe almoço grátis”.

Pois bem: o megaevento terminou, os gringos já se foram, e o carioca precisa voltar ao seu cotidiano, num clima meio de ressaca. Mas com um agravante: deve vir aumento na conta de luz aí. Sim, a Light está pleiteando antecipação do aumento previsto, assim como seu incremento, por conta dos investimentos feitos para a Olimpíada. Isso é um absurdo, como lembra o editorial do Estadão, já que o evento é privado:

O consumidor carioca corre o risco de ter um aumento na sua conta de luz em razão dos investimentos feitos para os Jogos Olímpicos Rio 2016. Trata-se de um evidente abuso, que não deve ser tolerado. A Olimpíada é um evento privado, que não tem qualquer parcimônia na hora de cobrar seus ingressos – assistir a um jogo de futebol, por exemplo, custou em algumas partidas mais de R$ 500. A organização do evento deve ser, portanto, responsável por todos os gastos e investimentos que exigiu. Não cabe agora, depois da festa, repassar ao consumidor a conta, que pode ser inflacionária, afetando, assim, todos os brasileiros.

A possibilidade de que ocorra o absurdo repasse ao cidadão da conta relativa aos investimentos feitos para atender à Olimpíada Rio 2016 veio à tona quando a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), no dia 16, permitiu que as distribuidoras de energia que não aderiram à renovação de contratos no ano passado renovem agora seus contratos. Com isso, abriu-se a oportunidade para que as empresas de energia mudem seu calendário de reajustes e revisões de tarifas. Na prática, a revisão tarifária que ocorreria em 2018 pode ser antecipada para 2016.

[…]

Segundo a Light, os investimentos olímpicos alcançaram a cifra de R$ 909,9 milhões. Só na infraestrutura de energia para atender a região da Barra da Tijuca – onde foi construído o Parque Olímpico, com suas várias arenas – foram gastos cerca de R$ 250 milhões.

Parte dessa conta teria sido paga pelo governo federal, no valor de R$ 477,8 milhões. Já os restantes R$ 432,1 milhões ficaram a cargo da Light, que agora almeja cobrar do consumidor, por meio de aumento extraordinário da conta de luz, o valor investido.

[…]

Seja agora, seja em 2018, é um abuso obrigar o consumidor a pagar a conta dos investimentos feitos exclusivamente para atender aos Jogos Olímpicos Rio 2016. Não há razão – jurídica ou de fato – que possa sustentar o repasse à população dos investimentos feitos para atender a um evento privado.

Além de inflacionário, o aumento na conta de luz seria cristalina demonstração de abuso de poder. A lei e as instituições de um país não podem ser utilizadas para impor à parte mais fraca – o cidadão – custos que em nada lhe dizem respeito. Quem quis participar do evento esportivo pagou seu ingresso e desfrutou do espetáculo. Os organizadores, ao que se informa, tiveram substanciosos lucros. Pretender que, agora, terminada a festa, os cariocas paguem uma fatura que não é deles nada tem de espírito olímpico. É pura desfaçatez.

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Concordo. Mas sabem como é… estamos falando de Brasil, mais especificamente do Rio. Tudo é possível! É possível até mesmo que meu amigo e tantos outros continuem achando que tudo valeu a pena, que foi mais do que compensado pelo retorno, principalmente pelo retorno “intangível”, como o aumento da “autoestima” (?) do brasileiro. Mas para concluir isso era necessário conhecer os custos todos antes, certo? E o mais justo seria perguntar aos pagadores se eles concordam, correto?

Algo do tipo: “Você quer pagar 15% a mais na sua fatura de luz para ver o Thiago Braz ganhar o ouro no Rio, em vez de Chicago?” Ou ainda: “O governo já gastou R$ 1 bilhão por dia para realizar o evento na sua cidade. Você aceita pagar ainda mais, por meio da conta de luz, para vislumbrar esse clima animado com tantos gringos em sua cidade?”

A escolha nunca foi dada. Lembro até hoje da felicidade sem tamanho de Lula e Eduardo Paes quando o Rio foi o escolhido. Mas há grandes chances de os mais pobres pagarem por um evento que, mal ou bem, acaba voltado para os mais ricos. Durante os jogos, naquele clima olímpico incrível, seria apedrejado quem tocasse nesses assuntos chatos. Mas agora que o melhor já passou e resta a ressaca – com a fatura – talvez o chato aqui não seja tão odiado por tecer algumas críticas e fazer perguntas. Talvez o leitor carioca até faça algum elogio, em meio aos xingamentos, quando chegar aquela conta de luz bem mais salgada no final do mês…

Anotem aí: não existe almoço grátis. Nem banquete. Menos ainda Olimpíada.

Rodrigo Constantino

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