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Jessé de Souza. Fonte: VALOR
Jessé de Souza. Fonte: VALOR| Foto:

Em entrevista ao jornal VALOR, o presidente do Ipea, Jessé de Souza, sociólogo, enaltece o estado e parece viver numa bolha ideológica, totalmente afastada da realidade. São várias pérolas, como essas aqui:

Outro tema importante é o das capacidades estatais. Como a gente pode tornar o Estado ainda mais eficiente e ágil.

Ainda mais? Ou seja, nosso estado, que arrecada 40% do PIB em impostos, é realmente muito eficiente e ágil, não é mesmo? Quem usa serviços públicos como saúde, transporte e educação sabe bem disso, não é verdade? Sem falar de segurança…

Se pensarmos a história do Brasil no século XX temos o uso do Estado e de seus recursos para beneficiar a maioria da população brasileira, especialmente as classes populares e trabalhadoras, antes de tudo com Getulio Vargas e 60 anos depois com Lula. Houve também Jango que tinha série de questões importantes, mas não houve tempo para que ele pudesse colocar em prática a sua agenda. Pelo contrário: o golpe efetuou um corte muito óbvio nesse tipo de preocupação e o Brasil que passa a ser construído depois do golpe é o Brasil para 20% [da população]. Monta-se uma classe média de padrão americano e europeu, mas para 20%. O Brasil foi um país que teve taxas de crescimento econômico das maiores do mundo do século XX, mas com mudanças que não foram significativas no padrão de desigualdade. Isso comprova que o desenvolvimento econômico per se não é distribuidor, não é fator de justiça social. O fator de justiça social é, antes de tudo, a vontade política, e foi isso que aconteceu nos últimos 15 anos. A questão mais importante do Brasil é a desigualdade. É o que separa o Brasil de todos os países que mais admiramos. E foi uma inflexão importante quando dezenas de milhões de pessoas conseguiram melhorar seu salário, aumentar seu poder de compra, ter acesso a empregos formais. Não conheço uma mudança mais importante para o Brasil nos últimos 50 anos.

Que espanto! Esqueça crescimento econômico: o foco deve ser desigualdade, e só o estado pode cuidar disso. Detalhe irrelevante: Brasília é o maior instrumento de concentração de riqueza que existe, basta ver a renda per capita e o que é produzido lá. O BNDES é um dos maiores instrumentos de transferência de riqueza da “ralé” para os “amigos do rei”, e isso feito com esmero pelo PT socialista. O sociólogo parece feliz com as “conquistas” dos últimos anos: inflação de 10%, queda da atividade de 3% e desemprego crescente. U-hu!

A classe média é uma classe privilegiada desde o nascimento e tem muito mais oportunidades de educação e reprodução destes privilégios.

Viram só? Vocês aí, da classe média, que pagam 40% de imposto e precisam pagar tudo dobrado depois, pois os serviços públicos são umas porcarias (perdão, poderiam ser “ainda” mais eficientes e ágeis), vocês são uns privilegiados! É o que diz o sociólogo que preside o Ipea, entidade respeitável até “ontem”, quando Marcio Pochmann começou o estrago ideológico.

Acho que a questão da ética na política não se refere apenas a alguns partidos e alguns políticos. É uma questão extremamente difícil em todos os lugares. O Brasil tem ganhos importantes na tentativa de tornar isso cada vez mais transparente, o que não acontecia antes. O ganho principal nessa questão é exatamente o aumento da transparência dos negócios públicos. Ninguém está pondo nada debaixo do tapete.

E lá vamos nós com a ladainha de que “sempre foi assim” para justificar a roubalheira jamais vista antes pelo país. O PT saiu do “nunca antes nesse país” para o “sempre antes nesse país”, tentando ser “apenas” tão ruim quanto o PMDB. E a cara de pau deles é tanta que ainda repetem que hoje se investiga mais, como se fosse mérito do governo, e não a despeito dele, o maior envolvido em escândalos.

Já dissequei um pouco o atual presidente do Ipea assim que ele foi apontado para o cargo, em artigo no antigo blog da VEJA. Eis aqui:

Está estampada a manchete na capa do jornal: “Renda tem maior queda em 10 anos”. O rendimento médio real habitual do trabalhador ficou em R$ 2.163,20, em fevereiro deste ano, uma queda de 0,5% em relação a fevereiro do ano passado. Essa é a primeira queda anual do rendimento desde outubro de 2011 (-0,3%) e a maior queda desde maio de 2005 (-0,7%). Os dados são da Pesquisa Mensal de Emprego (PME).

“Há muito tempo não há uma retração do rendimento. Nesses dois últimos meses, a gente vê o aumento do indicador da inflação. Houve de fato uma retração em função da inflação, para rendimentos em termos reais”, disse a pesquisadora do IBGE, Adriana Beringuy.

A queda também pode ser explicada por redução dos postos de trabalho em setores que pagam mais, como a indústria, que teve recuo de 7,1% no contingente de desocupados entre fevereiro deste ano e o mesmo período do ano passado. O rendimento também teve queda, de 1,4%, na comparação com o mês de janeiro.

