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"Se condições melhores tornarão os pobres mais aptos a governar-se a si mesmos, por que condições melhores já não deveriam tornar os ricos mais indicados para governá-los?" Com essa pergunta, G.K. Chesterton coloca em xeque toda a visão "democrata", o que parece justificar uma espécie de aristocracia (não é seu ponto, mas chegaremos lá).
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Troque rico por "especialista" e teremos a defesa da "epistocracia" que muitos pregam. É o século do Judiciário, profetizou Alexandre de Moraes! O mesmo que nega o ativismo judiciário, sendo que isoladamente é o ministro que mais abusa de seu poder. Por que permitir que "213 milhões de pequenos tiranos" possam ter liberdade, afinal? Será que eles não precisam do controle, do governo de uma casta mais "esclarecida"?
A resposta quem fornece é o próprio Chesterton, e ela está na ortodoxia cristã, no conceito do Pecado Original, na Queda. Chesterton deu voltas e voltas em seu raciocínio, em suas intuições, apenas para concluir que tudo já havia sido respondido pelos dogmas da Igreja de Cristo, que nos exige maior humildade perante o mundo. Diz ele:
Crie uma bolha regada a lagosta e bons vinhos, com carros blindados e total afastamento do contato com o povo, e terás uma casta soberba e arrogante fadada aos constantes abusos de poder
"O chefe escolhido para ser o amigo do povo torna-se o inimigo do povo; o jornal fundado para dizer a verdade existe agora para impedir que a verdade seja dita. Aqui, repito, senti que de fato estava do lado do revolucionário. E depois respirei novamente: pois me lembrei de que eu mais uma vez estava do lado do ortodoxo.
O cristianismo pronunciou-se de novo e disse: "Eu sempre afirmei que os homens eram naturalmente reincidentes no erro; que a virtude humana por sua própria natureza tendia a enferrujar e corromper-se; eu sempre afirmei que os seres humanos como tais cometem erros, especialmente os seres humanos felizes, especialmente os seres humanos prósperos e orgulhosos.
Eis aí o conceito da Queda! A ninguém deve ser concedido um poder demasiado, seja rico ou mesmo sábio, pois o poder corrompe e o ser humano é sempre falho. Eis o melhor argumento em prol da verdadeira democracia, do autogoverno, da liberdade individual. Chesterton acrescenta:
Somente a Igreja cristã pode apresentar uma objeção à completa confiança nos ricos. Pois desde o início ela manteve que o perigo não estava no meio em que vive o homem, mas sim no homem. Mais ainda, ela manteve que se quisermos discutir um meio perigoso, o mais perigoso de todos os meios é o meio confortável.
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Crie uma bolha regada a lagosta e bons vinhos, com carros blindados e total afastamento do contato com o povo, e terás uma casta soberba e arrogante fadada aos constantes abusos de poder. Afinal, "é parte do dogma cristão que qualquer homem de qualquer posição social pode aceitar subornos". É parte da história humana.
Chesterton conclui com um apelo à humildade que tanto falta em nossos ministros supremos: "Não devemos coroar o homem excepcional que sabe que pode governar. Devemos antes coroar o homem muito mais excepcional que sabe que não pode". Em suma, "Os anjos conseguem voar porque dão pouca importância a si mesmos". Já alguns demônios garantem que são a própria incorporação da era moderna, aptos a "empurrar a história" e comandar milhões de súditos idiotas...





