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Pinochet, o general. Foto de Russell Boyce/REUTERS
Pinochet, o general. Foto de Russell Boyce/REUTERS| Foto:
Allende, o socialista Allende, o socialista

A esquerda não teria absolutamente nada se não fosse sua retórica de vítima. Salvador Allende, o presidente socialista chileno, representa um ícone perfeito para o discurso de vitimismo. Afinal, acabou morto e se seguiu um regime militar opressor, sendo que Allende representava o “socialismo democrático”. É assim que muitos jovens aprendem nas universidades e livros. Mas está, claro, tudo errado. Abaixo, veremos um pouco mais do contexto que levou Pinochet ao poder no Chile.

Um pouco de história do Chile nos mostra que este é um país com fortes raízes de patriotismo, instituições capazes de manter a ordem, e um povo respeitador da Constituição, datada de 1925. Os militares sempre se mantiveram fora da política, como deve ser. O governo sempre teve um papel central, principalmente para proteger o controle sobre os recursos naturais do norte.

O Partido Comunista Chileno era o mais antigo da América do Sul, e sempre foi altamente obediente ao Kremlin. O partido fundado por Salvador Allende era também declaradamente marxista. Em 1967, o seu Partido Socialista deu a seguinte declaração: “O Partido Socialista como uma organização Marxista-Leninista propõe a tomada do poder como objetivo estratégico a ser conquistado por esta geração, para estabelecer um estado revolucionário que irá libertar o Chile da dependência econômica e cultural e iniciar o processo do socialismo. Violência revolucionária será inevitável e legítima. Constitui o único caminho para se chegar ao poder político e econômico. A revolução socialista poderá ser consolidada apenas destruindo-se as estruturas burocráticas e militares do estado burguês.”

O MIR, movimento revolucionário de esquerda similar as Farc e ao MST, era um corpo militar que defendia a tomada do poder pelos comunistas e socialistas. O sobrinho de Allende, Andres Pascal Allende, era um dos líderes de tal movimento. Outro pilar de sustentação das bases revolucionárias estava na Igreja Católica e sua teologia liberacionista, que acreditava na militância política como único meio de transmitir a mensagem divina. Com esse conjunto de forças dando apoio, e mais promessas de respeito à Constituição que se mostraram mentirosas depois, em 1970 era eleito Salvador Allende para presidente. Em 1971, em uma entrevista, o novo presidente já deixava claro suas intenções, ao dizer que “nós precisamos expropriar os meios de produção que ainda estão em mãos privadas”. Disse também que “nosso objetivo é o socialismo marxista total e científico”.

Allende venceu as eleições com 36% dos votos, o que estava longe de ser considerado um maciço apoio popular. O primeiro aspecto de seu programa de governo foi um assalto às propriedades privadas agrícolas, na medida conhecida como “tomas”. As expropriações eram carregadas de violência, por bandos armados, normalmente membros do MIR. Várias vítimas foram assassinadas, e alguns morreram de ataques do coração ou se suicidaram. Entre novembro de 1970 e abril de 1972, quase 2 mil fazendas foram tomadas por bandos armados.

Em seguida, Allende iniciou um programa de nacionalização de diversos setores da economia, como mineração e têxtil. Seu governo utilizou pequenas brechas na lei para infernizar a vida das empresas, e conseguir assim expulsar o capital estrangeiro do país. A liberdade de expressão também foi fortemente atacada, como em todos os países socialistas. Allende chegou a afirmar que “coisas são boas ou ruins dependendo se elas nos trazem para mais perto ou longe do poder”. Seu governo atuou direta e indiretamente contra jornais e estações de rádio não socialistas.

Foi criada uma instituição bizarra conhecida como “Corte do Povo”, em que juízes não treinados, mas ligados às organizações de esquerda, eram indicados. Seus poderes eram amplos, e batiam de frente com as leis já estabelecidas. Além disso, Allende criou, em 1971, sua própria Guarda Pessoal, a GAP, fortemente armada.

