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Há um “acordão” para asfixiar a Lava Jato, afinal? Cada vez temos mais indícios de que sim, de que há uma espécie de pacto para impedir os avanços no combate à corrupção no país. E a mais recente peça do quebra-cabeça foi o conhecimento de que tentam barrar a CPI da Lava Toga, com a ajuda do senador Flavio Bolsonaro.

O jornalista Mario Sabino, de O Antagonista, comentou: “Flávio Bolsonaro agindo para tirar assinaturas de senadores do pedido da CPI da Lava Toga, mas o acordão está só na nossa cabeça, diz o bolsonarista. Na boa, acho que está na sua, e é um par bem visível”.

O senador Alessandro Vieira, do Cidadania, que vem tentando instalar a CPI, acusou de forma bem direta: “Existe um acordão em Brasília e vão dificultar a instalação da #CPILavaToga ao máximo. Vários senadores estão recebendo todo tipo de pressão. Mas a pauta vai se impor. Tenho certeza de que vamos conseguir instalar a CPI e o seu apoio é fundamental!”

Gil Castelo Branco, em artigo no GLOBO hoje, elenca os vários indícios desse pacto contra a Lava Jato, lembrando que em política não há coincidências, mas sim consequências. Ele refuta também o argumento de que é o combate à corrupção que trava a economia e impede um crescimento mais acelerado:

Ao contrário da tese preferida por nove entre cada dez investigados, o combate à corrupção não é a causa do marasmo econômico. O Brasil ocupa o 105º lugar dentre 180 países avaliados no Índice de Percepção da Corrupção, da Transparência Internacional, o que assusta investidores. Estima-se que a corrupção atinja de 1,4% a 2,3% do PIB brasileiro, cerca de R$ 150 bilhões anuais, valor igual ao orçamento do Ministério da Educação para este ano. O cartel que atuava na Petrobras é considerado um dos maiores escândalos de corrupção do mundo, em todos os tempos. Integrar o cartel, fraudar licitações e comprar medidas provisórias era mais rentável do que qualquer investimento.

Ele conclui: “Tudo o que está acontecendo, quase simultaneamente, faz lembrar a frase de Tancredo: “Na política não há coincidências”. Mas há consequências. O país não irá sair do buraco por meio de um pacto pela impunidade. No Brasil de hoje, no que diz respeito ao combate à corrupção, os cidadãos têm medo do futuro. Alguns políticos têm medo do passado”.

E, de fato, os velhos caciques da política têm total interesse em fazer um acordão e melar a Lava Jato. Afinal, em nova fase, na operação “Galeria”, o ex-ministro Edson Lobão e seu filho foram presos, acusados de receberem R$ 50 milhões em propinas ligadas a Transpetro e à usina Belo Monte, aquela que Lula “fiscalizaria”.

A roubalheira na era petista foi realmente um espanto! E seria lamentável, ou melhor, inaceitável reduzir o ritmo de investigações e punições aos corruptos. A honestidade foi uma das bandeiras mais importantes na campanha de Bolsonaro. Se, por conta de uma “rachadinha” de gabinete, o Brasil ver a Lava Jato se enfraquecer, isso terá efeitos importantes na política. O lavajatismo é mais forte do que o bolsonarismo, não canso de repetir.

Entendo a angústia de quem olha para essa brilhante equipe econômica, essa pauta virtuosa reformista, esse esforço em desfazer anos de trapalhadas e esquemas, e teme que tudo isso seja perdido por conta de bobagens ditas pelo presidente e seus filhos no Twitter ou por sujeira eventual de um deles num esquema típico de baixo clero.

Foi o desabafo de Guilherme Fiuza, por exemplo: “Moro, Guedes, Mansueto, Marinho, Mattar, Uebel, Tarcísio & cia ralando 7 dias por semana p/ executar o melhor plano de desenvolvimento das últimas décadas e essa orquestra de tarados pelo fascismo imaginário cornetando 24h por dia. Não é fácil tirar o Brasil da miséria espiritual”.

É, de fato, uma baita equipe, com uma agenda ótima. Mas o problema não é o “fascismo imaginário”, como diz meu colega de jornal, e sim o gradual afastamento de Bolsonaro da Lava Jato. A economia é crucial, mas o combate à corrupção também. E o povo não vai aceitar calado um pacto contra a Lava Jato.

Quem tem ajudado a boicotar essa brilhante equipe, portanto, é o próprio bolsonarismo. Claro que os velhos sócios do PT se aproveitam desse clima, e há também o risco de uma reação do establishment contra o governo. Vimos algo semelhante com Trump aqui nos Estados Unidos, e o caso das investigações sobre suposto conluio com os russos ilustra bem a tentativa de boicote ao seu governo.

O ministro Sergio Moro determinou imediata abertura de investigação para identificar os responsáveis pela inclusão fraudulenta do nome do deputado Hélio Negão em denúncia de crime previdenciário, com o objetivo de indispor o governo contra a Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Seria algo dessa natureza no Brasil? O Antagonista conclui: “O petismo ainda está incrustado na máquina pública e não desistirá de sabotar o governo”.

Admitindo que há, então, esse esforço dos idólatras do fracasso de sempre contra o governo, não podemos ignorar que o próprio Bolsonaro pode ter se aproximado dessa turma, para proteger seus filhos. Há sinais inquietantes, e isso é o que tem gerado perda de apoio e popularidade. Os brasileiros não vão tolerar qualquer tipo de acordão para dificultar os trabalhos da Lava Jato. Isso é certo.

Rodrigo Constantino

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