As condições que prevaleceram em 1968 contribuíram com um novo terreno para o sentimento revolucionário. Universidades foram tomadas por uma geração que atingiu a maturidade sem a experiência da guerra, e cujos antepassados tinham, em sua maioria, recebido pouca educação. Eles obtiveram este novo privilégio em circunstâncias de afluência e expansão, quando os últimos vestígios das tradicionais privações estavam sendo destruídos e desintegrados.
Nada é mais marcante do que o entusiasmo com o qual esse novo público recebeu os pensadores mais medíocres, tediosos e ignorantes, desde que estes tocassem algum acorde de afinidade radical. O comentador do futuro, olhando de volta às obras negligenciadas de Habermas, Williams e Althusser, achará difícil crer que estes pesados parágrafos uma vez capturaram corações e mentes de milhares e formaram a leitura básica dos cursos universitários de Humanidades e Ciências Sociais por todo o território da diáspora europeia.
Desde que esse comentador tenha paciência, descobrirá as razões para o apelo de tais escritores em uma geração alimentada pela promessa de “justiça social”. Os alunos dos anos 1960 e 1970, oriundos das mais diferentes classes sociais, educados inapropriadamente, fragilizados por sua ignorância da história e da cultura de seus ancestrais, estavam ávidos por doutrinação. E a doutrina tinha de conformar-se às duas necessidades que os agitavam: ela tinha que prometer, em um só e mesmo gesto, a liberação individual e a justiça social para as massas.
[,,,] Os novos pensadores desviaram sua atenção da difícil tarefa de descrever o futuro socialista e focaram na fácil diversão da destruição. Tornaram a fúria respeitável, e o bla-bla-bla a marca do sucesso acadêmico.
O longo trecho acima está nas páginas 22 e 23 de Pensadores da nova esquerda, de Roger Scruton, publicado no Brasil pela É Realizações. Trata-se de uma coletânea de ensaios escritos na década de 1980 sobre a Nova Esquerda, que tanto influenciou a visão de mundo nas duas décadas anteriores. Scruton, com ampla bagagem cultural, refinamento e elegância, demole o pensamento de intelectuais como Ronald Dworkin, Michel Foucault, Gramsci, Althusser, Habermas e Sartre.
Os radicais de 1968 queriam destruir tudo, a tradição, a cultura, a classe média, a “burguesia”, e encontraram um público afoito para endossar tal radicalismo. Eram os jacobinos intelectuais, os “iconoclastas” que pretendiam desmascarar a moral burguesa, sem nada colocar em seu lugar.
O socialismo era a promessa comum, e o ônus da prova cabia sempre ao seu oponente. Esses intelectuais partiam da premissa de superioridade moral, olhando para baixo como seres iluminados em meio a uma multidão de alienados. Mas o real objetivo, a necessidade premente da maioria deles, era mesmo destruir, dar vazão à sua fúria niilista, aplacar suas próprias angústias existenciais.
Muitos foram – e são até hoje – vítimas e cobaias dessa afetação intelectual, ela mesmo uma alienação disfarçada de superioridade moral. Uma curiosa e paradoxal pretensão de superioridade moral, quando os próprios intelectuais repetiam que não há moral, que tudo vale, que ninguém é melhor do que ninguém. O relativista moral que repete isso finge não perceber a contradição entre atacar toda a moral e posar de superior logo em seguida.
Rodrigo Constantino
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