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Lembro como se fosse ontem: Heloísa Helena, candidata à presidência pelo PSOL, afirmando em entrevista a Miriam Leitão que inflação era um fenômeno global, ou seja, tentando culpar o “sistema” capitalista pela alta de preços generalizada. Isso foi dito numa época em que já existia o Zimbábue dilacerado pela hiperinflação produzida pelo governo Robert Mugabe.

A estupidez econômica salta aos olhos, mas não é caso isolado. Não são poucos os políticos – e, pasmem!, mesmo os economistas – que atribuem a fatores externos a inflação acelerada de um determinado país. Em alguns casos, eles citam choques de oferta, como na crise do petróleo da década de 1970, ignorando que isso leva apenas a uma mudança relativa de preços.

Inflação, como uma alta geral de preços, é sempre e em todo lugar um fenômeno monetário. É o aumento da oferta de moedas e crédito que produz essa espiral ascendente de preços em todos os setores. E como quem controla a oferta monetária, em última instância, é o governo, a inflação é sempre um processo político, deliberado ou por ignorância.

O populismo dos gastos públicos leva ao aumento da oferta monetária para bancar a farra, principalmente se o Banco Central, entidade encarregada de cuidar da solidez da moeda, for subserviente ao poder Executivo, como costuma ocorrer em países mais populistas. Foi assim no Brasil da década de 1980, e foi assim na Venezuela bolivariana de hoje.

Leio a notícia no Bloomberg de que o governo Maduro resolveu adicionar zeros à sua moeda, pois não dá mais para usar aqueles velhos pedaços de papel para comprar nada. A moeda mais valiosa do país bolivariano vale, no mercado paralelo, apenas 14 cents de dólar. A Venezuela deverá lançar notas de até mil bolívares, sendo que seu valor, ainda assim, será baixo, e quase irrisório à frente, a contar com o atual ritmo de desvalorização produzida pelo governo.

Valor do bolívar em dólar. Fonte: Bloomberg Valor do bolívar em dólar. Fonte: Bloomberg

A inflação no país já deve chegar a 150% este ano, um patamar assustador. Como culpar o capitalismo, os ianques, o “sistema”, a ganância dos empresários? Será que os capitalistas suíços são menos gananciosos? Será que os empresários americanos são mais bonzinhos? Será que os donos de supermercado da Inglaterra são mais altruístas? As perguntas são ridículas, como é ridícula a tentativa da esquerda de culpar o capitalismo pelos estragos que seu populismo gera.

A Venezuela é um caso perdido. Mais uma vítima do socialismo, entre tantas. E a esquerda, como sempre, fará de tudo para fingir que o filho não é seu, que se desgarrou no caminho, que houve um acidente qualquer de percurso, tudo para fugir da responsabilidade pelo monstro que pariu.

Rodrigo Constantino

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