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Brasileiro ainda é contra privatização da Petrobras: falta ligar “lé” com “cré”
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Segundo uma pesquisa do Datafolha, a maioria da população brasileira é contra a privatização da Petrobras, mesmo após o escândalo que ficou conhecido como petrolão: 61% dos entrevistados no país disseram ser contra a privatização da empresa. Apenas 24% defenderam a venda do controle da companhia, que vive a maior crise desde sua criação, em 1953. Outros 5% se disseram indiferentes, e 10% não souberam responder. Foi a primeira vez que o instituto perguntou sobre o tema.

Pelo visto, pouco tem mudado nesse sentido, mesmo com tantos escândalos de corrupção envolvendo estatais ou abuso político e má gestão. Em Privatize Já, que lancei pela editora LeYa em 2012, escrevi na introdução: “Persiste entre os brasileiros uma visão bastante crítica ao processo de venda das empresas estatais. Uma pesquisa de 2007 feita pelo instituto Ipsos e encomendada pelo jornal O Estado de São Paulo mostrou que mais de 60% dos entrevistados são contra a privatização de serviços públicos. A maioria absoluta da população condena uma hipotética venda do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal ou da Petrobras. Pelo menos na opinião dos habitantes, privatizar não está na moda no Brasil”.

O livro foi minha tentativa de apresentar ao leitor argumentos fortes em defesa da privatização, em linguagem acessível e com muitos, muitos dados estatísticos. Infelizmente, boa parte da população, como podemos ver, continua imune aos argumentos racionais e aos fatos históricos. Muitos conseguem repudiar o PT, entendem que uma quadrilha se instalou na Petrobras para pilhar “nossa” estatal, mas na hora de chegar à conclusão lógica, de que o melhor remédio é tirar essa tentação e possibilidade da mão de políticos, o nacionalismo estatizante vem à tona e eles passam a rejeitar a privatização.

Curiosamente, outra pesquisa mostra que mais de 80% dos brasileiros acreditam que a presidente Dilma sabia da corrupção na estatal: De cada 10 brasileiros, 8 acreditam que a presidente Dilma Rousseff sabia da corrupção que acontecia na Petrobras, investigada pela força-tarefa da Operação Lava Jato. É o que mostra pesquisa Datafolha feita nos dias 16 e 17 em todo o país. Também é majoritária a parcela dos que acreditam que a petista, além de ter conhecimento do esquema, deixava que ele operasse livremente. Do total de entrevistados, 61% acham que ela “deixou” que ocorressem os crimes. Outros 23% dizem que, apesar de saber, Dilma “não poderia fazer nada” para impedir.

O antídoto contra o preconceito ideológico

Ou seja, a maioria entende que o governo, em seu mais alto escalão, usava a estatal para benefício próprio ou do partido, mas mesmo assim prefere preservar a empresa nas mãos do governo, na esperança de que outros governantes façam tudo diferente. Não nego que o governante faz diferença. Basta lembrar da gestão da Petrobras na era FHC, mais profissional, com presidentes respeitados e apartidários, mais blindada da politicagem. Mas ainda assim o mecanismo de incentivos não é o mais adequado para a maximização do valor da empresa, e o risco de uso político estará sempre presente.

O que me espanta é que tanta gente não seja capaz de ligar “lé” com “cré”, ou seja, o petrolão existe porque a Petrobras é estatal. Não temos o “Valão”, justamente porque a Vale foi privatizada, tornando-se uma empresa mais eficiente e livre da influência política (nem tanto, pois o governo petista continuou tentando controlar as decisões na empresa, por ainda ter os fundos de pensão estatais como acionistas majoritários). É pelo fato de a empresa ser estatal que ela pode cair nas garras de uma quadrilha disfarçada de partido. Por que não evitar tal risco transferindo seu controle para a iniciativa privada?

Há uma só explicação que consigo pensar, além da pura defesa de interesses pessoais: o preconceito ideológico. Os brasileiros foram acostumados a ver o estado como uma espécie de Deus laico, que iria cuidar dos interesses nacionais, enquanto olha para a iniciativa privada com profundo desdém e desconfiança. O lucro como motivador é desprezado por muitos, ainda que em suas vidas tomem decisões práticas buscando justamente maximizar seus ganhos. O lucro ou o ganho só é ruim quando é dos outros? É ideologia pura, desprovida de embasamento teórico ou empírico.

Não querem privatizar a Petrobras, decidindo manter o estado como empresário do petróleo, porque ainda caem na ladainha de que “o petróleo é nosso”, e que o estado será o melhor protetor de nossos interesses na empresa. Essa postura, vale notar, vem tanto da esquerda como da direita nacionalista. É não aprender nada com a experiência. É tapar os olhos para não enxergar a relação causal entre petrolão e controle estatal. Se ao menos deixassem o preconceito um pouco de lado para absorver os argumentos lógicos em defesa da privatização…

Rodrigo Constantino

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