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Tempos estranhos, muito estranhos!
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Admito que posso ser acusado de masoquismo, mas confesso ao leitor que ainda leio as colunas de Verissimo. É que tenho uma curiosidade mórbida para descobrir até onde pode ir o malabarismo dos socialistas para negar a realidade e preservar sua utopia nefasta, jogando a culpa de todos os males da humanidade nos ombros do capitalismo. E o filho de Érico se supera a cada dia!

Na coluna de hoje, não é que o cronista resolveu responsabilizar o capitalismo e a direita pelos escândalos da Petrobras? Sério! Não duvide de mim, tampouco da cara de pau dessa gente. São capazes de tudo, conseguem inverter absolutamente tudo para condenar o capitalismo. Se até mesmo um ato idiota de uma modelo em busca do corpo perfeito que quase perde a vida é colocado na conta do capitalismo, o que não seria?

Mas voltando ao autor de comédias do cotidiano: Verissimo diz que a natureza do capitalismo é o monopólio , como dizia Marx, e que isso explica a simbiose das empreiteiras com o governo corrupto, que ele chama de esquerda entre muitas aspas (claro, a esquerda, para ele, é pura, então se há corrupção só pode ser de direita). Escreve Verissimo:

Despidas de todas as suas outras óbvias implicações, as revelações sobre a relação das empreiteiras com as estatais e o poder publico são uma aula do capitalismo de compadres em ação. Os escândalos do propinato na Petrobras e da cartelização em São Paulo para assegurar contratos sem obedecer à aborrecida formalidade de licitações provam, como se fosse preciso mais provas, o que está no Marx para principiantes: o caminho natural do capital é para o monopólio. O compadrio das empreiteiras faz pouco da importância da competição no mercado supostamente autorregulavel da pregação liberal. É compreensível que a direita festeje o embaraço da esquerda com as revelações que levaram diretores de empreiteiras à prisão e podem até punir a Dilma pela audácia de ganhar as eleições. Mas o capitalismo brasileiro também está levando suas lambadas neste entrevero.

Notem que o escritor confundiu deliberadamente “capitalismo de compadres” com liberalismo, ignorando que uma coisa é o contrário da outra. Sim, o cartel das empreiteiras é um exemplo de “capitalismo de compadres”, e isso é justamente o que os liberais condenam! Por isso pregam menos poder estatal e mais liberdade e competição.

A importância da competição de mercado “supostamente autorregulavel” é importante para a pregação liberal, e é exatamente o que não temos no Brasil, um país onde o liberalismo passou mais distante do que Plutão da Terra. Aqui há excesso de estado, de intervenção, de controle, de protecionismo, inclusive no setor supracitado. Por que empresas gringas não conseguem competir nas obras públicas? Pois é…

Reparem na ridícula contradição: Verissimo culpa o liberalismo pelo cartel, mas é contra a privatização da Petrobras, defendendo seu monopólio, garantido pelo estado. Entendeu? Verissimo, no mesmo texto, consegue condenar o liberalismo pelo monopólio e depois defender o monopólio estatal que os liberais criticam! Não é um fofo?

Verissimo ainda tenta incluir o caso de São Paulo, colocando-o ao lado da Petrobras, para minimizar o maior escândalo de corrupção da história deste país, bem no governo do PT. Claro, o homem “matou” a Velhinha de Taubaté, personagem crítica de governos, só para poupar o PT “camarada”. Esperar imparcialidade, isenção e honestidade em suas análises é como esperar que Dilma chore pelas vítimas da ditadura… cubana.

