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Valente defensor da liberdade: entre Churchill e Bolsonaro
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Por Ricardo Sondermann, publicado pelo Instituto Liberal

Em 26 de outubro de 1952, Winston Churchill vence as eleições e inicia seu segundo mandato como Primeiro Ministro da Grã-Bretanha, neste momento com 77 anos de idade. Em 09 de novembro de 1951, Churchill discursa em um banquete em sua homenagem, organizado pelo prefeito de Londres, em Guildhall[1]Para muita gente, sua recondução ao cargo foi um pedido de desculpas de todo um país a seu maior estadista, seis anos depois de sua surpreendente derrota para os trabalhistas, quando acabara de liderar a pátria na Segunda Guerra Mundial. A derrota do Partido Conservador em 1945 fora interpretada como um sinal de que Churchill era visto como um líder ideal em situações de emergência, mas não em tempos de paz.

Nesta ocasião, Churchill declara que:

“(…) qualquer que seja a forma das coisas caminharem, não iremos faltar com o nosso dever, quão impopular este seja. Não são aplausos que procuramos ganhar ou votos que tentamos angariar, mas sim respeito e confiança. Isso não virá apenas com palavras, mas somente com ações que se sustentem pelos seus resultados, que não são conseguidos com o aceno de um bastão. É necessário tempo para uma nova administração entender e medir os fatos que nos circundam, em um arranjo confuso e ameaçador. É necessário mais tempo para que os remédios que propomos, e vamos propor, possam produzir efeitos curativos. Nada poderia ser mais fácil que este país, separado politicamente em partes, tremer e trepidar a caminho da falência e da ruína. … Sem duvida, o governo de Sua Majestade cometerá erros. Não vamos hesitar em admiti-los. Eu cometi erros de guerra. É, porém, sempre um conforto, em tempos de crise, sentir que se percorre o caminho do dever, de acordo com o conhecimento que lhe é concedido. Desta forma, não é preciso temer o que possa acontecer’.

Em 1º de janeiro de 2019, Jair Messias Bolsonaro tomou posse como o 38º presidente do Brasil após um processo eleitoral desgastante, conturbado e por vezes violento. O Brasil está mudando de mãos e no comando está a esperança da retomada de valores éticos, humanos e básicos, subtraídos do brasileiro comum por um grupo de políticos, magistrados e empresários interessados na construção de um socialismo mágico e impossível. O Brasil profundo disse não aos desmandos e a classe média, normalmente ausente da discussão e mais do que isso, da ação política, tomou as ruas, militou por votos, atuou nas redes sociais e no seu cotidiano, conquistando eleitores e trabalhando para seus candidatos. Todo este esforço foi recompensado com uma guinada não só à direita do espectro político (que eu pessoalmente acredito ser uma discussão ultrapassada, mas isto é tema para outro artigo), mas um retorno à discussão de valores que são essenciais a qualquer sociedade e que haviam se dissipado pelo policiamento do “politicamente correto”.

O Presidente Bolsonaro discorre que uma de suas prioridades “é proteger e revigorar a democracia brasileira, trabalhando arduamente para que ela deixe de ser apenas uma promessa formal e distante e passe a ser um componente substancial e tangível da vida política brasileira, com respeito à democracia”. A necessidade de mudanças no Brasil não pode ocorrer fora do ambiente democrático e do rule of law, ou o Império das Leis. Se as leis atuais não são mais adequadas a nossa realidade, deverão ser reformadas para atender a um novo momento cujos efeitos, não só o Brasil, mas o mundo inteiro, sente neste primeiro terço do século XXI. O presidente reafirma a importância deste sentimento quando diz que esses desafios só serão resolvidos mediante um verdadeiro pacto nacional entre a sociedade e os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, na busca de novos caminhos para um novo Brasil”.

Na mesma linha, o presidente empossado declara “que a construção de uma nação mais justa e desenvolvida requer a ruptura com práticas que se mostram nefastas para todos nós, maculando a classe política e atrasando o progresso. A irresponsabilidade nos conduziu à maior crise ética, moral e econômica de nossa história”. Inicia-se uma nova fase no Brasil, uma fase de reconstrução nacional.

