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Os inimigos são a melhor arma do candidato Bolsonaro; resta saber como seria o presidente
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Bolsonaro tem um grande trunfo nessa eleição: seus inimigos. Não falo apenas da imprensa, o maior cabo eleitoral do candidato, como já apontei antes. Falo dos “intelectuais” que há anos gozaram de plena hegemonia nos espaços midiáticos, e ficaram acostumados a mentir sem qualquer tipo de reação.

Um artigo publicado hoje na Folha pela professora de ciência política da USP, Maria Hermínia Tavares de Almeida, comprova bem isso. A pesquisadora do CEBRAP afirma que a extrema-direita saiu do armário e tem agora um nome com expressão eleitoral.

Acusar Bolsonaro de fascista virou lugar comum, e há certas posturas do núcleo do candidato que mais parecem com o velho integralismo fascistoide do que com o conservadorismo mesmo. Mas é a defesa que ela faz do establishment que torna a acusação tão sem sentido. Eis um trecho indefensável:

Por baixo da acirrada competição entre os blocos encabeçados pelo PSDB e o PT havia inegável convergência de valores democráticos e propósitos de progresso social, acelerado na primeira década do governo petista, mas longe ainda de produzir um país minimamente decente. 

Chamar o PT de defensor dos “valores democráticos” é uma piada de muito mau gosto, quando sabemos o que o “partido” quase fez com nossa democracia, seu apreço pelo regime venezuelano e pela ditadura cubana, seu desprezo por nossas instituições republicanas etc.

Se quem denuncia qualquer traço de autoritarismo em Bolsonaro é alguém que considera o PT um partido alinhado com os valores democráticos, então a acusação fica totalmente esvaziada, como um truque barato dos verdadeiros totalitários antidemocráticos.

Boa parte do sucesso de Bolsonaro nessa corrida eleitoral até agora se deve justamente a bater nesses inimigos, a assumir o papel de antipetista que não se curva diante dessa narrativa falsa que alivia a barra da quadrilha comunista. Ou seja, Bolsonaro rejeita a pusilanimidade tucana, e isso agrada.

Há, ainda, o símbolo em que ele se transformou na questão da segurança, ainda que repetindo propostas simplistas, mas certamente o candidato jamais teria tanta adesão sem esses ataques de quem defende o indefensável.

Uma crítica – ou dúvida – bem mais relevante diz respeito aos reais desafios na eventual gestão de Bolsonaro. Em vez de focar nisso, porém, a imensa maioria de jornalistas e “intelectuais” prefere “lacrar”, rotulando o candidato como extrema-direita e suavizando a verdadeira ameaça fascista, que vem do PT. Bruno Boghossian, na mesma Folha, tocou em pontos mais importantes:

Divergências no governo são comuns. Às vezes, a Fazenda quer fechar o cofre e a Casa Civil quer gastar dinheiro. Nessa hora, o presidente bate o martelo. No poder, Bolsonaro cederia sempre a Guedes ou toparia contrariar seu principal fiador?

Já se sabe em detalhes o que o líder das pesquisas pensa sobre questões raciais, de gênero e sobre o PT —assuntos que lhe renderam votos até agora. Mas Bolsonaro não estará em campanha para sempre.

“Não jogue responsabilidade em cima de um candidato à Presidência para essa quantidade de problemas que nós temos”, disse ao ser confrontado sobre a restrição de direitos trabalhistas no Jornal Nacional.

Ao terceirizar responsabilidades e fugir de desafios concretos, Bolsonaro só se mostra disposto a ser candidato, mas não presidente.

A estratégia de Bolsonaro até aqui é inteligente como candidato, e ele conta com a ajuda involuntária de seus detratores, que a cada ataque idiota rendem mais votos para o capitão. Já como isso se reverte de fato em uma boa gestão, no caso de vitória, é uma outra questão, completamente diferente.

O foco de todos deveria ser esse, mas infelizmente nossa intelligentsia só quer saber de alimentar a memória da Guerra Fria, como se o Muro de Berlim e a União Soviética ainda nem tivessem caído…

Rodrigo Constantino

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