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Recado ao pessoal da “direita jacobina”: uma guerra se vence batalha a batalha
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O Brasil, mergulhado numa baita crise causada pelo PT, entra em desespero, e muitos passam então a flertar com “maluquices”, como disse o general Villas Boas. A postura revolucionária de “tudo ou nada” passa a seduzir várias pessoas mais à “direita”, e não faltam lideranças, agitadores, para tirar uma casquinha do fenômeno, jogar lenha na fogueira e ver o circo pegar fogo, na tese de quanto pior, melhor. Querem derrubar o “sistema”, colocar todo o “estamento burocrático” de joelhos. Para fins tão nobres, quaisquer meios estão valendo.

A reação às críticas costuma ser violenta: xingamentos, acusação de ter se vendido, de ser um idiota que acredita em nossa “democracia” e nas urnas eletrônicas. Não dá para negar que nossas instituições são frágeis mesmo, mas a saída não pode ser subverte-las por completo, como se algo maravilhoso fosse ser parido ab ovoex-nihilo. Tal mentalidade, típica de revolucionários utópicos, não combina nada com o conservadorismo.

Em meio a tantos ataques após me posicionar contra essa “ala jacobina” da “direita”, o que já esperava, algo me chamou a atenção: a turma, crescente, está mesmo num grau de pânico e descrença que, somados à ignorância, cria um cenário perfeito para o estouro da boiada. Os gurus querem, inclusive, “organizar as massas”, coordenar as vacas que, juntas, são mais fortes do que o urso, mas deixadas à própria natureza, acabam se dispersando.

São candidatos a “engenheiros sociais”, que se consideram os “ungidos” que vão “organizar o povo” de cima para baixo. “O segredo do agitador consiste em parecer tão idiota quanto seus ouvintes, de modo que eles acreditem ser tão inteligentes quanto ele”, disse o grande frasista Karl Kraus. Esses agitadores mastigam as mensagens de forma simplista, para que seus seguidores, ressentidos e revoltados, sintam-se representados por sábios, o que garante um verniz de inteligência ao seu impulso instintivo de reação violenta ao quadro de crise.

Mas o tiro pode sair pela culatra. Normalmente sai, como vimos na greve dos caminhoneiros, e não foi por falta de aviso. Essa “direita jacobina”, porém, inspirada em gurus, mantém os mesmos métodos marxistas, onde foi “formada”. O sujeito sai de Marx, mas Marx não sai dele. A dialética serve para protegê-la de todas as previsões equivocadas. São como camaleões que adaptam o discurso de acordo com cada momento, para manter a aura de que estiveram “sempre certos”, com a razão, mesmo quando evidentemente erraram. Falta humildade, honestidade a essa gente. Adotam o mesmo duplo padrão da esquerda, e lançam mão dos mesmos tipos de ataques aos adversários também. São petistas com sinal trocado!

Muitos já estão repetindo que nada mudou com o impeachment, que não passou de uma tática do establishment para sobreviver. Preferiam Dilma? Acham que o Brasil estaria na mesma situação? Eles repetem que vivemos sob um estado totalitário, ignorando o que seja de fato isso. A julgar pela reação dos “revolucionários de Facebook”, estamos hoje sob um risco maior de virar uma Venezuela do que antes do impeachment, com Dilma, Lula e o PT no poder.

E nem adianta tentar lembrar que o impeachment não foi uma conquista de uma revolução caótica que impôs tormento a todos, mas sim de manifestações pacíficas no fim de semana, bem ao gosto dos “liberais coxinhas e covardes”, que não quiseram “organizar as massas” como se fossem ungidos manipulando peões, e sim liderar indivíduos independentes. Eles gostam de rescrever a história, exatamente como faz a extrema esquerda.

Um amigo meu resumiu bem: “Não vencemos a guerra, mas vencemos uma batalha. Tem outra batalha nas urnas em 2018. Os inimigos estão se reorganizando e nós estamos divididos. Estamos desperdiçando uma oportunidade histórica porque não conseguimos entender que a mudança para o Brasil é um processo longo e trabalhoso”. Perfeito!

