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Protestos na França contra reforma trabalhista deixam 40 feridos: onde está a Thatcher francesa?
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O protesto contra a reforma trabalhista promovida pelo governo francês deixou 40 feridos, entre eles 29 policiais, em Paris nesta terça-feira. O confronto entre manifestantes encapuzados e policiais também resultou na prisão de 58 pessoas.

Os manifestantes atiraram pedras, queimaram lixeiras e depredaram lojas, um hospital e a sede de um ministério. A polícia reagiu com jatos d’água para conter a multidão. Os agentes também usaram gás lacrimogêneo contra os manifestantes, que responderam com projéteis, aos gritos de “Paris, de pé, levanta!” e “Todo mundo odeia a polícia”.

A Torre Eiffel foi fechada nesta terça por uma greve de funcionários e, após duas semanas de protestos, 7,3% dos funcionários ferroviários (com adesão de pelo menos um terço dos maquinistas) estão parados. Há mais greves e manifestações previstas para os dias 23 e 28 de junho.

Desde 9 de março, já houve centenas de feridos em conflitos nas manifestações. As autoridades proibiram cerca de 130 pessoas detidas em protestos anteriores de se manifestar.

Liderados pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), os sindicatos esperam mobilizar milhares de pessoas para reafirmar sua oposição à reforma do Executivo, algo inédito contra um governo socialista desde 1981, na presidência de François Mitterrand. Segundo a CGT, uma das três centrais que convocaram os protestos, 1,3 milhão de pessoas se mobilizaram em toda a França. Já a polícia falou em 125.000 indo às ruas no país.

A esquerda experimenta do seu próprio veneno. Hollande, o presidente socialista, chegou ao poder com discurso populista. Uma vez lá, e após várias barbeiragens, como o imposto progressivo de até 75% sobre altas rendas, viu-se na necessidade de adotar reformas tidas como liberais. Num país dominado pela mentalidade esquerdista, isso é bastante complicado.

As reformas trabalhistas propostas são tímidas, visam a facilitar a contratação e a demissão, dar mais flexibilidade ao mercado de trabalho, dominado por sindicatos (soa familiar?). O desemprego atinge em cheio os mais pobres, os mais jovens e os imigrantes. Os sindicatos, que lutam desesperadamente contra as mudanças, querem proteger os seus trabalhos, à custa dos demais. O economista francês Guy Sorman explica bem os entraves da rigidez das leis trabalhistas em seus livros.

A violência é a marca registrada desses movimentos retrógrados. Não é exclusividade francesa. Foi assim na Inglaterra antes do governo Thatcher também. O país era dominado por máfias sindicais, que até atentado terrorista praticaram. Suas greves paralisavam o país todo, sempre com violência ou ameaça de violência contra os trabalhadores que se recusaram a aderir. Tática revolucionária de comunista-sindicalista, como conhecemos tão bem.

Mas Thatcher falava outra língua, era feita de outro material. Não era como o bobão Hollande. Não estava agindo contra suas convicções, contra seus discursos históricos, como faz o socialista Hollande. Thatcher era corajosa, liberal, defensora do livre mercado, e enfrentou com determinação as máfias sindicais. O país deslanchou em relação ao vizinho francês, na época dominado pelo também socialista François Mitterrand.

Justiça seja feita, o próprio Mitterrand percebeu quase a tempo seus equívocos estatizantes e, apesar de socialista, promoveu reformas liberalizantes, como explico em Privatize Já. Colheu resultados satisfatórios, aquém dos ingleses, mas ao menos impediu o pior. Hollande sinaliza o mesmo despertar agora, tentando avançar com reformas necessárias, inclusive com o uso da polícia (sim, pois muitas vezes isso é mais caso de polícia do que de política). Vai conseguir?

Não sabemos ainda. Parece muito pouco, muito tarde. A França é vítima de sua mentalidade estatizante, passa por um processo de decadência, ainda que com elegância (cada vez menos). Para dar uma guinada mesmo, para impedir uma desgraça total, a França necessita de sua Thatcher. Onde estará a liderança capaz de realizar as mudanças de que a economia francesa tanto precisa?

Rodrigo Constantino 

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