Para piorar, Verissimo acha que a direita quer punir Dilma pela “audácia de ganhar as eleições”. Vejam só! Não tem nada a ver com a roubalheira em seu governo, com esse incrível sistema de corrupção montado na máquina estatal; tampouco tem ligação com a mediocridade de sua gestão. O que a direita quer é punir a “presidenta” pela vitória. É mole? Calma. Tem mais:

O Roberto Campos chamava a Petrobras de “Petrossauro” e entregá-la a estrangeiros mais competentes sempre foi um mantra da direita. Os entreguistas não orquestraram o que está acontecendo com a Petrobras agora, mas, se tivessem planejado sua atual transformação, de orgulho nacional em vergonha nacional, não teriam tido tanto sucesso. É, irônica e dolorosamente, sob um governo de esquerda, aspas à vontade, que o orgulho está chegando a um estado terminal. Nem a Margaret Thatcher, que privatizou toda a Inglaterra, tocou no serviço nacional de saúde do país, que atravessou governos conservadores e pseudoprogressistas e permanece até hoje como uma espécie de cidadela socialista, sem aspas, em meio à comercialização de tudo. O Chile de Pinochet seguiu à risca a receita neoliberal da escola de Chicago para a sua economia, mas nem Pinochet acabou com o controle estatal do cobre, que também continua até hoje. Não se esperava que a cidadela Petrobras, que sobreviveu aos ataques da direita durante todos estes anos, fosse ser atacada por dentro. Mesmo que o governo não esteja envolvido diretamente no esquema da corrupção, é responsável pelo desleixo que a propiciou. E pela alegria dos entreguistas.

É um show de horrores! Verissimo admira justamente aquilo que não funciona, que não dá certo. Os liberais de Chicago fizeram com que o Chile fosse o país mais avançado da região, e Verissimo detesta isso, pois idolatra o fracasso. Qual o único elogio que faz ao regime de Pinochet, então? Ter mantido a empresa de cobre estatal. Aquilo que não ajuda em nada sua economia, ao contrário, é o que Verissimo aplaude.

O mesmo para a Inglaterra. Thatcher salvou o país que afundava na crise socialista, conseguiu resgatar não só o orgulho dos britânicos como suas riquezas, e Verissimo odeia isso tudo, pois adora o fracasso. Elogia, então, o sistema de saúde, que está em crise por ser socialista. Nem mesmo um rico país capitalista consegue bancar por muito tempo tal luxo!

Para Verissimo, vivemos em tempos estranhos, pois a esquerda, entre aspas, conseguiu destruir a Petrobras, algo que a direita supostamente sempre desejou. Não. A direita liberal sempre quis evitar isso, pois sabia que uma esquerda como a do PT, sem aspas, faria um estrago enorme se pudesse colocar suas garras sujas nela. Não deu outra.

Para nós, liberais, nenhuma surpresa. Aliás, basta ler meus textos antigos prevendo isso. Não há nada de estranho em tanta incompetência e corrupção num governo de esquerda: é a regra! Basta estudar a história, algo que Verissimo não deve ter feito, pois estava ocupado demais bolando suas histórias engraçadinhas do cotidiano.

Mas são tempos estranhos sim. Não pelos motivos que Verissimo oferece, e sim pelo fato de que alguém como Verissimo, que sempre esteve do lado errado, defendendo coisas absurdas, pregando o abjeto socialismo, tentando monopolizar as virtudes sem argumentos para debater meios, pelo fato, eu dizia, de alguém com esse perfil ainda gozar de alguma estima e de tanto espaço na imprensa. Isso sim, é realmente muito estranho e diz muito sobre nosso Brasil, o eterno país do futuro…

PS: Há um trecho que preferi nem comentar, pois seria preciso muito Engov para tanto. É este aqui: “Mesmo que o governo não esteja envolvido diretamente no esquema da corrupção, é responsável pelo desleixo que a propiciou”. Verissimo simula aqui uma condenação ao governo por “desleixo”, levantando suspeitas sobre seu envolvimento no esquema, sendo que já ficou exposto que o esquema pertencia ao próprio PT e provavelmente financiou inclusive a campanha de Dilma. É ou não é muita cara de pau?

Rodrigo Constantino

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