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Volta para seu trabalho de vereador, Carlos Bolsonaro!
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Se o governo ainda não possui, deveria criar um cargo de “tuiteiro profissional para criar intrigas”, e tendo status de ministério, poderia indicar para a pasta Carlos Bolsonaro, filho do presidente. Seria ao menos mais transparente, já que essa parece ser a função que ele exerce de fato, apesar de ter sido eleito vereador do Rio – onde não pisa faz um tempinho.

Vários analistas – não fui o único – perceberam que a prole de Jair poderia ser fonte de grandes problemas para seu governo. Não deu outra. O caso de Flavio Bolsonaro e seu ex-assessor Queiroz ganhou enorme destaque, mas surpreendeu todos que conhecem melhor o trio: Flavio era o menos esperado para gerar problemas. O foco de preocupação era a dupla mais nova.

Eduardo é radical, aproximou-se de Steve Bannon, um populista que nem Trump quis manter em seu governo e que enaltece regimes nacionalistas quase ditatoriais mundo afora. Em torno de Eduardo há ainda uma patota que gosta de berrar nas redes sociais, intimidar críticos e bajular o “guru” Olavo de Carvalho.

Mas Carlos, o mais novo, talvez seja o mais problemático. O único a ir no carro com o pai no dia da posse, aquele soldado tão fiel que precisou grafar a imagem do ídolo na pele, Carlos colou em Jair e não desgrudou mais. Controlava as contas das redes sociais, mas foi atropelado pela turma de Bebiano e precisou engolir o sapo.

Não calado, claro. Continuou usando suas redes sociais para gerar intrigas, para levantar suspeitas de que gente dentro do governo queria seu pai morto, para elogiar Olavo no dia seguinte em que este acusou o vice-presidente Mourão de conspirar um golpe. Teclando diretamente do hospital onde seu pai estava, Carlos espalhava desunião.

Até encontrar a oportunidade certa: Bebianno mentiu sobre conversas que teria tido com o presidente. Carlos não achou melhor lavar a roupa suja em casa, e jogou a coisa no ventilador. A fritura de Bebiano atingiu grau máximo quando o próprio Jair retuitou a mensagem do filho. Em vez de simplesmente demitir seu ministro, colocou Bebiano numa saia justa e contra a parede.

A forma como tudo foi conduzido soa amadora demais, atabalhoada demais, e expõe um grau de desconfiança absurdo dentro do núcleo do governo. Carlos não ficou satisfeito: tem desferido ataques contra a imprensa, mesmo aquela mais independente. Ninguém pode criticar seu querido papi.

O problema, além das intrigas, é que Carlos não tem cargo no governo, não é ministro, não foi eleito para isso, e sim como vereador do Rio. Gustavo Nogy comentou: “A interferência dos filhos presidenciais na República é mais séria do que parece. Não tem graça nenhuma. Eles não são ministros e, portanto, não assumem responsabilidades. Fazem o que querem, como querem, e o país sofre as consequências de embates familiares e chiliques tribais”.

Em O Antagonista, que tem sido alvo dos ataques de Carlos, Felipe Moura Brasil assinou um texto duro contra o vereador e filho do presidente, denunciando seu esforço para expor deliberadamente Bebiano:

Não resta dúvida de que Carlos quis expor Bebianno. Esteja o vereador certo ou errado sobre os fatos, e queira ele ou não, isto é, sim, lavar roupa suja em público. Se filho é indemissível, como disse Eduardo à Crusoé, resta saber se Bebianno aguentará a pressão. As tensões entre diversos núcleos do governo demandam uma liderança forte que Jair Bolsonaro terá de mostrar para não ser devorado pela sua própria turma.

Se os bolsonaristas, agora, gostam de dizer que ninguém votou em Mourão, esquecendo que acusavam os petistas de terem votado em Temer, mais certo ainda é afirmar que absolutamente ninguém votou em Carlos ou Eduardo para presidente. Eles são filhos de Jair, ponto. Não vivemos numa monarquia, e ambos não possuem qualquer linha sucessória no poder.

A ala militar estaria preocupada com o vazamento de conversas privadas e a forma como Carlos fritou Bebianno. É uma crise que pode sinalizar maiores problemas à frente. Quem controla os filhos do homem? O próprio presidente deveria faze-lo, como já sugeri antes. Esses “bolsokids” parecem gostar de uma confusão e se enxergam como os únicos soldados leais numa batalha de vida ou morte, postura totalmente tóxica para o bom andamento da democracia e do governo.

O governo tem muito trabalho pela frente. A começar pelas reformas propostas por Paulo Guedes na economia e por Sergio Moro na segurança. O Brasil tem pressa. Não pode ficar refém dos filhos do presidente numa disputa interna por poder ou lidando com questões psicológicas paternas. Eduardo é deputado, Carlos é vereador. Que foquem nessas funções públicas, pelas quais foram eleitos.

Rodrigo Constantino

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