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A maldição da linguagem racial
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Fonte: GLOBO

O sociólogo Demétrio Magnoli tem sido uma das vozes mais fortes contra a segregação do Brasil em “raças”, política em curso que começou ainda na gestão de FHC e se acelerou bastante com o PT no poder. Seus alertas, que endosso in toto, foram feitos por Thomas Sowell nos Estados Unidos também, e se mostram cada vez mais acertados.

Em sua coluna de hoje no GLOBO, Demétrio usa o caso do processo que o ministro Joaquim Barbosa moveu contra o jornalista Ricardo Noblat, para mostrar como essa linguagem racial está se instalando de forma gradual e imperceptível em nosso país.

Noblat usou o conceito coletivista de raça para identificar a personalidade do ministro, que teria apenas duas opções por ser negro: desenvolver um complexo de inferioridade ou a arrogância, uma “postura radicalmente oposta para enfrentar a discriminação”. Há, como mostra Demétrio, uma “cassação da personalidade de Joaquim Barbosa, a anulação de sua individualidade”.

Curiosamente, essa mentalidade é justamente aquela pregada e disseminada pelos racialistas defensores de cotas. São eles que têm tratado os brasileiros como membros de raças, não indivíduos. Há os negros, e os brancos, e tal característica seria definidora do sujeito. Como explica Demétrio:

O problema de fundo da representação é que o Estado brasileiro oficializou as “raças”, por meio de políticas raciais adotadas pelo Executivo, votadas pelo Congresso e avalizadas pelo Judiciário — inclusive, pessoal e diretamente, por Joaquim Barbosa. De acordo com as políticas raciais em vigor, fundaram-se “direitos raciais” ligados ao ingresso no ensino superior, na pós-graduação e em carreiras do funcionalismo público. Os indivíduos beneficiários das cotas privilegiadas são descritos como “representantes” de uma “raça” — do presente e, também, do passado histórico dos “negros”. Foi o próprio Estado que introduziu a “raça” (e, com ela, a linguagem racial!) no ordenamento político brasileiro. Os juízes que darão um veredicto sobre a ação contra Noblat provavelmente circundarão o problema de princípio — mas isto não o suprime.

Aos poucos, vamos nos acostumando a usar a linguagem racial, a definir as pessoas com base nesse conceito ultrapassado e anti-científico. Como diz Demétrio: “Cotas raciais não existem para promover justiça social, mas para convencer as pessoas a usarem rótulos de identidade racial”. E estão tendo sucesso nisso, não na “justiça social”. O que é péssimo para o país.

Estamos diante de uma “pedagogia da raça” com efeitos perversos para as liberdades individuais. Demétrio propõe duas frases, hoje consideradas subversivas, que combatem a noção racial como escultora de nossas almas:

1) Joaquim Barbosa é igual a todos os demais seres humanos, pois existe, sim, “uma identidade humana universal”;

2) Joaquim Barbosa é um indivíduo singular, diferente de todos os demais seres humanos, que são diferentes entre si.

Faz todo o sentido. Mas os coletivistas da raça não querem nada disso. Não querem enxergar indivíduos e suas singularidades, brasileiros cuja cor da pele é apenas mais uma característica, entre tantas outras (mais importantes). Querem segregar o país com base na “raça”, e vão acabar conseguindo.

Ontem mesmo os racialistas tiveram mais uma vitória. A Câmara aprovou cota para negros em concurso público do governo federal. Representa mais um passo na direção errada, que fortalece em vez de combater o próprio cerne da questão racial e do racismo: o foco exagerado e exclusivo na própria “raça”.

Rodrigo Constantino

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