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O mercado deve ser escravo da democracia?
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Delfim Netto foi mais um a tecer loas ao novo guru das esquerdas, o economista francês Thomas Piketty. Em sua coluna de hoje na Folha, o “Sarney da economia” (há décadas em torno do poder) fez coro aos elogios de Paul Krugman e Joseph Stiglitz, os queridinhos dos intervencionistas pois trazem junto às bobagens pregadas o Prêmio Nobel de Economia, dando respaldo a elas. Disse Delfim:

Como de costume, a esquerda apressada viu nisso o espectro de Marx, e a direita retardada, apenas o resultado do mérito!

Os números de Piketty sugerem que o “capitalismo competitivo” está dando lugar a um “capitalismo patrimonialista”. É importante insistir que ele rejeita toda grande história com suas leis determinísticas. A concentração da renda é, basicamente, resultado de decisões do sistema político. Em palavras que não são de Piketty, o processo civilizatório depende de um jogo paciente e dialético entre duas instituições fundamentais: a urna (em que cada cidadão tem apenas o seu voto) e o mercado (no qual cada cidadão tem votos proporcionais à sua riqueza), que exige que elas sejam independentes entre si, o que não é um problema trivial. Se o mercado se apropria da urna, o processo civilizatório entra em estagnação ou em regressão. Se a urna se apropria do mercado, temos o populismo, que termina no autoritarismo.

A esquerda apressada viu no novo ídolo o resgate do marxismo, mas convenhamos: não foi tão apressada assim. Qualquer um que recomende 80% de taxação sobre os mais ricos terá sempre os aplausos dos marxistas do mundo todo, e com razão! Já a “direita retardada” (reparem na sutil diferença dos adjetivos negativos para cada lado) acha que a concentração de renda é fruto do mérito. Ora, nem toda!

Mas alguém quer mesmo negar o mérito de Bill Gates, Steve Jobs, Michael Dell, família Walton (Wal-Mart), Jorge Paulo Lehmann, etc? O problema não são esses bilionários, e sim aqueles, muito mais comuns em países menos capitalistas e mais intervencionistas, cuja fortuna tem total ligação com o estado. Carlos Slim deveria incomodar mais do que Larry Elisson (Oracle), Sergey Brin (Google) e Mark Zuckerberg (Facebook), ricaços que acumularam fortunas no livre mercado oferecendo produtos desejados pelos consumidores.

Logo, o problema é sim o capitalismo patrimonialista, ou o “capitalismo de laços”, ou o “capitalismo de estado”, que em muitos lugares vem substituindo o capitalismo competitivo. Mas qual a solução? Aumentar impostos? Dar mais poder ao estado? Expandir o intervencionismo? São as receitas de Krugman e da esquerda. São absurdas, pois fortalecem o monstro que pretendem derrotar.

A “dialética” entre urna e mercado tem restringido cada vez mais a liberdade do mercado, em boa parte devido às demandas populistas instigadas pelas esquerdas. Gente como o próprio Krugman tem enorme responsabilidade pelo problema, ao demandar sempre mais intervenção estatal, queda artificial da taxa de juros, etc. Krugman é o melhor amigo dos capitalistas de laços! Diz Delfim:

Nos EUA, Piketty afirmou: “Acredito na propriedade privada, mas o capitalismo e o mercado devem ser escravos da democracia, e não o oposto”. Ao contrário do que pensam alguns economistas, o amadurecimento do capitalismo não leva, necessariamente, à maior igualdade ou à maior liberdade de iniciativa, duas componentes essenciais do processo civilizatório.

Quem acredita na propriedade privada submetida, escrava da democracia, não acredita na propriedade privada coisa alguma! Apenas usa uma retórica falsa que oculta o desprezo pela propriedade privada de fato. Aristóteles já questionava em seu livro Política: “Se, por serem superiores em número, aprouver aos pobres dividir os bens dos ricos, não será isso uma injustiça?”. Será. E se a democracia for apenas a escolha da maioria, poderemos facilmente cair na “tirania da maioria” onde a propriedade privada não vale nada. Tocqueville também fez vários alertas para esse risco. Democracia sem liberdade pode ser tirania disfarçada.

O inimigo é o capitalismo de estado, o excesso de intervenção estatal na economia, os subsídios, os privilégios, as barreiras protecionistas, as taxas de juros manipuladas e artificialmente reduzidas, impostos excessivos, complexos e altamente progressivos, enfim, aquilo que gente como Krugman costuma defender. A saída é o capitalismo liberal clássico.

Rodrigo Constantino

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