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Foto: Miguel Arenas/AP Photo
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O Chile sempre foi o símbolo de maior estabilidade na América Latina, e os liberais apontavam para a causa desse relativo sucesso: as reformas liberais paradoxalmente adotadas durante a ditadura de Pinochet.

A esquerda, incapaz de aceitar esse diagnóstico, repetia que o fim da ditadura se deu há décadas e que governos mais à esquerda, social-democratas, passaram pelo poder, como o de Bachelet. Agora que eclodiu uma onda de protestos violentos, a esquerda apagou a longa fase democrática para resgatar Pinochet, e transferir a culpa para o "neoliberalismo" dos "Chicago Boys".

Balela! As reformas liberais foram causa da prosperidade, e nem os social-democratas ousaram mexer em certas vacas sagradas. Mas é verdade que o modelo não é perfeito (isso não existe) e gerou alguns problemas, entre eles o aumento da desigualdade. O foco deveria ser no nível absoluto de pobreza, mas a esquerda aposta pesado na diferença entre ricos e pobres, pois assim mobiliza com base na inveja, no ressentimento.

E é o ressentimento que tomou conta das ruas chilenas. O ressentimento manipulado por oportunistas, vale frisar. É verdade que não há um rosto por trás das "manifestações", mas a esquerda naturalmente já se "solidarizou" com os "manifestantes". É uma forma de atacar o governo do presidente liberal, e também um empresário bilionário. Tem método.

Tanto que os "intelectuais" socialistas já estão assanhados. O sociólogo Boaventura de Souza Santos, extremista de esquerda, "alertou" que o Brasil poderá ser o próximo país a ter convulsão social, como Equador e Chile. Ele culpou, surpresa!, as políticas "neoliberais" do governo Bolsonaro.

Helio Gurovitz, em coluna no G1, derrubou a falácia de que o "neoliberalismo" é o responsável pela crise chilena:

Errar o diagnóstico é a forma mais fácil de preservar a doença. Experimente receitar um antibiótico para uma infecção viral ou extrair o apêndice de quem está com diverticulite. Na melhor hipótese, não vai ajudar. Se já é difícil nas ciências naturais, pior nas humanas.

[...] É verdade que o Chile se tornou mais desigual ao longo da última década? Não, de acordo com a medida mais adotada pelos economistas, o índice de Gini. Em 2003, ele era de 0,51 no Chile (no Brasil, 0,56; na América Latina, 0,52). Em 2017, caíra para 0,45 (no Brasil, para 0,54; na América Latina, para 0,47). O Chile não é apenas menos desigual que México, Brasil, ou Colômbia, mas, a exemplo de Uruguai, Argentina e Equador, tem se mantido pouco abaixo da média continental.

A concentração de renda, ao contrário, cresceu. Em 2006, os 10% mais ricos da população ficavam com 31% da renda chilena. Em 2017, com 39%. É possível que haja aumento na concentração de renda no topo, mas queda na desigualdade na sociedade? Em teoria, sim, dependendo das taxas de crescimento econômico e da redução da pobreza. Por isso mesmo, a questão desafia análises simplistas.

Desde os anos 1980, a pobreza chilena caiu de 40% da população para abaixo de 10%. A inflação está sob controle, e o crescimento também se mantém acima da média latino-americana, embora tenha caído nos últimos anos com o estouro da bolha das commodities. Como ocorreu em 2013 no Brasil, a revolta chilena espelha muito mais uma percepção disseminada pelas redes sociais do que a realidade da economia, ainda que ela enfrente mesmo dificuldades.

E essa percepção disseminada nas redes sociais é obra justamente da campanha ideológica esquerdista. O Chile, em termos estatísticos e macroeconômicos, vai bem, obrigado. Melhor do que a média, do que os vizinhos. Mas não obstante os jovens, de forma "espontânea", tomaram as ruas, saquearam lojas, tocaram o terror. É um projeto revolucionário, de quem aposta no caos.

Se há a impressão digital de Maduro ou do Foro de São Paulo na organização desses atos, não sabemos. Mas que há o uso disso por parte da esquerda radical, para fomentar o clima de revolta, incitar a violência contra o "sistema" e a demonização ao "neoliberalismo", de olho na derrubada do atual presidente, isso está claro.

"Os comunistas sempre souberam chacoalhar as árvores para apanhar no chão os frutos. O que não sabem é plantá-las", disse Roberto Campos. A esquerda jurássica latino-americana vive de plantar vento para colher tempestades. É disso que se trata a guerra chilena.

O que nos remete ao caso de 2013, dos "black blocs" espalhando o terror pelas ruas com o pretexto inicial do aumento da tarifa de ônibus de vinte centavos. A Virtù News traçou o mesmo paralelo, alertando que a economia estagnada com baixa mobilidade social pode sim ser um risco para a democracia, especialmente na era das redes sociais:

Metade das pessoas de menor renda no Chile ganha mais do que o dobro do salário mínimo pago no Brasil. Os chilenos trabalhadores urbanos gastam 8% do seus rendimentos em transporte. Os brasileiros gastam 18,5%. A explicação para a explosão de protestos, principalmente, na capital, Santiago, tem sido o aumento das passagens do metrô de 800 para 830 pesos. No Brasil equivaleria passar de 4,63 para 4,80 reais —ou seja, aumento de 17 centavos. O paralelo mais próximo do caso chileno foram os protestos disparados por um aumento de 20 centavos no preço das passagens de ônibus em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife, que, em 2013, no governo Dilma Rousseff, paralisaram o Brasil. Na erupção social no Brasil, oito pessoas morreram e 2.600 foram presas. No Chile, já morreram 11 pessoas e 700 estão detidas. A destruição de patrimônio público só no metrô de Santiago passa de 800 milhões de dólares. Tudo isso por centavos? Foi tudo fruto da loucura das multidões? Não. Tanto no Brasil de 2013, quanto, agora, no Chile, os centavos foram a última palha que arriou o cavalo.

[...] Não é a desigualdade que faz romper o contrato social nas democracias — é a falta de oportunidades, a percepção de que estão bloqueados os caminhos da mobilidade social para cima. Durante muitos anos, o Chile foi o campeão regional de mobilidade social. Segundo dados do Banco Mundial, entre 1992 e 2009, 60% dos chilenos conseguiu um “upgrade” de uma classe social para outra mais alta. É natural que as pessoas esperem que esse processo de melhora continue para sempre. É isso que esperam dos seus governantes. Para terminar também com uma comparação com o Brasil, quase nesse mesmo período (1990 a 2009) mais da metade dos brasileiros também mudaram para uma classe acima. Pois bem, de 2011 a 2020, informa um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), com crescimento médio de 0,9%, o Brasil terá tido sua pior década econômica em 120 anos. Sem reformas que nos libertem da “armadilha da renda média”, o Brasil também explode.

Ou seja, mesmo em se tratando de planejamento socialista, é bom ficar no ar o alerta: não se pode oferecer nem pretextos para essa turma!

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