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O estranho sigilo de Dilma e o papel da imprensa
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O caso recente da escala sigilosa e repleta de explicações falsas da presidente Dilma e sua comitiva em Lisboa reacendeu a importância fundamental da imprensa livre e independente em uma democracia. Governantes, especialmente aqueles com viés autoritário, detestam esses jornalistas “enxeridos”. Adorariam viver atrás de uma “cortina de ferro”, como nos países socialistas. Só que não.

Em regimes democráticos, o povo, que paga a conta de seus servidores públicos, tem o direito de saber da agenda da presidente e dos seus gastos oficiais. A desculpa esfarrapada de “segurança nacional” não cola, não engana nem o mais ingênuo de todos. Ocorre que o assunto só veio à tona porque o Estadão descobriu a verdade e a publicou, desmentindo e constrangendo a presidente.

Em sua coluna de hoje no GLOBO, o jornalista Carlos Alberto Di Franco trata desse assunto, expondo a importância de uma imprensa independente, especialmente quando o governo em questão é praticamente administrado por um marqueteiro, onde tudo é imagem, e para o inferno com os fatos. Diz Di Franco:

Dilma Rousseff não dá um passo sem ouvir seu marqueteiro. João Santana é, de fato, seu primeiro-ministro. Competente na arte de embalar produtos, Santana vende bem a imagem de sua cliente. Compromisso social, capacidade de gestão e firmeza são, entre outros, os supostos atributos da presidente.

Os fatos, no entanto, acabam prevalecendo. É só uma questão de tempo. E os fatos estão gritando na força dos números econômicos, na qualidade objetiva da governança e na adequação entre discurso e vida.

[…] 

O episódio, revelador, provocou muita irritação. Ótimo. É assim que deve ser. A imprensa existe para fazer o contraponto, para revelar as incoerências, para exercer um papel fiscalizador. E não se invoquem razões de segurança ou respeito à privacidade para justificar o absurdo sigilo. Dilma pode falar o que quiser, mas, depois do episódio, terá dificuldade para criticar os desvios da elite.

Exato. Agora imaginem uma imprensa dominada por veículos “chapa-branca”, dependentes das verbas estatais para sobreviver. Alguém acha que haveria esse tipo de “incômodo” para o governo? Claro que não. Só que esse é o papel da imprensa: lançar luz sobre as sombras estatais, investigar, denunciar, desvendar segredos, informar.

Quem deseja cada vez mais controle estatal sobre a imprensa, sob o manto hipócrita da “democratização dos meios de comunicação”, quer justamente evitar este tipo de “mal-estar” dos governantes que adoram as sombras, o sigilo, a mentira, um governo marqueteiro.

Que a imprensa continue a incomodar mesmo os governantes. Caso contrário, seremos como a Venezuela, onde o tiranete pode reinar absoluto seguro de que não haverá luz lançada em sua direção.

Rodrigo Constantino

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