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A verdadeira derrota brasileira: a goleada do dragão inflacionário
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Entendo que o clima hoje é de ressaca pela derrota humilhante da seleção ontem para a Alemanha. Mas que isso sirva, ao menos, para o despertar dos brasileiros para os verdadeiros problemas que o país enfrenta. A humilhação futebolística a gente aguenta, lembrando que ainda somos os pentacampeões do mundo. Mas a derrota para a inflação, esta é extremamente preocupante, pois afeta bastante a vida de milhões de brasileiros de maneira muito concreta. E não dá para se vangloriar aqui perante o resto do mundo.

É um problema feito em casa, produzido pelo governo, que tem sido negligente com a inflação desde o começo. O principal equívoco é ideológico: os desenvolvimentistas acreditam na Curva de Phillips, refutada teoricamente por Milton Friedman e empiricamente na década de 1970, com a estagflação. Ela diz que é preciso ter mais inflação para ter menos desemprego, e a equipe de Dilma acredita nessa falsa dicotomia com um fervor religioso.

Mas não é assim. A inflação é sempre inimiga do crescimento. Ao deixá-la sair de controle, o governo acreditou que haveria uma compensação na taxa de crescimento econômico. Não houve. Não obstante, o governo ainda insiste na falácia, afirmando que não vai combater a alta de preços com “arrocho” e desemprego. Com essa postura, o Banco Central, subserviente ao governo, mantém sua política monetária “atrás da curva”, ou seja, insuficiente para debelar a escalada dos preços. Eis o resultado:

IPCA 12 meses. Fonte: Bloomberg IPCA 12 meses. Fonte: Bloomberg

A linha branca representa o teto da banda da meta de inflação, que jamais deveria ser ultrapassado, e que apenas em casos esporádicos e temporários deveria ser alcançado. A linha grossa vermelha representa o centro da meta, ou mais especificamente a própria meta de inflação, de 4,5%, que já é um patamar bastante elevado para padrões internacionais. É fácil notar que essa jamais foi a meta real perseguida pelo governo Dilma.

O que todos já sabem, até a recepcionista do meu prédio, é que o Banco Central de Alexandre Tombini, obediente ao governo Dilma, mira no teto da banda como se fosse o centro. Ou seja, o governo se sente absolutamente confortável com uma inflação oficial de 6,5% ao ano. Mesmo quando o IPCA acumulado em 12 meses ultrapassa esse valor, as autoridades reagem com aparente tranquilidade, afirmando que o teto vale para o ano fechado.

Isso para não falar que essa inflação é obtida somente por meio de malabarismos, com muitos preços represados pelo governo, como a gasolina, as tarifas elétricas e de ônibus. São preços congelados artificialmente, de forma insustentável. Cedo ou tarde terão de subir, puxando o índice para cima e estourando (muito) o topo da elevada meta.

Sim, levar goleada da Alemanha incomoda, entristece, é humilhante. Mas eis aí a verdadeira goleada que deveria tirar o sono de todos os brasileiros: a do dragão inflacionário, alimentado pelos gastos públicos e uma política monetária frouxa. A derrota no futebol mexe com nossa autoestima talvez. A derrota na inflação mexe com nosso bolso, e retira alimentos de nossa geladeira. Que saibamos focar nas coisas mais importantes, pois a Copa já acabou para o Brasil, mas outubro vem aí…

Rodrigo Constantino

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