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Oportunismo político marca reação a massacres nos Estados Unidos
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Foi um fim de semana sangrento nos Estados Unidos. Em um intervalo de poucas horas, dois ataques a tiros em diferentes regiões do país deixaram pelo menos 30 mortos e mais de 50 feridos. A violência reacendeu o debate sobre restringir o porte de armas e também suscitou críticas ao presidente Donald Trump, acusado de “incitar o ódio”. Não faltou insensibilidade para com as vítimas, tampouco oportunismo político em clima eleitoral. Os incidentes foram logo explorados para fins políticos, e com muitas mentiras.

Um dos atiradores deixou um manifesto contra imigração, especialmente de hispânicos. Era a senha para que os democratas culpassem o presidente Trump. Só um “detalhe”: o doido alimenta esse tipo de mentalidade desde antes de Trump se tornar presidente. No mais, seu manifesto é uma confusão ideológica: ele queria eliminar gente para “salvar o planeta”, uma bandeira mais próxima do ecoterrorismo de esquerda do que da direita.

Já o outro matou a própria irmã entre as demais vítimas, e se dizia um “satanista” de esquerda, que pretendia votar em Elizabeth Warren, a democrata “Pocahontas”. Essa parte não mereceu tanta atenção da mídia. Por que será? Talvez porque em nada ajude na narrativa de que é a retórica trumpista que vem produzindo esse tipo de massacre?

O presidente repudiou ambos os ataques e disse que não há lugar para o ódio na América. Beto O’Rourke, o democrata que perdeu o Senado para Ted Cruz justamente no Texas, local de um dos ataques, sentiu forte cheiro de sangue no ar e partiu para o ataque: acusou Trump de ser um “racista escancarado” e comparou sua retórica àquela do nazismo.

Beto pegou a fala do presidente sobre um grupo específico de imigrantes ilegais que pratica todo tipo de crime bárbaro para dar a entender que Trump se refere a todos os imigrantes dessa forma, como se fossem “animais”. A honestidade passou longe, e nunca foi o forte da esquerda.

O assunto de controle às armas também voltou ao debate, como de praxe. Até o presidente, em período de pré-campanha para reeleição, cedeu um pouco e disse que pode conversar sobre mais rigor na checagem de quem pode comprar rifles automáticos. É um debate legítimo, claro, mas oportunista: não são as armas que matam, e malucos niilistas que querem ficar “famosos” dessa forma sempre encontrarão um meio para matar. Vide os ataques com caminhões na Europa.

E eis o ponto essencial que fica de fora do debate: a doença mental num ambiente secular e materialista, desprovido de valor espiritual. O que une esses atiradores todos não é uma visão política ou ideológica de mundo. Tem de tudo. O que os une é o niilismo, a alienação, o desejo de “vingança”, o ódio pelo “outro”, não de uma raça específica, mas a todos os outros. É uma revolta contra a vida!

Num país em pleno emprego, próspero, esse tipo de reação chama ainda mais a atenção. O que leva esses jovens a tanto desespero existencial, a ponto de cometerem atos tão bárbaros? Falta sentido em suas vidas, propósito mais elevado. Eles se sentem descolados do restante, ridicularizados, estranhos. Não é culpa do bullying, não é culpa das redes sociais, não é culpa dos videogames violentos, não é culpa das armas disponíveis.

Cada fator pode dar sua contribuição, mas é um conjunto de coisas que torna o fenômeno complexo possível. É a “revanche dos nerds”, como no filme antigo, mas sem a menor graça. O tipo de perfil atraído por seitas fanáticas ou grupos terroristas é parecido: homens jovens, normalmente sem muitos amigos, do tipo caladão, tímido, introspectivo. E ele encontra nesses grupos ou no ato isolado de um massacre sua chance de chamar a atenção, de “ser alguém”, ainda que pelos piores motivos.

É por isso que cada vez mais veículo de imprensa se dá conta de que é um erro divulgar seus nomes, seus manifestos, pois isso é parte importante do que os motiva a executar esses atentados. A politização feita pela mídia mainstream, para poder condenar o presidente que odeia, em nada ajuda, além de ser desrespeito para com os familiares das vítimas.

Foi o prefeito de El Paso que deu a melhor resposta, diante da insistência do jornalista para avaliar o quadro político da coisa. Ele disse algo nessa linha: “Minha prioridade é cuidar das vítimas e suas famílias. Não é esse atentado que nos define. Existe mal nesse mundo e isso é uma pena”. Ou seja, o prefeito respeitou a dor dos parentes das vítimas, definiu suas prioridades, destacou o lado bom da cidade, e se recusou a fazer parte no jogo político oportunista diante das tragédias. Parabéns a ele!

Rodrigo Constantino

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