• Carregando...
Trump fecha acordo com México e Canadá e critica protecionismo brasileiro
| Foto:

O grande calcanhar de Aquiles de Donald Trump sempre foi sua visão um tanto mercantilista da economia global. Se a América tem déficit comercial com um país, então Trump encara que há um problema, quase como se o valor importado a mais do que o exportado fosse um roubo.

Já denunciei essa visão equivocada inúmeras vezes, mas sempre dei o benefício da dúvida ao magnata: seria apenas uma retórica estratégica para negociar acordos melhores? Ou seja, seria mesmo uma tática para um “fair trade”, já que hoje não temos exatamente um “free trade”?

Os recentes acordos fechados com os vizinhos México e Canadá, no lugar do velho Nafta, condenado por Trump como um péssimo “deal” para a América, demonstram que seu ranço mercantilista pode não ser tão grande assim. Trump de fato negociou acordos mais livres, vantajosos para todas as partes envolvidas. A “guerra comercial”, pelo visto, pode mesmo ser apenas um trunfo na manga do exímio negociador. Até o GLOBO, sempre tão crítico ao presidente republicano, teve de admitir o bom resultado em seu editorial de hoje:

Donald Trump celebrou ontem o acordo fechado no domingo com o Canadá, que reformula os termos do Nafta, o Acordo de Livre Comércio da América do Norte, de 1994. O acerto com o vizinho do Norte se dá depois de Washington ter renovado o pacto com o México em agosto, permitindo que os três países mantenham relações comerciais em condições especiais, envolvendo cerca de US$ 1,2 trilhão em negócios trilaterais. O novo acordo passará a se chamar USMCA.

Desde a campanha presidencial, Trump defendia o fim do Nafta, o qual classificava como um mau negócio para os americanos e contrário à sua doutrina “América Primeiro”. A obstinada retórica contra o Nafta levou especialistas e o setor produtivo a temerem um maior isolacionismo; interrupção de cadeias produtivas; fuga de empresas e investimentos; e desemprego.

O novo acordo, porém, foi uma vitória política de Trump, que obrigou México e Canadá a manterem um compromisso comercial mais restritivo com os EUA. Em troca, Washington suspende a aplicação de tarifas. Não deixou de comemorar que a estratégia de guerra comercial da Casa Branca está trazendo dividendos.

“É um grande negócio para todos os três países, e resolve deficiências e erros do Nafta”, escreveu Trump no Twitter, ontem pela manhã. Para o premier canadense, Justin Trudeau, (o domingo) foi “um bom dia para o Canadá”. Trump defendeu sua abordagem agressiva, afirmando que a aplicação de alíquotas de importação sobre produtos de Canadá e México foram essenciais para forçá-los a fazer concessões. “Sem tarifas, não estaríamos negociando”, disse Trump.

Menos mal que o presidente americano percebeu a importância de preservar boa parte do Nafta, independentemente da retórica antiglobalização. O USMCA mantém o princípio das negociações multilaterais e caminha na direção inversa à da guerra comercial.

Além disso, Trump aproveitou para denunciar o protecionismo brasileiro pela primeira vez. O Brasil, como sabemos, é um país bastante fechado, que se recusa a participar da globalização para valer, com inúmeras barreiras comerciais.

“O Brasil é outro caso. É uma beleza. Eles cobram de nós o que querem. Se você perguntar a algumas empresas, eles dizem que o Brasil está entre os mais duros do mundo, talvez o mais duro. E nós não os chamamos e dizemos ‘ei, vocês estão tratando nossas empresas injustamente, tratando nosso país injustamente”, afirmou o presidente Trump.

Trump já vem acumulando importantes conquistas até aqui, mas se for capaz de dobrar a resistência brasileira e chegar a acordos comerciais mais livres, aí será um mito mesmo! Como já expliquei antes, os liberais são contra o globalismo, não a globalização. Quanto mais o estado sair da frente, melhor.

Trump aparentemente entendeu isso, e usa a força do estado americano para persuadir seus parceiros comerciais da necessidade de acordos com menos intervenção. Até mesmo o grande defeito de Trump, seu suposto protecionismo, vai caindo por terra. O “homem laranja” vai construindo um legado que nos remete a Ronald Reagan. Não é pouca coisa.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]