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A péssima ideia do Banco e Fundo dos Brics
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Por Bernardo Santoro, publicado no Instituto Liberal

O grupo dos Brics (grupo de nações em desenvolvimento composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) estará reunido até hoje em Fortaleza para discutir, entre outros temas, a criação de um “Banco dos Brics”, que seria um banco de fomento para países e projetos do próprio Brics, com um aporte inicial de US$ 50 bilhões. Esses países sentiram a necessidade de criar tal banco devido a uma suposta falta de influência junto ao FMI e ao BIRD, entidades internacionais criadas a partir do tratado de Bretton Woods com a mesma finalidade do “Banco dos Brics”, mas para todas as nações.

Essa ideia simplesmente não é boa. Esses países em desenvolvimento têm reclamado da falta de acesso a crédito internacional desde a crise de 2008, quando a reestruturação da economia mundial levou a um maior escrutínio no momento de se conceder um empréstimo a um tomador, seja ele um país ou um agente particular. E isso não é ruim.

A maior parte dos problemas da crise de 2007/2008 se deu justamente pelo excesso de empréstimos concedidos sem as devidas garantias e sem o devido controle sobre quem estava tomando os recursos emprestados, o que criou uma imensa massa de tomadores de empréstimo sem capacidade de honrar os compromissos. No final das contas, a falta de critério levou a um prejuízo generalizado e à falta de poupança para empréstimos a pessoas que teriam condições de pagar. O “populismo creditício” pré-crise, de empréstimos para todos de qualquer jeito, e patrocinados por governos de todo o mundo, foi o principal causador da crise.

O FMI e o BIRD aprenderam a duras penas o quanto o “populismo creditício” é ruim para toda a sociedade, incluindo bancos, poupadores e tomadores responsáveis de empréstimos. Uma política austera de concessão de empréstimos é boa para todos.

A criação desse “Banco dos Brics”, nos termos em que tem sido ventilado, é uma tentativa de retorno ao “populismo creditício” internacional. Tal iniciativa, vindo da Presidente Dilma, não é de se estranhar, já que seu governo teve como uma das principais bandeiras o consumo como modelo de crescimento, sendo este consumo sustentado por taxas de juros artificialmente baixos em relação ao nível de poupança nacional. O resultado dessa política invariavelmente é a falta de poupança, falta de investimentos em inovação tecnológica e, por fim, falta de crescimento econômico de longo prazo. Esse “longo prazo” chegou aqui no país, e não é “Banco dos Brics” que vai ajudar nisso, pelo contrário, pois todo empréstimo, um dia, precisa ser quitado, e já não conseguimos quitar nossos empréstimos atuais.

Não podemos deixar ainda de lembrar que, como bancos submetidos ao Acordo de Basileia, podem vir a conceder empréstimos muito acima da sua real condição de empréstimos. Um banco normalmente alavanca empréstimos em até nove vezes o valor do seu capital, ou que significa que esse banco poderia emprestar até 450 bilhões de dólares sem tê-los, exponenciando a farra creditícia.

E pior ainda é o tal “Fundo dos Brics”, de 100 bilhões de dólares, garantido por China (41% do valor), Brasil (18%), Rússia (18%), Índia (18%) e África do Sul (5%) para países emergentes que tiverem “problemas no balanço de pagamentos”, o que é um eufemismo para irresponsabilidade fiscal. Na prática, se um governo gastar mais do que arrecada, o fundo concederá um empréstimo para bancar a farra de gasto público às custas dos governos e gerações futuras do povo do governo gastador. É um incentivo perene para a falta de austeridade com a coisa pública em um momento em que países do mundo todo apertam o cerco para tentar arrumar a gestão fiscal.

A continuar assim, daqui a pouco vamos ter “Banco da ALCA”, “Banco do Mercosul”, e “Banco da OPLP”, bem como seus respectivos fundos, todos ávidos por conceder empréstimos em cima de poupanças inexistentes, destruindo a capacidade de investimento em prol de consumo imediato ou de projetos baseados em retornos políticos e não econômicos, incentivamento ainda mais o desmazelo com as contas públicas.

Mas o que importa, se podemos sempre deixar a comissão certa com a pessoa certa?

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