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Quarta-feira de cinzas
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Quarta-feira, dia 14 de fevereiro. Carnaval chega ao fim, é Valentine’s Day. Levo minha filha ao ponto de ônibus às 6:30, como de praxe, e vejo um adolescente carregando flores para a escola. Vai surpreender a namorada. É fofo. Imaginei os amigos tentando o sacanear, e minha filha disse que era americano, certamente, pois se fosse brasileiro estava frito mesmo. A pressão do bloco dos solteiros e inseguros é grande nessas horas.

Vários casais, jovens ou não, programaram seus dias românticos. Mas o clima azedou. Na parte da tarde, um latino chamado Nikolas Cruz resolveu abrir fogo com uma AR-15 numa high school de Parkland, aqui pertinho, uma cidade ainda mais pacata do que Weston, e ambas entre as mais seguras do país. Ironia do destino, eu tinha publicado no dia anterior uma reportagem sobre isso, que citava justamente as duas cidadezinhas do condado de Broward.

As informações começaram a chegar, e a tristeza a aumentar. Quase vinte mortos! Vários feridos em estado grave. Especulações sobre os motivos tomaram conta dos debates, em meio ao desespero de se imaginar parte disso. O filho de um amigo meu estuda lá, estava na sala ao lado quando o maluco abriu fogo. Pânico total. O monstro acabou com a vida de jovens promissores, de seus familiares, e ferrou com o dia de todos. Conseguiu o destaque que queria, chamou a atenção do mundo, para sair de sua miséria existencial.

Trata-se de um obcecado por armas, que tinha comentários sobre a expressão “Alluh Akbar” em sua rede social, a mesma usada pelos terroristas islâmicos quando matam suas vítimas, gritando que Alá é maior. Há também uma foto supostamente dele vestindo uma camiseta comunista, e fazendo o punho cerrado, símbolo internacional do comunismo. Louco! Comentei em desabafo ainda ontem:

É hora de orar pelas vítimas e seus familiares, mas confesso que é dureza aturar o oportunismo da esquerda alimentado pelo pânico compreensível de muitos, que querem um bode expiatório, que precisam de um culpado, de uma explicação e uma solução simplistas. Malucos matam por vários motivos, mas normalmente são homens, jovens, numa idade delicada de autoafirmação. Reduzir isso ao acesso às armas é bobagem. Esse tal de Nikolas Cruz era garoto problema, expulso de várias escolas, sem pais, abandonado. Ao que tudo indica, mais um jovem problemático, sem estrutura familiar, niilista, seduzido por uma ideologia totalitária e por uma seita fanática. Vamos mesmo culpar a lei de acesso às armas?!

Voltar todo o debate para a questão das armas é bobagem, e é fazer o jogo da esquerda, que tem uma pauta de poder. Toda medida desarmamentista teve o intuito de enfraquecer a população e fortalecer o estado, historicamente falando. Hitler e Chávez que o digam. Dito isso, claro que é legítimo discutir onde traçar a linha, que tipos de armas cada um pode ter, quem pode compra-las etc. Mas é preciso tomar cuidado com o oportunismo de alguns. Na Suíça e em Israel quase todos possuem fuzis em casa, e nem por isso há tragédias frequentes.

E é bom lembrar que, diante do Mal, não há explicação fácil, muito menos solução simples. Vamos falar da destruição das famílias também? Da perda de valores morais, de propósito, de sentido na vida desses jovens? Vamos falar das ideologias totalitárias que seduzem esses rapazes desiludidos e alienados? E do politicamente correto, da geração “flocos de neve”, que não tolera mais uma “ofensa” sequer, que não aprende a conviver com frustrações e contratempos, pois tem seus “locais seguros”? Podemos falar da hipercompetitividade também, do materialismo excessivo, do individualismo exagerado.

São muitos temas correlatos, mas é hora de simplesmente chorar pelas vítimas e seus familiares. E aí volto minha atenção para o Rio, minha cidade natal. Melhor voltar? Não por isso. É uma cidade bem mais perigosa, claro. A estatística não mente. E além de arrastões, assassinatos e muita violência e porcaria, ainda veio um temporal daqueles para deixar um rastro de destruição. Atingiu inclusive a ciclovia Tim Maia, que caiu novamente. Bernardo Santoro, ex-presidente do Instituto Liberal, comentou:

Mesmo sabendo que uma coisa não tem nada a ver com a outra, parece perfeito ver o Rio se acabando em uma enchente após o carnaval mais esquerdista, violento e caótico da nossa história. É como se Deus chorasse sobre a cidade “maravilhosa”.

Uma metáfora adequada. Cristo, de braços abertos, olha espantado para o resultado de sua bela criação. Uma cidade tomada pelo caos, pela esquerdopatia dos hipócritas, que usam as escolas de samba para ridicularizar os patriotas que lutaram pelo impeachment do governo mais corrupto e incompetente de nossa história, e pela violência. No Brasil, aliás, a restrição de venda de armas é quase total, uma das mais rigorosas do mundo. E olha aí o resultado!

Que os americanos levem isso em conta na hora de refletir sobre o que fazer para reduzir a incidência de atentados em escolas. Bandido nunca foi parado pela simples existência de uma lei, justamente porque está à margem dela. Mas será coincidência a maioria desses atentados ocorrer em “gun-free zones”, em locais onde é proibido ter arma? Se um professor da escola estivesse armado, será que o maluco teria matado quase vinte?

Difícil dizer, mas lembremos do outro maluco, que escolheu um cinema mais longe de sua casa para sua chacina justamente porque lá era proibido entrar armado. Ele sabia que suas vítimas estariam desprotegidas como cordeirinhos desamparados. Num bar no Texas é mais raro esse tipo de coisa. São loucos, não burros!

E podemos acrescentar a questão antimanicomial ao debate também. A esquerda foucaultiana fez de tudo para impedir a internação de malucos, ou a própria definição de loucura. Eles acabaram com o conceito de normalidade, com seu relativismo exacerbado. E os malucos ficaram todos soltos. E os malucos tomaram o poder, trancaram os normais e jogaram as chaves fora. Se você aponta para a insanidade reinante no mundo pós-moderno, você é o louco, o preconceituoso, o reacionário perigoso!

Enfim, uma quarta-feira de cinzas, lúgubre, pesada, que serviu para nos lembrar justamente de nossas fragilidades, de que viemos todos do pó, e a ele retornaremos. Mas amanhã há de ser outro dia! Apesar de tudo isso, do Mal sem explicação lógica, do caos, da loucura, vale a pena apostar na vida.

Diria que temos até a obrigação, o dever moral de viver da melhor forma que pudermos, de nos esforçarmos para sermos pessoas melhores, trazer um pouco mais de ordem ao mundo, em respeito aos que tiveram seus sonhos interrompidos de maneira tão banal e cruel. Diga não ao niilismo! Leandro Ruschel comentou após a desgraça:

Por acaso, nesse final de semana eu finalizei a leitura dos cadernos de Eric Harris, um dos atiradores de Columbine. O que move esse tipo de pessoa não é apenas o ódio contra si mesmo e pessoas próximas. É o ódio contra a própria existência humana, a última fase do niilismo.

Quinta-feira, dia 15. Levei a filha ao ponto de ônibus. A garotada toda lá, indo para mais um dia de escola, de rotina. Semblantes mais abatidos, mas faz parte. É a vida. Ela continua. E ela, apesar de tudo, é uma dádiva!

Rodrigo Constantino

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