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Obama visita Japão mas não pede perdão por Hiroshima: deveria?
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Obama é o presidente americano mais “boa praça” desde Jimmy Carter. Parece sempre disposto a colocar os outros à frente dos próprios americanos, negar o caráter excepcional de sua nação na luta pela liberdade no mundo. Em recente visita a Hiroshima, o presidente americano lamentou as mortes, mas não pediu perdão. Alegou que compreende melhor a dificuldade de líderes em momentos de guerra, ao estar no comando do país por quase 8 anos.

A rede japonesa de TV NHK perguntou a Obama se a visita à cidade japonesa incluiria um pedido formal de perdão. Ele respondeu: “Não, porque creio que é importante reconhecer que no meio de uma guerra os líderes tomam todo tipo de decisões”. “O trabalho dos historiadores é colocar perguntas e analisá-las, mas eu, que estive nesta posição nos últimos sete anos e meio, sei que cada líder deve tomar decisões muito difíceis, particularmente durante uma guerra”, acrescentou.

Menos mal. Obama adota postura um pouco mais realista no final do mandato, frente à sua retórica um tanto infantil e sensacionalista que lhe rendeu um Prêmio Nobel da Paz antes mesmo de começar a autorizar bombardeios. Mas o romantismo típico da esquerda caviar continua lá: Obama disse que queria viver num mundo sem armas atômicas. E quem normal não gostaria? Resta, claro, combinar com os russos. E com os iranianos, os paquistaneses, o maluco da Coreia do Norte etc.

Ou seja, uma pessoa realista saberá que, dada a realidade do mundo, o melhor é que os países mais democráticos e livres possam se defender, e defender outros, como os americanos cansaram de fazer (perguntem aos coreanos do sul se gostariam de fazer parte de uma só nação sob o comando do norte). Abaixo, um texto meu antigo com um pouco do contexto das duas bombas atômicas, para quem gosta de atacar os EUA, destilando seu antiamericanismo, sem qualquer reflexão honesta:

A Insanidade de um Império

Quando falamos em Hiroshima e Nagasaki, é natural tomarmos o partido do lado perdedor, dos inocentes que tanto sofreram com as bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos no fim da Segunda Guerra Mundial. Mas, apesar de natural, será que é justo condenar somente os vizinhos do Norte por tamanha desgraça?

Por desinformação de alguns, costuma ser repetida a falácia de que tais bombas eram completamente desnecessárias, pois a rendição japonesa era iminente. Este artigo pretende resgatar certos fatos históricos para melhor iluminar um tema tão delicado, que mexe com profundas feridas. Não é meu objetivo, entretanto, justificar os alvos em si, repletos de civis inocentes, mas apenas destacar o contexto histórico dessa tragédia. Cada um que julgue por si próprio.

O grande alvo que motivou o Japão a partir para sua conquista imperial mundo afora, culminando na guerra, foi o petróleo. A escassez do produto preocupava os estrategistas japoneses, e para garantir a sua supremacia no oriente, alegava-se a necessidade da conquista de determinados pontos cruciais na produção e rota de escoamento do ouro negro.

A defesa de Manchúria era considerada estratégica pelo país, que temia as ameaças do comunismo russo e nacionalismo chinês. A Liga das Nações, entretanto, condenou o Japão pelas suas violentas ações na região, e tentou usar o embargo do petróleo como arma para forçar uma mudança no rumo dos eventos. Não surtiu efeito, e quando a China bombardeou uma estação naval japonesa, ambos entraram em guerra, em 1937.

O governo americano baniu a exportação de ferro e aço para o Japão, que assinou no dia seguinte o Pacto Tripartite, com Hitler e Mussolini. Depois disso, o Japão se lançou rumo à conquista asiática. Em 1942, a ilha já controlava vastos recursos do sudeste asiático, principalmente o petróleo.

