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Rodoviária ou aeroporto? A intolerância dos "tolerantes" ataca novamente
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Lá vamos nós, na tentativa de refletir serenamente, buscando gerar mais luz do que calor (algo difícil na era das redes sociais). E, claro, remando contra a maré da patrulha inquisidora dos “tolerantes” cada vez mais intolerantes. O tema: a professora da PUC que fez um comentário infeliz em seu perfil do Facebook, e por isso acabou perdendo o emprego. Eis o que ela publicou:

Em primeiro lugar, o óbvio: a pessoa exposta ao ridículo tem todo direito de se sentir ofendida, e até de buscar qualquer tipo de reparação judicial. No mínimo, mesmo publicando apenas em seu perfil para seus amigos, e sem saber que a imagem se tornaria viral, a autora deveria ter ocultado a face do alvo, para preservá-lo.

Dito isso, proponho uma questão: não estamos, por acaso, vivendo em um mundo muito paranoico, sob patrulha do Grande Irmão, onde em nome do combate a todo tipo de “preconceito” acabamos gerando um clima nefasto de inquisição politicamente correta?

Na rádio CBN, no programa “Liberdade de expressão”, Viviane Mosé se mostrou indignada com a professora, e aplaudiu sua destituição do cargo. Mas Vivi caiu em contradição: disse que era um caso claro de preconceito, de uma elite não acostumada a conviver com a ascensão dos pobres no Brasil de hoje, e logo depois reconheceu que o alvo do ataque não era pobre, e que a vestimenta não depende da conta bancária. Exato!

O que todos estão chamando de preconceito contra a pobreza pode simplesmente ser um saudosismo de um passado em que viajar era um “evento”. Eu mesmo, quando criança, lembro muito bem de ver aquela gente toda arrumada nos aeroportos, na beca total. Os tempos mudaram, alguns diriam para melhor, outros para pior. Mas a crítica aos trajes de alguns podem ser apenas isso: o lamento de que não há mais glamour naquela ocasião.

Não precisa ser motivo para tirar o “pobrismo” da cartola. Se, como a própria Vivi Mosé reconhece, a roupa não tem ligação direta com a conta bancária, então não seria preconceito contra a pobreza (imagina se o homem fosse negro, o que estariam dizendo!); e sim contra o traje em si, considerado inadequado para o local.

Rodoviárias, infelizmente, são conhecidas por sua sujeira, pelo descaso das autoridades, e por muita gente mal vestida. Acho isso uma pena. No meu mundo ideal, as pessoas nas rodoviárias é que estariam melhor arrumadas, como (ainda) ocorre nos aeroportos. No mundo ideal da esquerda caviar, os aeroportos dos “bacanas” é que devem se adequar aos tempos modernos e virar rodoviárias repletas de gente maltrapilha.

Por que? Por que não podemos ter metas mais elevadas? Por que não podemos achar que os pobres podem muito bem se apresentar de forma digna, e os ricos também? Já viram os aeroportos europeus? Por acaso parecem rodoviárias brasileiras? Vamos mirar nos piores exemplos?

O foco, aqui, seria a compatibilidade entre roupa e local, não a renda do indivíduo. Já critiquei isso quando o presidente Mujica foi como um molambo na posse de um ministro seu, e sustentei que nossas roupas importam. São nosso cartão de apresentação inicial.

Vejam: shopping centers não costumam permitir a entrada com trajes de banho. Isso é preconceito? Discriminação? É um simples direito do proprietário de desejar manter certo padrão de vestimenta no local, o que é absolutamente compreensível. A esquerda caviar vai condenar isso agora? Se um rapaz de sunga for barrado, será preconceito contra a pobreza?

Eu, que uso bastante os aeroportos terríveis do país (culpa da estatal Infraero), lamento esse fenômeno, essa transformação dos aeroportos em rodoviárias. E não tem nada a ver com querer ficar longe de pobre, pois concordo com a Vivi: vestir-se e comportar-se bem não têm ligação direta com a renda. As peruas bregas nouveau riche que o digam!

O que eu não gosto é de falta de modos, independentemente da conta bancária das pessoas. E acredito, sim, que os modos já começam na forma de se vestir, adequada ou não ao local. Claro que a moda muda, e tampouco gostaria eu que os aeroportos fossem locais de traje completo, refinado, o que não tem cabimento. Mas precisam ser frequentados como se fôssemos ali na esquina comprar pão?

Enfim, esta é apenas minha opinião, minhas preferências subjetivas, meu gosto pessoal. Respeito quem discorda, mas será que quem discorda me respeita? Eis a questão! O que quero demonstrar, aqui, é que o mundo caminha rapidamente para um clima onde ter ou expressar tais preferências será quase crime.

Em nome do combate aos preconceitos, todos devem concordar com a patrulha imaculada dos inquisidores do bem. O próximo passo talvez seja alguém perder o emprego porque lamentou em sua página pessoal que tinha um sujeito sem noção de bermuda rasgada e chinelos em um casamento, ou outro de pijamas no cinema, ou ainda outro com trajes de praia em um enterro. Duvidam?

Rodrigo Constantino

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