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Pondé e a tradição
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Em sua coluna de hoje, o filósofo Luiz Felipe Pondé fala das tradições, e dessa mania moderna de confundi-las com qualquer porcaria de autoajuda embalada para engambelar a esquerda caviar. Segundo ele, a “modernidade é uma declaração de guerra à ideia de tradição”. Ainda que muitos busquem por aí coisas que pareçam “tradicionais”, adaptadas ao mundo moderno. Diz Pondé, provocando essa gente:

Não existe xamã na Vila Madalena. A cabala não vai salvar meu casamento. Meditação não fará de mim uma pessoa melhor no trabalho. Imitar a alimentação de monges tibetanos não aliviará minha inveja. Frequentar cachoeiras indígenas não fará de mim uma pessoa menos consumista. Tatuar palavras védicas não me impedirá de fazer qualquer negócio pra viver mais.

Visitar templos no Vietnã não fará de mim alguém menos dependente das redes sociais. Desejar isso fará de mim apenas ridículo.

Tradição não é algo que se escolhe, é algo que existe e influencia o presente com seus costumes enraizados, os hábitos que passam de geração em geração, o estoque de conhecimento acumulado, os mitos históricos, a moral. Nas palavras do filósofo, “Uma tradição funciona sempre contra sua vontade, à revelia de sua consciência, submetendo-a ao imperativo que escapa à razão mais imediata”.

Para os moderninhos da esquerda caviar, respeitar tradições de verdade é algo ultrapassado, coisa de careta reacionário. A não ser que sejam “tradições” exóticas, indígenas, budistas, tudo reformado para não dar trabalho demais, ser consumido apenas nas horas vagas. Com ácida ironia, Pondé cutuca:

Tradição funciona como hábitos que se impõem com a força de um vulcão, de um terremoto, de um tsunami, de uma febre amarela. Nada tem a ver com se pintar como aborígenes pra defender reservas indígenas ou abraçar árvores.

Evolução espiritual é um dos top em quem quer “adquirir” uma tradição. Mas esta nada tem a ver com “buscar” uma evolução espiritual como forma de fugir de filhos que têm febre ou compromissos afetivos. A evolução espiritual verdadeira é algo que nos acomete como uma disciplina aterrorizante.

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