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Reflexões de uma intelectual esquerdista
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“A burguesia fede. Esse bando de alienados que só pensam em consumir, em ficar horas em frente à televisão depois de um dia de trabalho cansativo, que não passa de exploração do capital, não se dá conta de que só a revolução salva. Socialismo ou morte! Fora de Marx só há engano, mentiras. Mas essa gente é burra demais para perceber isso…”

“Por essa razão é que nós, intelectuais, devemos liderar a marcha da história, iluminar esses alienados que acham que a vida é só conforto material e diversão. Sem nós como seus guias, esses pobres coitados serão eternamente explorados pelos capitalistas insensíveis, pela elite. O que seriam dos pobres sem mim? Miseráveis enganados, nada mais.”

“Sou uma abnegada, faço parte da elite, da classe média alta, e poderia estar curtindo a vida, viajando, comprando. Tenho iPhone e bolsa de marca, mas ao contrário das patricinhas ridículas, eu não sou alienada. Sei que isso é tudo uma farsa. Conheço o ‘real’, e não me deixo enganar pelas propagandas. Leio Zizek! Em vez de só consumir, eu estou aqui, lutando pela causa, disseminando a Verdade, trazendo jovens para o lado certo, para o socialismo. Mas o que ganho em troca?”

“Esses ingratos não valorizam meu trabalho, meu esforço, minha luta. Acham que sou apenas uma professora qualquer, e não a mensageira que veio lhes mostrar a luz, o caminho. Por mais que eu tente enfiar goela abaixo os mandamentos marxistas, esses alunos querem só um iPhone novo, querem empregos e bons salários, para entrar na corrida dos ratos sob o consumismo. Uns idiotas! Alienados de bosta, isso que são!”

“Conseguimos colocar um metalúrgico no poder. Porra! Será que esses burgueses de merda não atentam para isso?! Quase tive orgasmos com sua chegada ao poder. Quando Lula fala, o mundo se ilumina. O povo, finalmente, vencera as elites golpistas. E o que faz o povo depois? Vira-se contra seu pai, seu messias! Por quê? Por motivos tolos, por um ranço de uma ética burguesa, de um moralismo tacanho. Corrupção? Ó, céus! Sempre houve, e se é usada para manter o povo no poder, então qual o grande problema?”

“Estão irritados agora só porque o conforto material está ameaçado pela crise. São ingratos e materialistas! Se derem futebol, novela e samba para eles, e se sentirem que o emprego está garantido, esquecem das injustiças sociais, da exploração capitalista, dos abusos da elite. Não ligam para a miséria, ao contrário de mim. A classe média, então, é fascista, imbecil, autoritária. Eu odeio a classe média!”

“Mas meu amor pelo povo é maior, e por isso preciso continuar na luta pelo socialismo. Eu amo os pobres! Sou representante dos pobres! Eu sou o povo! E não posso aceitar que essa gente mesquinha tente mobilizar as pessoas insatisfeitas, inclusive as pobres, contra um governo popular de esquerda. Só vejo elite nas ruas, golpistas, gente raivosa, odienta. Merecem apanhar! Merecem ser eliminados para que o futuro radiante igualitário possa chegar. Não se faz uma omelete sem quebrar os ovos.”

“Esses enganados podem acreditar em outra coisa, podem estar sendo ludibriados pelos reacionários, mas eu sei o que é melhor para eles. Eu sei o que o povo realmente quer e precisa. Ao contrário deles, eu li Marx. Eu entendi a inexorabilidade da história, que caminha em direção ao socialismo. Os conservadores podem ter ganhado tempo. Mas o socialismo ainda vai triunfar. Eu sei disso, pois estudei, e sei, no meu íntimo, o que é bom para o povo. Pois eu sou o povo!”

Rodrigo Constantino

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