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A raça humana
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Mais uma singela homenagem nesse Dia da Consciência Negra, uma resenha escrita para a revista Banco de Ideias do Instituto Liberal, com base no livro de Demétrio Magnoli:

A raça humana

A história da humanidade tem sido marcada por um pensamento racial que busca separar indivíduos com base no critério da cor. Após a “era das luzes”, o conceito de direitos naturais de cidadania foi capaz de reduzir esta mentalidade tribal, passando a adotar a idéia de que todos são iguais perante a lei. A política de raças se opõe a este avanço da modernidade, e tenta resgatar o racismo. É nesse contexto que o novo livro do sociólogo Demétrio Magnoli, Uma Gota de Sangue, merece destaque.

Ao expor a história do pensamento racial e suas graves conseqüências, o livro serve como um alerta no momento em que alguns grupos organizados tentam dividir o país em raças. Demétrio mostra como ONGs financiadas por poderosas instituições internacionais, como a Fundação Ford, têm empurrado a nação rumo a uma agenda política que enxerga apenas raças, e não indivíduos. Sem base científica, essas entidades procuram segregar os povos através do critério racial. Trata-se de uma herança maldita do “racismo científico”, dos tempos em que a etnia era vista como um divisor natural entre os homens, visão já devidamente refutada pela ciência.

Um dos casos mais nefastos está na Alemanha nazista. A idéia de uma “raça ariana” superior criou o pano de fundo que tornou possível a eugenia das políticas de Hitler. Na última página de Mein Kampf, Hitler diz: “Um Estado que, numa época de adulteração racial, devota-se ao dever de preservar os melhores elementos de seu estoque racial deverá um dia tornar-se o senhor da Terra”. Somente um arcabouço ideológico que separa os indivíduos em raças poderia gerar um líder com este tipo de crença.

Outro caso terrível de racismo encontra-se no apartheid. Sua legislação foi concebida em 1947, no interior do Escritório Sul-Africano de Assuntos Raciais, uma agência governamental. Tratava-se de uma medida política, que ignorava a existência de cidadãos, em troca da visão de raças. Conforme argumenta Demétrio, “o edifício jurídico do apartheid foi erguido sobre a Lei de Registro da População, de 1950, que classificou os sul-africanos com base em critérios etnorraciais”. Enquanto as tendências da economia de mercado apontam no rumo da integração, políticas de governo podem acabar segregando de vez indivíduos através de leis racistas.

Mais um caso estudado em detalhes pelo autor foi o americano. Os Estados Unidos figuram como o primeiro país a adotar leis antimiscigenação. Essas leis partiam da regra da gota de sangue única. Bastava a existência de um único ancestral não branco para excluir um indivíduo da categoria dos brancos. Um exército de intelectuais e acadêmicos sustentava o racismo através do multiculturalismo. Ao contrário do “racismo científico”, o multiculturalismo faz as etnias derivarem da cultura, e não da natureza. Ele confere uma nova legitimidade às tradições racistas, que enxerga a nação como uma confederação de nações étnicas, “cada uma delas com a sua cultura singular e com seus interesses igualmente singulares”. Não existem cidadãos iguais perante as leis, mas sim raças que devem selar um pacto de paz para permitir o convívio mútuo.

Eis que no Brasil, um país tradicionalmente mestiço, onde a maioria da população se considera “parda”, ONGs endinheiradas têm tentado importar esta realidade segregacionista, com o apoio do governo. Já começam a falar em uma “nação negra”, como se não existissem brasileiros, mas sim brancos e negros. Paradoxalmente, somem com os pardos nas estatísticas, para alimentar uma ideologia racista que não tolera a mestiçagem. Demétrio conclui: “Os brasileiros não aprenderam a separar as pessoas segundo o cânone do mito da raça. Nós imaginamos que as águas podem – e devem! – se misturar. Que a única raça importante é a raça humana”.    

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