A base militar americana que ficava na Califórnia foi transferida para Pearl Harbor, no Havaí. A marinha japonesa iniciou, então, um plano de ataque surpresa neste local. A cabeça por trás dos planos era Yamamoto, um comandante japonês que havia estudado em Harvard, porém um fervoroso nacionalista devotado ao imperador.

A “Operação Hawaii” iria culminar na maior humilhação americana de todos os tempos. No mesmo momento em que Pearl Harbor era severamente atacado, o Japão bombardeava a Tailândia, Filipinas e Cingapura. Estima-se em mais de 2 mil militares americanos mortos na noite do ataque, assim como 68 civis. Os Estados Unidos, até então uma nação dividida entre declarar ou não guerra, agora estava unida e em guerra. Os japoneses objetivavam abalar a moral da nação, mas o tiro saiu pela culatra.

Durante as batalhas, a frota de submarinos americanos iria ter papel fundamental na derrota japonesa. Os alvos principais eram os petroleiros, para cortar o suprimento de combustível japonês. O desespero do Japão foi tanto que a pressão interna levou o consumo de gasolina em 1944 para 257 mil barris apenas, ou 4% do volume consumido em 1940.

A batalha nas Filipinas, em Outubro de 1944, seria um importante marco na guerra, representando uma derrota devastadora para o Japão. Em um reflexo insano, o Japão iria introduzir uma nova arma na guerra, os kamikazes, pilotos suicidas que se explodiam em navios americanos. Em 1945, entretanto, os americanos já tinham recuperado Manila nas Filipinas, e o fim se aproximava para o sonho megalomaníaco japonês. Cidades japonesas estavam em ruínas.

Porém, a possibilidade de rendição estava longe de ser cogitada pelo império japonês, cujo slogan ainda era “100 milhões de pessoas unidas e prontas para morrer pela nação”. Não havia aparentemente nada nesse mundo capaz de levar o Japão a capitular. Para demonstrar tal espírito, a resistência japonesa à invasão americana de Okinawa foi totalmente fanática, com elevadíssimo índice de mortos em ambos os lados. Até mesmo crianças estavam sendo ordenadas a assassinarem americanos.

Extrapolando a experiência, os americanos estimaram em até 1 milhão de possíveis perdas de militares em outros ataques, fora milhões de civis. Tal batalha sangrenta contribuiu enormemente na decisão americana de usar sua mais nova arma, a bomba atômica. Mas os aliados ainda tentaram um acordo, que permitia até a retenção do imperador japonês no comando da nação. Tóquio não aceitou.

Em 6 de Agosto de 1945 a primeira bomba atômica explodiu em Hiroshima, seguida pela outra no dia 9 em Nagasaki. Inacreditavelmente, mesmo sob tais circunstâncias vários militares japoneses se recusavam a se render, sendo o suicídio a única alternativa oferecida aos seus subalternos. Na noite do dia 14 de Agosto, o imperador gravou uma mensagem de rendição, e soldados insurgentes ainda tentaram invadir o palácio para evitar a transmissão do seu conteúdo. Mas não obtiveram sucesso, e a guerra no Pacífico chegara ao fim.

Após o término da guerra, o Japão estava completamente devastado, com suas indústrias em ruínas e escassez generalizada de alimentos. A ocupação dos aliados, comandados pelos americanos, durou até 1952, e reformou por completo o país. Uma nova Constituição foi criada em 1947, retirando poderes do imperador, e o sufrágio universal foi introduzido, assim como outros direitos humanos garantidos. Era o começo de uma nova era, com muito mais liberdade para o povo, agora liberto da insanidade de um império, que custou a vida de milhões de inocentes.

O restante já sabemos. O Japão se tornou a segunda maior economia do mundo. A ocupação americana nunca almejou um domínio imperialista. Ao contrário: ela serviu para diluir o poder imperial que asfixiava a liberdade dos japoneses.

Rodrigo Constantino

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