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Rodrigo Constantino

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Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

Julgamento

A estratégia de Bolsonaro

Bolsonaro diz que foi ao STF de “cabeça erguida” e critica injustiça contra Filipe Martins
Bolsonaro disse que foi interrogado por Moraes com “espírito sereno de quem sabe que é inocente”. (Foto: Ton Molina/STF)

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Antes de comentar a postura de Jair Bolsonaro em seu interrogatório, cabe dizer o óbvio: só ele sabe o que é estar em sua pele neste momento. Mesmo alguém perseguido pelo ministro Alexandre de Moraes como eu não consegue ter a dimensão de ser o ex-presidente ali, o alvo prioritário de uma caça implacável, com um homem que já deu todos os sinais de sadismo sedento por sua cabeça.

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Bolsonaro optou por uma postura firme, mas descontraída ao mesmo tempo, com direito a brincadeiras. Ele mesmo apresentou uma explicação de por que agiu assim. Diz um trecho: "Não invoquei silêncio. Não busquei subterfúgios. Respondi a cada pergunta com transparência e convicção. Quem tem a verdade como companheira não teme ser questionado - e jamais se curva diante da injustiça".

Em sua conclusão, ele diz: "A História julgará cada um de nós. Que ela me encontre, como sempre estive, fiel à verdade, ao nosso Deus e ao povo brasileiro. Hoje, saio do tribunal tranquilo e mais confiante de que serei o próximo Presidente da República para ajudar a tirar nosso país dessa bagunça". É uma esperança e tanto para quem sabe enfrentar um tribunal político.

Eis o ponto: talvez fosse o momento de Jair Bolsonaro, com muita seriedade, expor o regime de exceção em que mergulhou o país, sem rodeios, sem gracinha

Havia mais de uma forma de enfrentar Moraes, e não necessariamente apenas uma está certa. O general Augusto Heleno, por exemplo, preferiu se calar perante o "juiz", respondendo apenas as perguntas de seus advogados. Não é falta de coragem, mas um recado claro de que não reconhece em Alexandre um juiz sério e imparcial.

Bolsonaro optou por outro caminho, convidando, em tom de brincadeira, Moraes para ser seu vice em 2026 (um recado velado de que o ministro é um agente político). Isso dividiu a direita. Alguns acharam o máximo esse tom, que seduz os mais neutros e consegue transmitir a imagem de bom moço perseguido pelo sistema; mas outros acharam que ele perdeu a oportunidade de escancarar ao mundo a natureza autoritária de seus adversários.

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Lembro de uma cena de Atlas Shrugged, de Ayn Rand, em que o personagem principal, John Galt, forçado a participar de um espetáculo farsesco ao lado de seus algozes, consegue expor as armas que o obrigavam a estar ali "sorridente". Foi torturado depois, mas falou para o povo, para a posteridade: eis um regime tirânico sem legitimidade.

A jornalista Karina Michelin fez um ótimo resumo do teatro armado por Moraes e seus cúmplices, em que diz: "O julgamento de Jair Bolsonaro e dos réus do 8 de janeiro tem sido, desde o início, muito mais do que um simples processo judicial: tornou-se uma exibição pública de força, sarcasmo e humilhação, cuidadosamente orquestrada sob o manto da legalidade. O que está em curso não é um debate jurídico sério sobre fatos e provas, mas a consolidação de um modelo de poder autorreferente, que já escolheu culpados e agora apenas interpreta o roteiro previamente escrito para condenar".

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Após descrever os métodos alexandrinos para humilhar quem ousou desafiar o sistema, Michelin conclui: "Por trás da encenação, há uma questão moral ainda mais profunda. Diante da força bruta do sistema, muitos tentam garantir sua sobrevivência através de bajulações, acreditando, ingenuamente, que elogiar o algoz possa lhes render algum tipo de indulgência. É um erro fatal. Quando o processo já está contaminado por motivações políticas, nenhum gesto de submissão altera o desfecho - a sentença de morte política já está escrita".

E eis o ponto que fica para reflexão: Bolsonaro falou para a história ou para Moraes? Há ainda alguma esperança por parte dele de comover quem já deu indícios de psicopatia? Será que Bolsonaro realmente acredita que pode ser inocentado por expor a fragilidade da denúncia? Talvez por conta da pressão de seu amigo Donald Trump, será que Bolsonaro acha mesmo que será candidato ainda?

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Se por um lado os militantes do sistema, como Miriam Leitão da Globo, não gostaram da postura de Bolsonaro, ao transformar o interrogatório numa "live", o que é bom sinal para o ex-presidente, por outro lado sua piada ensejou comentários como este, do imitador de focas, com vinte mil curtidas: "Muito doida essa DITADURA do Brasil, onde o tal do 'perseguido' pode debochar e brincar, convidando o DITADOR para ser seu vice... E recebe como resposta um 'declino', brincando e rindo junto. É muita ditadura, chamem os Direitos Humanos!".

Sabemos que uma figura como Felipe Neto vai distorcer tudo para seu lado, mas eis o ponto: talvez fosse o momento de Jair Bolsonaro, com muita seriedade, expor o regime de exceção em que mergulhou o país, sem rodeios, sem gracinha. Temos gente que morreu como preso político, várias idosas presas ainda, jornalistas censurados. Diante desse quadro, uma piada "sarcástica" pode ter um efeito ruim, de suavizar o que é grave demais.

Não consigo imaginar Corina Machado fazendo uma piada perante um tribunal fantoche do ditador Maduro. Estamos lidando com uma quadrilha comunista, e isso não tem a menor graça...

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