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A bilionária ponte baiana
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Deu no VALOR: Bahia planeja ponte bilionária ligando Salvador a Itaparica

Discretamente, o governo baiano costura um acordo em Brasília para emplacar aquele que tem tudo para ser um dos projetos de logística mais caros e polêmicos do país. Está em negociações avançadas no Ministério do Planejamento um aporte que pode chegar até a R$ 4 bilhões para ajudar o governo do Estado a erguer uma ponte de 12 quilômetros entre Salvador e a Ilha de Itaparica. A ponte seria a segunda maior da América Latina, só inferior à Rio-Niterói. Com obras complementares, o investimento necessário foi calculado pelo governo baiano em R$ 7,3 bilhões.

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O aporte do governo federal colocado na mesa de negociação varia entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões. O ministério deu sinal verde para que a transação avance. Nos próximos dias, o governo baiano pretende selar o acordo com o aval do Ministério dos Transportes, em um encontro com o ministro da pasta e ex-governador da Bahia, César Borges. Ao entrar para a lista vip do PAC, a ponte baiana passará a contar com repasses diretos de recursos federais. De quebra, ficará protegida de eventuais contingenciamentos de Orçamento da União.

Toda a operação está sendo coordenada diretamente pelo ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, que é atual secretário de Planejamento do governo da Bahia e pré-candidato do PT para disputar o governo do Estado nas eleições do ano que vem. Em entrevista ao Valor, Gabrielli confirmou as negociações com o governo federal e adiantou que pretende licitar a obra o mais rápido possível. Na últimas semanas, o governo baiano lançou uma série de editais para contratação de estudos de engenharia, viabilidade econômica e ambiental. Parte das empresas que farão esses estudos já foi contratada (ver texto abaixo). “É um projeto primordial para o nosso Estado. Estamos trabalhando para licitar a obra já no primeiro trimestre do ano que vem”, disse Gabrielli.

Só os estudos do projeto já custaram, até agora, quase R$ 100 milhões! O Ministério Público avisou que já está atento ao empreendimento, e que vai investigá-lo. Sempre que se junta bilhões de reais e governo na mesma frase, o bolso do “contribuinte” costuma ser o maior perdedor.

Chama a atenção também, claro, o fato de ser um estado sob gestão do PT. Será que um governo de oposição contaria com o mesmo tipo de tratamento? Quando o governo federal concentra tanto poder e recursos assim, esse tipo de risco de favorecimento é constante e ameaça a democracia e o sistema federalista.

Por fim, Sérgio Gabrielli, para quem não lembra, foi o presidente da Petrobras durante o governo Lula, o mesmo responsável pela grande deterioração no quadro financeiro da empresa, pelo pífio crescimento de sua produção, por operações contábeis entre a estatal e o governo federal que levantaram enormes suspeitas e afugentaram vários investidores estrangeiros e nacionais, e, ainda, pela compra da refinaria em Pasadena, na Califórnia, por valor bilionário que hoje não vale praticamente mais nada!

É um currículo de causar inveja… aos incompetentes que perdem seus cargos no setor privado! Porque no setor público, pelo visto, a incompetência é premiada. Pergunto ao leitor: você confiaria bilhões aos cuidados de Sérgio Gabrielli?

As cifras bilionárias dos petrodólares devem ter influenciado sua mente também. Octavio Paz, o Prêmio Nobel de Literatura mexicano, foi no alvo quando disse em O Ogro Filantrópico:

Por um lado, o Estado mexicano é um caso, uma variedade de um fenômeno universal e ameaçador: o câncer do estatismo; por outro, será o administrador da nossa iminente e inesperada riqueza petrolífera: estará preparado para isso? Seus antecedentes são negativos: o Estado mexicano padece, como enfermidades crônicas, da rapacidade e da venalidade dos funcionários. […] O mais perigoso, porém, não é a corrupção, e sim as tentações faraônicas da alta burocracia, contagiada pela mania planificadora do nosso século. […] Como poderemos nós, os mexicanos, supervisionar e vigiar um Estado cada vez mais forte e rico? Como evitaremos a proliferação dos projetos gigantescos e ruinosos, filhos da megalomania de tecnocratas bêbados de cifras e de estatísticas? […] Nos últimos 50 anos temos assistido com raiva impotente à destruição de nossa cidade, e de nada nos valeram as críticas nem as queixas: teremos mais sorte com nosso petróleo do que com nossas ruas e monumentos?

 

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