O que estamos vendo é o começo do declínio da tal “nova classe média”, que o governo anunciou com muito alarde – e tortura estatística. O desemprego está aumentando, a economia deve se retrair esse ano em 1% ou mais, e a inflação provavelmente terminará 2015 acima de 8%. Será que podemos afirmar que se trata do fim da classe média e do surgimento da “ralé”?

O leitor acha que sou insensível por usar esse termo? Talvez. Mas calma que explico. Não é exatamente um termo meu. Há um pesquisador que divide o país exatamente nessas “classes”: a ralé, os batalhadores e os ricos. É o autor de um estudo sobre a tal “ralé brasileira” e como ela vive. Pensa o leitor que se trata de algum “neoliberal” qualquer? Nada disso. Seu nome é Jessé Souza, e não tem nada de liberal.

Nunca ouviu falar? Pois é, mas os petistas sim, a presidente Dilma sim. Afinal, o homem se tornou nada menos do que o novo presidente do Ipea, aquele órgão de pesquisa aplicada que outrora gozou de grande respeito, e que desde a chegada do PT no poder virou sinônimo de piada de mau gosto, de “pesquisas” com claro viés ideológico e partidário.

Logo na epígrafe deste trabalho, o autor cita uma frase de Celso Furtado, guru das esquerdas, em uma entrevista para a “Caros Amigos”, aquela revista que de tão caricata serve apenas para rir. A frase: “A doença grave do Brasil é social, não econômica”. E é com base nesse diagnóstico que tantos “economistas” (ou antropólogos e sociólogos) ignoram tudo aquilo que faria a economia de fato crescer e, com isso, reduzir a miséria social. Basta “vontade política” para distribuir a riqueza e tudo ficará bem, na cabeça dessa gente…

Na introdução, Jessé já mostra a que veio: “Na verdade, a força do liberalismo economicista, hoje dominante entre nós, só se tornou possível pela construção de uma falsa oposição entre mercado como reino paradisíaco de todas as virtudes e o Estado identificado com a corrupção e o privilégio”. Liberalismo “economicista” dominante entre nós? Em que mundo ele vive? Mercado como “reino paradisíaco”, no Brasil? Vemos na largada que a honestidade intelectual não é seu forte, e que o intuito é apenas vender sua ideologia estatólatra, infelizmente já bastante disseminada no país.

Mas não é esse meu ponto principal aqui. Jessé chama o andar de baixo de “ralé”, e se coloca como uma espécie de porta-voz desses desvalidos. Só de usar esse termo, um economista liberal já seria tachado dos mais chulos adjetivos. Ironia das ironias, o sujeito acusa o outro lado de “simplista”, mas divide a sociedade em ralé, batalhadores e ricos. Em qual “classe” está o leitor?

Nessa entrevista ao ator Lázaro Ramos, Jessé deixa claro que essa coisa de mérito não existe, que o resultado é fruto da classe de largada. Seria muito perguntar como, dentro das mesmas famílias, há resultados tão distintos? Ou então como, especialmente nos países mais liberais, tanta gente sai da pobreza e chega ao sucesso? Detalhe, detalhe. Marxistas, disfarçados ou não, traem seu desejo de atacar os ricos, mascarando-o de “busca pela justiça social”. Jessé quer ajudar os “invisíveis”, e para isso precisa tirar dos “ricos”.

Pior: para Jessé, a corrupção não tem nada a ver com excesso de estado, mas sim com desregulamentação. Ou seja, se aumentarmos a burocracia e o poder estatal, teremos menos corrupção! Vai ver por isso a União Soviética era tão pouco corrupta… Vai ver por isso o petrolão ocorreu na Vale privatizada, e não na Petrobras estatal… Ops!

A escolha do presidente do Ipea é do ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos. No caso, Mangabeira Unger, aquele que cuspia no governo do PT como um dos mais corruptos e logo depois embarcou no time sem mais nem menos, mostrando como é capaz de mudar de ideia da noite para o dia, graças, claro, a fortes argumentos persuasivos. Não dá para cobrar coerência dessa turma.

Tudo que escrevi acima seria desnecessário, bastando revelar ao leitor uma só informação: o Brasil 171 adorou a escolha! Acha que Mangabeira “marcou um golaço”. Por aí o leitor já pode ver o que nos espera. Será que teremos saudades de Marcio Pochmann? Não custa lembrar que foi em sua gestão que a decadência do Ipea começou, e logo depois o economista mostrou sua verdadeira cor, ao se candidatar como político pelo PT.

Infelizmente, o estrago institucional causado pela passagem do PT pelo poder – espera-se que perto do fim – é enorme e levará muito tempo até ser revertido. O PT aparelhou toda a máquina estatal com seus pelegos e militantes, avançou sobre os diferentes órgãos como se fossem braços partidários, destruiu a credibilidade de inúmeras entidades importantes. O critério de escolha nunca é técnico, mas sempre ideológico.

E, no processo, inventou uma “nova classe média”, que agora poderá ser estudada e analisada com esmero pelo Ipea, como a nova ralé brasileira!

Rodrigo Constantino

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