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Jessé Souza. Fonte: GLOBO
Jessé Souza. Fonte: GLOBO| Foto:

Jessé Souza é aquele sociólogo que dividiu o Brasil entre as “classes” de batalhadores, ricos e ralé, e acabou sendo presidente do Ipea na era lulopetista. Ele está de volta com novo livro em que defende que a desigualdade é um problema bem maior do que a corrupção, tudo para justificar a ladainha petista de que o “ódio” ao partido é coisa de elite incomodada com a ascensão da “ralé” (e ai de alguém da elite não-vermelha que usar esse termo!). Em entrevista ao GLOBO, o sociólogo disse:

É muito problemático quando há uma colonização do interesse da política, como ocorre aqui, um culturalismo conservador que idealiza os Estados Unidos e cria uma imagem negativa do Brasil. É a tolice da inteligência, dos nossos grandes pensadores, dos especialistas, que estão engolindo uma concepção de inferioridade do brasileiro, supondo que existem sociedades perfeitas, onde não há corrupção.

Ora, quem defende sociedade perfeita? Reparem que Jessé cria um espantalho para poder defender o indefensável, o Brasil de hoje. Ninguém precisa ser um “colonizado” para reconhecer que os Estados Unidos mais conservadores possuem uma qualidade de vida bem melhor, mais prosperidade, mais segurança, mais… civilização. O complexo de vira-latas de quem se sente inferior vem justamente de quem se nega a enxergar o óbvio em nome de um ufanismo boboca. Ele continua:

A questão não é o Estado ser ou não corrupto. Claro que é bom que não seja, é importante que seja transparente e não seja corrupto. Mas essa é a meia verdade, porque nem de longe é a questão principal. Todos os Estados do mundo são aprisionados por interesses privados. Nos EUA, o Estado é extremamente privatizado, segue os interesses das grandes empresas, o Exército americano mata muita gente no mundo para proteger interesses de empresas. O Estado é sempre privatizado. A questão é: por quem? Ou ele é privatizado por uma minoria ou é posto a serviço da maioria. Quase nunca no Brasil o Estado foi posto a serviço da maioria. Eu me lembro de dois momentos históricos, no governo de Getúlio Vargas e no período Lula-Dilma, quando os recursos foram usados também para promover a ascensão das classes populares.

Deixando de lado a parte de o estado ser sempre uma “cosa nostra” e jamais uma “res pública”, o que é relativismo tosco quando se compara a Suíça com a Venezuela, Jessé deve achar mesmo que as pessoas ainda vão acreditar na narrativa de que o PT populista tomou o estado de assalto “pelo povo”. Que piada! Então o estado chavista também era pelo povo? Quem ainda consegue repetir a baboseira de que o PT fez o “mensalão” e o “petrolão” para beneficiar os mais pobres? Ah, um presidente do Ipea…

Num contexto, onde começa a ter escassez, é aquela história: “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Então todos os setores que sabem que não têm como dar benefícios para todos querem voltar ao velho esquema do Estado privatizado pelo interesse de uma minoria. E conseguem isso demonizando o Estado. Foi assim na época de Getúlio Vargas, na época de João Goulart e na época de Lula e Dilma. Isso é fato.

O fato é que muita gente sem honestidade insiste num discurso em prol do estado controlador e centralizador pois deseja apenas mamar em suas tetas depois, à custa da população trabalhadora e pagadora de impostos. Os que estão com medo da perda das boquinhas, do pirão, são justamente os alinhados ao lulopetismo. Qual a reação desse pânico? Atacar os demais diante de um espelho.

Ou seja, se você quer a redução do estado, só pode ser porque você quer mais estado para você mesmo, entendeu? Se Jessé não for presidente do Ipea, vai ser o quê? Um sociólogo a mais que terá de viver da venda de livros sobre a “ralé”? Essa turma odeia o mercado pois nele precisa se sustentar pela escolha do consumidor. Já no modelo de estado inchado eles podem se pendurar nas tetas do estado, receber bons salários, e viver de falar besteiras por aí, impunemente…

Tem uma tentativa óbvia de golpe que articula os mesmos elementos de todos os golpes anteriores. Esse nível de corrupção só pode ser mostrado agora, porque antes todas as investigações eram engavetadas e agora as coisas são levadas até o fim. Mas isso está sendo usado, numa dramatização, para o enfraquecimento do Estado, porque, numa sociedade conservadora como a nossa, qualquer ajuda efetiva para as classes populares é vista como um crime pela elite.

E lá vamos nós naquela rota patética de repetir que sempre houve essa corrupção, mas que hoje ela é exposta… Jessé chama de golpistas os milhões de brasileiros que desejam punir os corruptos do PT em nome da lei. Para ele, essa deve ser a tal “ralé”, enquanto ele faz parte da elite inteligente, a que defende o PT corrupto em nome da perpétua corrupção. Algo como um estuprador se defender alegando que não inventou o estupro…

E nossa classe média tem uma parte que é extremamente conservadora e não gostou da ascensão da classe popular, não gostou de o pessoal estar andando de avião, da meninada da periferia ir ao shopping. Isso não é racional, tem a ver com afeto, com o medo de que as pessoas que estão ascendendo tomem seu lugar, seus cargos, medo que seus privilégios sejam tocados. Quantas pessoas reclamam porque a empregada doméstica tem alguns poucos direitos e não podem mais usá-la como escrava?

Aqui o grau de canalhice chega mesmo ao extremo, alcança o patamar Lula. A classe média conservadora não liga para corrupção, e sim para o pobre que hoje pode andar de avião. Ops! Com o dólar a R$ 4,00, pode mesmo? Até quando essa gente vai conseguir sustentar esse discurso ridículo enquanto a pobreza aumenta pelo país todo? E isso veio do presidente do Ipea, entidade que outrora foi séria e cuidava justamente de estatísticas econômicas interessantes…

A entrevista tem vários outros absurdos, mas confesso ao leitor que não consegui ir adiante na análise ponto a ponto, pois fiquei com o estômago embrulhado. Que o PT tenha feito tudo de ruim que fez com o Brasil, isso já é por demais insuportável. Mas que esses petistas tenham a cara de pau e o cinismo de ainda insistir nesse discurso de luta de classes e de que os corruptos petistas lutam pelo povo e são odiados pela classe média e as elites por isso, aí já não dá mais para aguentar. Nem com calmante!

Rodrigo Constantino

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