Construir uma nação decente é trabalho para gerações. Moldar instituições republicanas é tarefa árdua e longa. Salvar a democracia, impedir a tirania, é função de quem aceita imperfeições, não de quem quer uma utopia. Entendo a impaciência de muitos: a crise machuca, e muito. Mas esse rancor, essa raiva, esse desespero, essas emoções não são sinônimo de razão, de acerto na escolha do caminho. Vou usar uma frase do mestre de muitos deles: “O mais  desprezível dos homens é aquele que considera que a intensidade de seu ódio é prova da veracidade de sua crença”. Quem disse isso? Olavo de Carvalho.

Compreender a angústia e o ódio de vocês eu consigo, óbvio. Mas não esperem que, por conta disso, eu vá aplaudir seus métodos irresponsáveis, ou pior, transformar-me num agitador ou organizador de massas. A função do socialista Obama em Chicago era justamente a de “community organizer”, ou “agitador das massas”, na prática. Aprendeu com seu guru radical Saul Alinsky. Será que é isso mesmo que restou à direita como única alternativa? Se transformar na esquerda radical de sinal trocado? Utilizar os mesmos métodos condenáveis? Endossar a máxima de que os nobres fins justificam quaisquer meios?

Jacobinos de direita pregando uma revolução, uma guerra de tudo ou nada, só isso sobrou como opção? Ou haverá uma divisão necessária na tal direita, para separar os revolucionários dos conservadores, e assim promover uma união possível entre aqueles que querem mudar o sistema dentro dele, reforma-lo em vez de destruí-lo por completo?

O mesmo amigo de cima, nosso “geniozinho” da escola, disse: “O Brasil não é Venezuela (graças ao Impeachment). A ampla maioria não irá pegar em armas para fazer guerrilha. Pode até simpatizar, mas vai ficar em casa como sempre. Não pegaram contra o regime militar, não vão pegar agora contra Temer. Esse pensamento revolucionário só valida as atitudes de Zé Dirceu. Até o Bolsonaro já pediu para parar com essa maluquice de revolução e pedido de intervenção militar. Esse movimento está perigosamente parecido com o MST e o MTST. Somente parem”.

Deveriam escuta-lo. Deveriam refletir melhor sobre o que querem, pois não há união possível entre liberais clássicos, conservadores de boa estirpe, e integralistas fascistas, reacionários jacobinos. São posturas diametralmente opostas. Entendo que alguém tem que fazer o “trabalho sujo”. Entendo que não é só com boas teorias que vamos derrotar comunistas. Entendo que a estratégia do “good cop / bad cop” (ou das tesouras) pode fazer sentido. Mas não aceito aplaudir revolucionários de direita que querem apelar para métodos absurdos e contraditórios. Esse meme resume bem a situação:

Não é conservador quem quer agir feito um marxista revolucionário para derrotar o “sistema”. Não há união possível com quem pensa assim. Chega um momento em que é preciso traçar a linha divisória com clareza, pois o risco de ser confundido com esse pessoal pode ser fatal para qualquer projeto de longo prazo do liberalismo-conservador. E estamos aqui, há anos!, para vencer uma guerra de forma decente e inteligente, não para tocar o terror e ver no que isso vai dar, porque “pior que está não fica”. Sempre pode ficar, e certamente estaria muito pior sem o impeachment.

A guerra, que nunca será vencida plenamente, pois não existe perfeição em política, é “vencida” batalha a batalha, com concessões, com pragmatismo, com realismo, com foco, com inteligência, e preservando nossos princípios básicos, para lembrar que não somos como os nossos inimigos que queremos derrotar. Quem não entendeu isso faz o jogo do lado de lá, ainda que julgue ser um anticomunista ferrenho. Os extremos se tocam, e não é por acaso que os líderes e intelectuais fascistas vieram quase todos do marxismo.

Mais serenidade, mais prudência e cautela. Menos Mussolini e mais Churchill. A luta por um Brasil melhor será longa, desafiadora, e cansativa, já que o Brasil cansa mesmo. A alternativa não é partir para um “tudo ou nada” revolucionário, coisa de “tresloucados”.

Rodrigo Constantino

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