Todas essas medidas inconstitucionais, num país que respeitava sua Constituição desde 1925, fizeram com que o governo de Allende entrasse em conflito com a Suprema Corte. Vários casos eram questionados na justiça, mas Allende simplesmente ignorava as decisões da Corte. Ele chegou a dar a seguinte declaração em rede nacional: “Num período de revolução, a força política tem o direito de decidir em última instância se as decisões do judiciário se enquadram ou não nos objetivos e necessidades históricas de transformação da sociedade. Conseqüentemente, cabe ao Executivo o direito de decidir seguir ou não os julgamentos do judiciário”.

Em janeiro de 1972, o Congresso aprovou o impeachment do ministro de Interior por falhar na proteção dos direitos à propriedade e liberdade de expressão, apenas para vê-lo assumir a pasta de Ministro de Defesa. Em julho do mesmo ano, um novo ministro de Interior sofreu impeachment, mas foi apontado por Allende para um alto cargo administrativo. Em dezembro, o Ministro de Finanças também sofreu impeachment por ações ilegais contra trabalhadores em greve, mas foi transformado em ministro da Economia. O desrespeito de Allende às claras regras do jogo, à Constituição, ao Congresso e à Suprema Corte, era simplesmente total.

A crise econômica se alastrava de maneira assustadora no Chile de Allende. A hiperinflação atingiu mais de 500%, faltavam produtos nas prateleiras e o desemprego crescia rapidamente. No meio desse caos econômico, Carlos Matus, um dos ministros de Allende, disse que “o que é uma crise para outros representa uma solução para nós”. O único setor que prosperou durante os anos de Allende foi o paralelo, o mercado negro. Assim como na URSS, a nomenklatura chilena, composta de pessoas ligadas ao governo e influentes, enriqueceu por meio da importação de produtos escassos no Chile. O dólar, que no mercado livre da era pré-Allende valia 20 escudos, atingiu 2.500 escudos em agosto de 1973. A produção agrícola caíra 23% e a mineral uns 30%. No Chile de Allende, reinava o caos econômico e social, fruto do total desrespeito à ordem.

Foi nesse contexto que se deu o “golpe” de 1973. Os militares na verdade apenas cumpriram com suas obrigações constitucionais. Uma guerra civil era iminente, e inúmeras armas já estavam sob o poder dos revolucionários, enviadas sobretudo por Cuba. Allende era bastante próximo de Fidel Castro, e no passado, como presidente do Senado, já havia oferecido refúgio aos membros do grupo terrorista de Che Guevara. Durante seu governo, não só centenas de guerrilheiros cubanos migraram para o Chile, como membros de diversos grupos revolucionários do Brasil, Uruguai, Argentina, Peru, Nicarágua e Honduras. A residência de Allende no El Canaveral serviu como importante centro de treinamento para tais terroristas. Castro chegou a mandar dois de seus maiores especialistas para ajudar na organização da violência política chilena.

Como fica claro, o general Augusto Pinochet não resolveu do nada tomar o poder porque as “elites” estavam insatisfeitas com as “conquistas sociais” de Allende, o “socialista democrático”. Essa narrativa é totalmente falsa, fabricada pelos “intelectuais” de esquerda para aliviar a barra do seu guru e vender vitimismo aos leigos. Quando governantes da esquerda radical, impopulares após destroçar a economia, resolvem partir para o completo desrespeito às regras do jogo e intensificar na escalada socialista autoritária, isso produz naturalmente uma reação por parte daqueles que desejam manter a ordem.

Ou seja, quando a esquerda corrupta, incompetente e golpista resolve partir para o tudo ou nada, isso costuma levar a um dos dois cenários: 1. se ela for bem-sucedida, a democracia acaba de vez, assim como a economia, e o país vira uma ditadura socialista, como Cuba e Venezuela; se ela fracassar, é porque houve intervenção militar, a ordem acaba resguardada após uma fase inicial de conflito, e a democracia também morre. A história mostra que a segunda alternativa é muito melhor do que a primeira. O Chile pós-Pinochet teve bons resultados econômicos e sociais, graças aos liberais inspirados em Milton Friedman, ao contrário de Cuba e Venezuela, mergulhadas no caos.

Mas ninguém pode celebrar um general no comando da política, um regime opressor e muitas vezes brutal. É algo triste, sempre perigoso, que ameaça as liberdades individuais. É, infelizmente, o resultado da irresponsabilidade e da ousadia dos canalhas revolucionários da esquerda radical.

Rodrigo Constantino

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