Agora, o que Winston Churchill e Jair Bolsonaro têm em comum? Sabemos quem foi o grande líder inglês que, por sua obstinada condução, salvou o ocidente da terrível ameaça nazista e da possível supressão da liberdade. Churchill até hoje exerce fortíssima influência por seus exemplos de clareza, visão, resiliência e a intransigente defesa dos valores judaico-cristãos e ajudou a escrever a história ocidental por seus feitos e, literalmente, por meio de sua extensa contribuição literária.

Jair Bolsonaro têm à sua frente um livro, ou vários, a serem escritos. Sua atuação politica é conhecida no legislativo, mas pela primeira vez ascende a um cargo executivo e, justamente, ao mais importante deles. O presidente demonstra suas fortalezas e fraquezas e não esconde que formou um governo que pretende atender às necessidades do país.

Churchill, em seu segundo mandato, e Bolsonaro, se assemelham no tamanho da tarefa que assumiram, na humildade de reconhecer suas fraquezas e na tenacidade que, respectivamente, demonstraram e demonstram para superar dificuldades. A Inglaterra dos anos 1950 enfrentava escassez de alimentos, de carvão e de energia, alta taxa de desemprego e desesperança com sua economia. Além da ameaça nuclear da guerra fria, pairava sobre a Europa a tomada do poder pela ideologia socialista-comunista na Europa Ocidental, pela via democrática e na Europa Oriental, pela força das armas. Bolsonaro terá que desmontar uma estrutura corporativista, que oscila entre uma banda criminosa e uma ideológica de esquerda, interessada em um projeto de poder e não de governo. Assim como Churchill, Bolsonaro deverá tomar ações imediatas, mas que deverão gerar resultados lentos e de difícil cálculo.

Porém, “grandes marinheiros se formam no mar e não no porto”, diz um velho ditado dos mares. As criticas vazias, pouco fundamentadas ou motivadas por torcidas de um lado ou de outro serão frequentes e será necessário que este novo governo não esmoreça, não perca o rumo ou queira atender a demandas eleitorais de curto prazo ou no sentido de apaziguar os descontentes. Estas demandas virão da grande imprensa (despreparada do ponto de vista técnico e/ou intelectual), dos partidos de oposição, do funcionalismo publico e suas corporações (que obrigatoriamente perderão seus privilégios disfarçados de direitos) e dos tais indefinidos “movimentos sociais”.

Muitas criticas também virão da direita, uma vez que muitos dos novos recém-chegados ou autodenominados liberais efetivamente pouco entendem sobre o liberalismo, suas raízes, objetivos, filosofia e autores. Como nas hordas esquerdistas, onde espalham-se frases feitas e a ignorância, as hordas do lado direito reproduzem comportamentos parecidos. E bem, não se podem esperar muita luz e inteligência dos meios acadêmicos onde prevalecem as trevas e a ignorância há mais de trinta anos. Onde se plantam laranjas não nascem maçãs.

Iniciaremos agora os primeiros esperançosos e temíveis 100 dias de governo. Muito deverá ser feito e nos cabe apoiar, sugerir e interpretar todas as decisões tomadas aos olhos das regras modernas para a tomada de decisões: prestação de contas (accountabilty), verificações e balanços (checks and balances) e os resultados econômicos da proposição e aplicação de leis (law and economics). A receita do lado econômico é conhecida: austeridade e responsabilidade fiscal, governança corporativa, privatizações e a simplificação fiscal e legal em benefício de um ambiente de negócios mais livre. No lado social, o reforço à segurança pessoal, o direito à vida e de autodefesa, a reorganização do modelo educacional e a defesa e a proteção do direito de expressão, credo e gênero.

Presidente Bolsonaro: mãos à obra, pois o tempo é curto e a luta pela liberdade não pode esperar mais. O que disse Churchill em 1951 ainda vale hoje em 2019: “não é preciso temer o que possa acontecer”.

[1] Guildhall: Edifício cuja construção foi iniciada em 1411 e concluída em 1440, e é o único edifício de pedra não pertencente à Igreja que sobreviveu até o presente. O complexo contém vários outros interiores históricos, além do salão, incluindo as grandes criptas medievais, a antiga biblioteca e da sala de impressão, os quais agora são usados ​​como salas de eventos. Foi utilizada como tribunal, prefeitura e salão de conferências durante diversos séculos.

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