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O fracasso do ensino público bancado pelo “welfare state”
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Dando continuidade às resenhas de Welfare of Nations, de James Bartholomew, chegamos no terceiro artigo, após uma introdução geral e um texto sobre a saúde pública. O tema deste será a educação, e como o ensino público tem se mostrado um fracasso quase no mundo todo.

O primeiro dado chocante é o nível de analfabetismo funcional das crianças nos países desenvolvidos: 18,8%! Ou seja, uma em quase cada cinco crianças não é capaz de interpretar os textos que lê. Isso é medido em exames básicos como os do PISA. E o mais espantoso ainda: essas crianças passam de ano em seus países mesmo com esse grau de analfabetismo funcional.

Sistemas que não conseguem ensinar uma parcela tão grande dos alunos a ler e interpretar textos direito falharam em sua função mais básica e prejudicam o futuro de milhões de pessoas. É um fato inescapável que todos esses sistemas são dominados por escolas públicas.

Um dos fatores que causam esse resultado medíocre é a indisciplina. Há vários relatos de jovens que pertencem a gangues sobre como podem fazer o que bem entenderem na sala de aula. “Você pode colocar os pés na mesa sem seus sapatos, ficar no telefone, e os professores não dão a mínima”, relata um deles. “Você sente que não está aprendendo nada, então qual o sentido de ir para a escola?”, pergunta outro.

Parece que em muitos lugares, especialmente em comunidades mais pobres, a máxima do “Hey, teachers, leave them kids alone” foi levada ao extremo. No Brasil conhecemos inúmeros casos de vandalismo, abusos, desrespeito, bagunça e anarquia dentro das salas de aula das escolas públicas, e os professores decentes se sentem intimidados, enquanto os ruins são cúmplices e até incentivam esse comportamento, com medo de parecerem “elitistas” ou “preconceituosos”.

Uma educação fracassada costuma levar ao aumento da criminalidade. Mais de 70% dos presidiários americanos possuem um baixo nível de alfabetismo, e 40% estão no mais baixo grau, quase o dobro do índice na população em geral. Correlação não é causalidade, e não é certo atrelar diretamente a baixa escolaridade ao crime. Mas não resta dúvida de que produzir analfabetos em série, incapazes de conseguir melhores empregos depois, em nada ajuda.

Uma educação ruim é altamente correlacionada também com pais separados ou solteiros. Entre mulheres jovens com idades entre 16 e 19 no nível de pobreza ou abaixo dele, aquelas que não conseguem ler direito têm seis vezes mais chances de ter um filho fora do casamento do que as que conseguem. Sem conseguir emprego decente, muitas delas têm filhos para receber benefícios do estado, principalmente de habitação, onde os programas costumam privilegiar mães solteiras.

A ideologia como substituta da verdadeira educação também é um fenômeno que afeta a qualidade do ensino nesses países. A história da educação na França ou na Alemanha mostra que governos e igrejas sempre disputaram diferentes formas de influenciar os jovens. É uma ingenuidade acreditar que o “welfare state” está imune a isso. As democracias modernas não estão livres do impulso de controlar as mentes e os corações da próxima geração, e sabemos como as escolas públicas acabam usadas para esta finalidade com frequência. A politização estraga a qualidade do ensino.

Há, ainda, a questão dos incentivos inadequados e do poder sindical. É muito difícil demitir um professor ruim de um sistema público de ensino. E mesmo quando isso ocorre, normalmente o diretor precisa escolher um substituto dentro de uma “lista consolidada”, que é para onde os professores demitidos acabam indo. Ou seja, o corporativismo protege a categoria, e isso inclui os professores incompetentes. Na América esse processo é chamado de “dança dos limões”.

A verdade é que nesses sistemas os professores ruins não vão embora; são “reciclados”, ou realocados. E, sabendo como é complicado demiti-lo, o professor tem pouco incentivo para uma ética profissional forte. Como a escola pública recebe verbas independentemente dos resultados ou da escolha dos pais, não há incentivo na busca por excelência. O modelo retroalimenta a ineficiência.

Os países com melhor desempenho no ensino costumam ter exames públicos exigentes, dos quais o futuro acadêmico das crianças depende. Dito de outra forma, os piores países não cobram muito dos alunos, e tratam todos como “vencedores”, sem fazer diferenciação entre quem realmente se mostra mais capaz ou esforçado.

Outra característica dos melhores colocados é cultural e pode ser observado basicamente na Ásia: uma forte crença de que o esforço permite que qualquer criança conquiste o sucesso. Dos seis melhores colocados em alfabetismo, cinco são asiáticos. A autonomia das escolas para adotar seus próprios mecanismos de cobrança também se mostra relevante para o sucesso. E vários asiáticos buscam em escolas particulares um extra necessário para o sucesso.

Em suma, as pesquisas do autor sugerem que os países com os melhores resultados são aqueles com boa disciplina na sala de aula, exames exigentes, uma crença de que o trabalho duro é importante e que toda criança é capaz de avançar com ele, bons professores dominando a profissão, independência das escolas, e um alto nível de motivação de todos os envolvidos.

O autor recomenda mais “charter schools”, administradas pela iniciativa privada, e “vouchers”, permitindo que os próprios pais escolham as escolas privadas de seus filhos. As escolas governamentais existentes deveriam ser repassadas para cooperativas, igrejas, empresas de educação, trustes de caridade ou associações de pais e professores. Retirar o poder dos políticos e sindicatos é fundamental.

Rodrigo Constantino

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