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Turismo: a imensa oportunidade desperdiçada
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A cidade do Rio recebeu 471 mil turistas estrangeiros e 415 mil nacionais durante a Copa do Mundo. O número superou em 47,6% os 600 mil visitantes esperados na cidade. Somente argentinos, foram 77 mil, seguidos por chilenos (45 mil) e colombianos (31 mil).

A arrecadação no setor de turismo foi quatro vezes maior do que o esperado: R$ 4,4 bilhões. O gasto médio foi de R$ 639 por dia. O balanço foi divulgado na manhã desta terça-feira em entrevista coletiva do secretário municipal de Turismo, Antonio Pedro Figueira de Mello, e do presidente da RioEventos, Leonardo Maciel, no Centro de Operações da prefeitura.

Quase todos os turistas disseram que recomendariam o Rio como destino. O que isso tudo mostra é como há enorme potencial no Brasil em geral e no Rio em particular para explorar mais o turismo. A Copa do Mundo é um evento único, claro, não serve de parâmetro, e o retorno sequer compensa o gasto público, em boa parte desviado para “elefantes brancos” agora sem uso.

Mas era para o Rio receber essa quantidade de turistas todo mês, independentemente de jogos ou eventos! O leitor acha que exagero? Veja, então, o ranking de turismo internacional organizado pela UNWTO:

Turismo

O Brasil não é a França, país cheio de charme e história no meio da Europa. Tampouco é como os Estados Unidos. Mas convenhamos: a Itália, mesmo com toda a sua riqueza cultural, receber oito vezes mais turistas por ano do que nós? A Alemanha receber seis vezes mais? Isso faz algum sentido? Não parece muito aquém do potencial nosso turismo?

Com nossos quase 6 milhões de turistas por ano, estamos na mesma faixa da Argentina ou da Tunísia!  Não recebemos nem sequer o dobro de turistas que vão visitar o Chile! Isso com nosso lindo litoral espalhado por cerca de 8 mil quilômetros e um clima tropical que faz muito gringo morrer de inveja e confundir nosso inverno com seu verão.

O Rio é um caso à parte. Era para a cidade maravilhosa receber, sozinha, essa quantidade de turistas que vêm ao Brasil por ano. Os bares cariocas ficaram animados durante a Copa, o clima era de camaradagem, de alegria, apesar dos casos isolados de confusão. E nossa beleza natural é inigualável.

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Fui a um bar no Leblon na véspera da final, e pude verificar o clima contagiante com a presença dos estrangeiros. É o que vemos com mais frequência nas capitais turísticas mundo afora. Por que essa não pode ser a regra por aqui?

Responder a isso é explicar o nosso fracasso. Para começo de conversa, a segurança. Houve policiamento intenso durante a Copa, fundamental para garantir a sensação de segurança dos convidados. Não há solução fácil aqui, mas é preciso avançar muito.

As UPPs são apenas o começo. É preciso combater a criminalidade com força, acabar com tanta impunidade, ocupar as áreas dominadas ainda pelos bandidos. O problema é fazer isso em meio a uma elite de artistas e “intelectuais” que prefere só cuspir na polícia, tratar bandidos como “vítimas da sociedade”, condenar a presença da PM nas favelas. Assim fica difícil.

Há, ainda, a questão da baixa qualidade da mão de obra. Se o Rio pretende seguir sua vocação turística, um setor de serviços eficiente é condição sine qua non. Os funcionários devem saber falar bem inglês e espanhol. Precisam ser bem educados, bem treinados. A máxima capitalista de que o cliente tem sempre razão precisa ser melhor absorvida por aqui.

Novamente, o complicado é conseguir isso com uma elite que repete que o uso de expressões em inglês é coisa de “colonizado”, destilando um antiamericanismo patológico típico de quem sofre do complexo de vira-latas. Ou com uma elite que acha o máximo aparentar ser molambo, para se sentir “em casa” no barzinho e como se isso fosse incompatível com um serviço mais profissional e eficiente.

Depois vem a questão dos transportes públicos e da infraestrutura. Um metrô decente que leve o turista aos principais pontos da cidade é crucial. Estradas melhores para outras localidades paradisíacas, como Angra dos Reis, poderiam ajudar também. Aeroportos melhores. São coisas que podem muito bem ficar sob os cuidados da iniciativa privada, desde que o governo ofereça um arcabouço institucional decente e maior segurança jurídica. Difícil é fazer isso com uma elite que condena o lucro capitalista como se fosse pecado.

Por fim, o Rio não é mais um destino barato, como muitos puderam verificar durante a Copa. E isso não tem nada a ver com uma “inflação da Copa”, mas com a carestia da cidade mesmo. Parte do problema tem a ver com o câmbio valorizado artificialmente pelas intervenções do Banco Central, para conter a inflação. Isso impede que nossa moeda vá para um preço mais de equilíbrio de acordo com a oferta e a demanda do mercado, que alguns analistas estimam como algo entre R$ 2,80 e R$ 3,00 por dólar.

Difícil é conseguir isso com uma elite que aplaude um governo intervencionista, como se pudesse controlar os preços de mercado de cima para baixo, ou que ignora as causas estruturais da nossa inflação, produzidas pelo próprio governo ao expandir seus gastos e o crédito público, mantendo uma política monetária frouxa.

Enfim, quando vemos todo o potencial turístico que tem o Rio de Janeiro em especial e o Brasil como um todo, só podemos lamentar mais uma grande oportunidade desperdiçada. São dezenas de bilhões de dólares que deixamos na mesa, e que poderiam estar gerando mais empregos e renda para os brasileiros.

Para reverter isso, não adianta contar com grandes eventos isolados; é preciso muito trabalho sério e árduo para combater nossas enormes falhas estruturais. Resta saber se as elites estão preparadas para mudar seus conceitos e focar naquilo que produz bons resultados?

Rodrigo Constantino

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