• Carregando...
O seletivo respeito às leis democráticas de Vladimir Safatle
| Foto:
Um deles é Safatle, o outro é Lenin, mas não sei qual é qual

Vladimir Safatle está de volta das férias, e chegou com tudo em sua coluna de hoje: pedindo a prisão de todos aqueles que clamam pela intervenção militar. Para o intelectual do PSOL, não se trata de uso da liberdade de opinião, mas sim da incitação a um crime, que deve ser punido com a cadeia. Diz ele:

Quem quer a causa quer as consequências. Por isto, pedir por uma “intervenção militar” não é uma “opinião” política, mas pura e simplesmente o crime por excelência.

[…]

Por isso, quem levanta um cartaz a favor de um golpe militar não pode estar na rua, mas deveria estar ou respondendo a processos por incitação à forma máxima de violência ou diretamente na cadeia.

A primeira coisa que alguém perguntaria ao autor é o que ele pensa, então, dos que clamam por uma revolução. Ciente disso, ele já tentou se antecipar e ofereceu sua resposta:

Claro que haverá aqueles a dizer que eu deveria então criticar os que saem às ruas e pedem, por exemplo, por “revolução” (onde? Faz tempo que não vejo ninguém fazer isso). No entanto, uma revolução é uma sublevação popular que dá voz ao poder instituinte. Nada a ver com um golpe que, por sua vez, é a forma máxima do fim da política.

Safatle voltou das férias precisando de óculos. Ele não enxerga mais aqueles que pedem uma revolução, talvez porque sejam subordinados do próprio PT e estejam na lista de pagamento de mesadas estatais. Mas vejam que malabarismo fantástico: a revolução pode, pois é uma “sublevação popular que dá voz ao poder instituinte”. Entendeu? Não?

Eu explico: veja Cuba, por exemplo. A revolução deu voz ao poder instituinte, i.e., ao ditador Castro. Mas como ele fala em nome do povo, não é como uma intervenção militar. As revoluções socialistas, mesmo as que levam a regimes ditatoriais bem piores do que o nosso regime militar, são diferentes. Pois são de esquerda! Entendeu?

Ainda não? Melhor desistir. O problema não está com você, leitor, mas com o autor do texto. A esquerda radical sempre foi assim mesmo, hipócrita, contraditória, incoerente, abusando de um duplo padrão moral, de um julgamento sempre seletivo que lhe concede um salvo-conduto para tudo que abomina nos outros.

É com esse tipo de mentalidade e cara de pau que um Safatle da vida consegue aplaudir os black blocs, que agem no crime, depredando nosso patrimônio, atacando policiais e até matando cinegrafistas, mas condena o sujeito que levanta um cartaz pedindo a volta dos militares. Elogia os invasores do MTST liderado por Guilherme Boulos, novamente no crime, enquanto pede a prisão do velhinho desiludido que achava sua vida melhor na década de 1970 e acredita que a única saída para a roubalheira do PT é o retorno dos militares.

Veja bem, leitor, sou totalmente contra essa demanda de intervenção militar e já deixei isso claro aqui várias vezes. Mas detesto ainda mais a hipocrisia dessa esquerda ridícula. Safatle pertence ao PSOL, partido que não só elogia Cuba, uma ditadura, ou a União Soviética, como já fez Chico Alencar, como conta com um terrorista entre seus fundadores. E esse sujeito tem a coragem de simular horror a quem pede a volta dos militares, pois isso fere nossa democracia?

Claro que se trata de uma afetação dissimulada. O respeito às leis dessa gente é seletivo. Levantar um cartaz pedindo intervenção militar é um atentado à democracia que deve ser punido com cadeia, mas invadir terrenos, jogar coquetéis Molotov na polícia ou pedir uma revolução socialista são atos nobres de rebeldes insatisfeitos com o “sistema”.

É podre, eu sei. É asqueroso, eu sei. É abjeto, eu sei. Mas o que mais você poderia esperar dessa esquerda que até hoje finge que o Muro de Berlim não caiu?

Rodrigo Constantino

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]