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Por que Mantega é o recordista de tempo à frente da Fazenda?
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O ministro Guido Mantega está há 8 anos à frente do Ministério da Fazenda, o mais importante de todos. É um recordista. Mas quando se avalia o currículo, o conhecimento econômico, o perfil, algo não bate. Por que, então, Mantega está há tanto tempo em cargo tão importante e poderoso?

Rogério Werneck, professor da PUC, responde em sua coluna de hoje no GLOBO, contando a resumida história dos últimos 8 anos e o que estava em jogo nas decisões tomadas por Lula e Dilma. De forma bem simplificada, Palocci foi uma raridade para os padrões petistas, um médico que representava o bom senso econômico, símbolo da “Carta ao Povo Brasileiro” escrita por Lula.

Mas vieram os escândalos que forçaram sua renúncia, e também o mensalão, que esquentava a chapa do próprio Lula. Era preciso soltar as amarras da heterodoxia, matar o bom senso, abrir o cofre das finanças públicas e jogar a chave fora. Era necessário, em suma, ter alguém que dissesse sempre “sim” aos anseios do Executivo, com sua compulsão por expandir gastos públicos. Mantega era o cara certo para tal meta.

Aos mercados, era vendida a ideia de que isso seria algo temporário. Nada mais arriscado do que oferecer algumas doses a um dependente alcoólatra em abstinência. É tentador demais. O Brasil cresceu 7,5% em 2010, Dilma foi eleita, e a conta ficou para depois. Mas Mantega foi mantido no cargo. O PT gostou da brincadeira, e o Executivo não desejava alguém com firmeza protegendo os cofres públicos da fome estatal. Werneck conclui:

A confirmação de Mantega como ministro da Fazenda do novo governo não chegou a surpreender. A mudança relevante deu-se em nível mais alto. A responsabilidade pela formulação e pela condução da política econômica, que antes cabia à ministra-chefe da Casa Civil, foi assumida pela própria presidente da República.

O desfecho dessa longa história é bem conhecido. Crescimento pífio, inflação estourando o teto da meta, contas públicas desacreditadas e grave desequilíbrio nas contas externas. Lula reclama que “poderíamos estar melhor”. Claro que sim. Poderíamos. Mas agora é tarde. O País está colhendo o que Lula e Dilma plantaram nos últimos oito anos.

Como fica claro, é pura perda de tempo condenar Mantega. Venho dizendo o mesmo aqui há meses. A revista britânica The Economist chegou a pedir sua cabeça, mas tudo isso é cortina de fumaça. Engana-se aquele que pensa que Mantega representa a “nova matriz” econômica, ou seja, o velho e fracassado nacional-desenvolvimentismo. É a própria Dilma quem dá as cartas.

Se Mantega sair, quem entra? Luciano Coutinho? Belluzzo? Pois é. O modelo fracassado vem de cima, e Mantega é apenas o garoto de recados, o estagiário que obedece ordens, um ministro fraco que está em cargo tão poderoso justamente por ser fraco. Portanto, respondendo a pergunta inicial, Mantega é recordista no Ministério da Fazenda por endossar a política monetária equivocada da presidente e seu antecessor. Mirar nele como culpado é errar o alvo.

Rodrigo Constantino

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