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Nacionalismo canhestro: autoritarismo do governo limita análises econômicas
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A expressão foi usada por Merval Pereira em sua coluna de hoje: nacionalismo canhestro. Define bem a postura do governo Dilma. Diante de evidentes problemas econômicos, apontados por todos os lados, o governo prefere se fechar como um ouriço e acusar todos os críticos de conspiração ou “terrorismo eleitoral”, chegando até a pedir a demissão daqueles que apenas apontam fatos. Aécio Neves ironizou: o governo terá que pedir a demissão de muita gente. Conclui Merval:

O tal mercado financeiro está cheio de dúvidas e de advertências à política econômica do governo brasileiro, e nossas autoridades brincam de um nacionalismo canhestro, como se mobilizar sindicatos e militantes políticos para demitir analistas de mercado e desmoralizar banqueiros internacionais fosse melhorar a situação de nossa economia.

O caso do banco Santander foi o primeiro, seguido da consultoria Empiricus Research. Um de seus sócios questionou como fará análises independentes sem citar a óbvia correlação entre pesquisas eleitorais e movimentação das ações na bolsa. Como explicar, por exemplo, a alta recente da Petrobras, que tem tudo a ver com a queda de Dilma nas pesquisas?

Agora foi a vez de a Moody’s emitir alertas, seguida pelo FMI, que colocou o Brasil como uma das cinco economias mais vulneráveis do mundo. A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, disse que há 15 meses clama por reformas estruturais que possam colocar o país na rota do crescimento novamente, mas nada foi feito pelo governo Dilma. O ministro Guido Mantega preferiu atacar o FMI em vez de rebater os argumentos.

Ou seja, o governo Dilma parte para o ataque com seus espinhos na tentativa de se defender, incapaz de explicar o fracasso de seu modelo econômico. Obcecado apenas com as eleições, faz de tudo para intimidar os analistas, no afã de impedir análises independentes que, naturalmente, seriam críticas ao governo (é impossível ser imparcial e elogiar a gestão de Dilma). O editorial do GLOBO compara a reação de agora com aquela da época do mensalão, e diz:

A imprensa profissional conhece esta reação típica petista diante de informações que não agradem o partido. Foi assim no escândalo do mensalão, em cujo início o próprio presidente Lula pediu desculpas ao país. Logo depois, ele e partido passaram a negar o malfeito e a acusar a divulgação dos fatos como parte de um projeto “golpista”. O Santander, grupo financeiro espanhol, sabe agora o que significa contrariar o PT. O presidente mundial do banco, Emilio Botín, por coincidência em viagem ao Brasil, acompanha de perto a pedagógica experiência.

Para azar do banco espanhol, no Brasil, em que o Estado tem grande ingerência na economia, o setor financeiro é particularmente vulnerável à ação regulatória dos governos. A mudança de uma resolução do Banco Central, numa penada, pode produzir milhões: em lucros ou prejuízos.

A postura autoritária de Dilma lembra aquela de Kirchner na Argentina, e o próprio Santander sofreu na pele esse mesmo ataque lá. Conheço investidores que estiveram com representantes do banco na Argentina e disseram que, oficialmente, não era possível emitir críticas contundentes ao governo, mas que em “off” afirmavam que tudo estava um caos e as perspectivas eram terríveis – o que foi confirmado pelos fatos. Conclui o jornal:

Em alguma medida, o Brasil de Dilma lembrou a Argentina de Cristina Kirchner. Lá, quando a economia estava subordinada ao truculento secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, escritórios de consultoria que divulgassem estimativas independentes da inflação eram punidos com pesadas multas. Moreno e Casa Rosada queriam impedir comparações com a inflação oficial, manipulada.

O Brasil, felizmente, devido a suas instituições, está muito distante da Argentina kirchnerista. Mas os governos têm cacoetes muito parecidos.

O nacionalismo canhestro de Dilma pode ter sido um tiro que saiu pela culatra. Sim, conseguiu intimidar o Santander e cobrar um covarde pedido de desculpas, pois o banco não quer ficar mal na foto com um governo tão poderoso. Mas serviu para despertar da sonolência qualquer um que ainda estivesse hibernando, vivendo no mundo da lua sem se dar conta de como o PT realmente age.

Agora todos, sem exceção, sabem muito bem que o PT não admite críticas e análises independentes, e fará de tudo para calar todos aqueles que ousarem levantar fatos. O ouriço despertou mais reação com seus espinhos…

Rodrigo Constantino

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