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A vida mansa dos grevistas do setor público: será que vai dar praia?
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Fugi dos jornais neste domingo. Às vezes preciso me desintoxicar. Cheguei a publicar esse breve comunicado aos meus leitores, que se acostumaram com artigos até aos domingos, no ritmo de trabalho unstoppable do blog:

Jornais de hoje, pelo que vi por alto até agora: Verissimo elogiando Keynes e falando que o intervencionismo do New Deal salvou o capitalismo, depois afirmando que a escolha ainda é entre socialismo e barbárie (ele fez 80 anos e está em destaque na imprensa, demonstrando como a velhice não é garantia de amadurecimento ou sabedoria), Aldir Blanc defendendo o PSOL e falando um monte de besteiras, o GLOBO dizendo que o NYT defendeu abertamente Hillary Clinton como melhor escolha, não como se fosse a coisa mais óbvia para um jornal claramente esquerdista, mas como se fosse a opinião isenta do jornal mais sério do planeta. Parei aí. A escolha era clara: estragar meu domingo com nossos jornais mequetrefes ou avançar no quarto e último livro da fantástica novela napolitana de Elena Ferrante? Não foi difícil. Pro inferno com esses jornais! Amanhã volto ao fardo de ler essas porcarias como ossos do ofício…

voltei, com energia renovada e com a boa notícia da prisão de Palocci. Escrever textos sobre isso é um deleite, um imenso prazer. Mas fui dar uma espiada no jornal de domingo, para ver se não deixei passar coisa valiosa em meio ao lixo esquerdista. E, de fato, lá estava esse excelente e corajoso artigo, de alguém de dentro, criticando as paralisações dos grevistas no setor público, tomando o caso da UFRJ como exemplo. São sindicatos, grupelhos oportunistas, que decidem em nome de todos e contribuem para a imagem negativa que o servidor público tem perante o público. Diz o autor, o professor Marcio da Costa:

A coisa funciona assim: uma assembleia de meia dúzia decide greve ou paralisação, a estrutura decisória transforma essa decisão quase clandestina em decreto institucional. Com isso, está assegurado o sucesso do movimento, “adesão” de 100%. Discursos revolucionários saúdam a coesão de classe, e a população paga pelas bravatas.

Frequentemente, quase ninguém sabe ao menos quais são as reivindicações do “movimento”. Eventualmente, em caso de grande adesão, o funcionamento poderia estar severamente comprometido, de tal forma que seria impossível ou pouco sensato manter as portas abertas. No entanto, nem se cogita testar.

Tal ocorre em meio à anomia que torna a lei, a separação público/privado, a preocupação com a coisa pública meras peças de retórica nesse universo paralelo em que vivemos nas universidades públicas. A predação do funcionamento institucional deriva de se haver aprendido na universidade que não há risco. Nenhum dos protagonistas paga o preço.

Como de hábito, a paralisação foi numa quinta-feira, convertendo-se em feriadão. O distinto público paga nosso salário, e vida segue, como se nada houvesse acontecido. A Viúva banca, e ninguém é chamado a prestar contas desses, digamos, feriados informais. Greves intermináveis ocorrem da mesma forma: risco zero. Salário na conta e dois a três meses de trabalho a menos quase todos os anos recentes.

Será esse um dos motivos porque parece crescer na população o sentimento de inveja/ódio pelo funcionalismo público? Aquele bando de gente que ganha mais, trabalha menos, não precisa prestar contas de nada e ainda vai lá quando quer? Quanto tempo durará essa festa? Alguém será responsabilizado?

Quinta feira deu praia.

Aplaudo a honestidade e a coragem do professor de colocar o dedo nessa ferida, de mexer nesse vespeiro. A gente já fala isso há muito tempo, mas é mais impactante quando é dito por um deles, por alguém de dentro desse sistema. O professor deve ser odiado por seus pares, pelos vagabundos que, quando não estão doutrinando os alunos, estão impondo férias remuneradas em nome de alguma bandeira política de esquerda.

Conhecendo o quadro de nossas universidades públicas, é mesmo um exercício e tanto manter a esperança no Brasil. Temos que fazê-lo. Temos que lutar para mudar as coisas. Mas o Brasil cansa. E essa turma incrustada no sistema, protegida pelos sindicatos mafiosos, terá de ser derrotada se nosso país quiser um dia pertencer ao primeiro mundo.

Rodrigo Constantino

 

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