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Venezuela atira no mensageiro. Ou: O que os olhos não vêem…
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Deu no GLOBO: Venezuela censura divulgação da violência

16.072. Esse é o número de pessoas que perderam suas vidas nas mão de criminosos no ano passado na Venezuela. O número representa uma taxa de 56 homicídios por 100 mil habitantes, a segunda mais alta do mundo, somente superada por Honduras. Esta estatística não agrada ao governo, que durante o mandato do falecido Hugo Chávez optou por tirar o tema da agenda, suprimindo os números oficiais sobre a violência no país e acusando quem fazia referência ao tema com dados extraoficiais de tentar ampliar o problema. Mas, agora, o governo optou por outra estratégia: punir quem obtém informações por outros meios e as publica.

Pelo menos foi isso que aconteceu com o jornal “El Nacional”, que foi condenado no início do mês por um tribunal de crianças e adolescentes a pagar uma multa equivalente a 1% de suas vendas brutas e foi proibido de publicar fotos de “conteúdo violento, onde aparecem armas, agressões físicas, com sangue ou cadáveres nus”, sob o argumento de que tais imagens violariam os direitos das crianças ao desenvolvimento sadio.

A medida foi uma resposta a uma fotografia que mostrava o interior de um necrotério de Caracas, onde apareciam dezenas de corpos de vítimas de crimes ou de acidentes de trânsito, alguns empilhados no chão e desnudos. A imagem, que foi publicada na primeira página do “El Nacional” em agosto de 2010, buscava denunciar o estado de colapso em que se encontrava a medicina forense da capital.

— Em qualquer lugar do mundo, uma imagem assim teria provocado a queda do ministro do Interior ou do chefe da polícia, mas aqui a solução é castigar quem expôs a situação. É decidir matar o mensageiro, não a mensagem — lamenta Mercedes de Freitas, diretora da Transparência Venezuela, filial local da organização internacional que procura combater a corrupção e promover maior acesso a informações públicas.

O “socialismo do século 21” é muito parecido com aquele do século anterior. Como o socialismo sempre leva ao caos social, à miséria e ao terror, a criminalidade tende a explodir. Qual a reação do governo? Aquilo que socialistas melhor sabem fazer: censura!

O que os olhos não vêem o coração não sente… Governos autoritários adoram controlar a imprensa, pois assim impedem que os fatos cheguem ao público. O sonho da “democratização da imprensa”, que muitos petistas, inspirados justamente no modelo bolivariano, ainda tentam tornar realidade no Brasil, passa exatamente pela ideia de matar o mensageiro, para não ter que lidar com a mensagem.

A liberdade de imprensa é um dos pilares mais importantes de qualquer democracia. É quem joga luz sobre as trevas, quem desinfeta o mofo do poder. Os autoritários de hoje aprenderam a embalar o desejo de controle com motivos nobres, mas a real intenção segue intacta.

Os limites do que pode ou não ser mostrado ao público, a que público, que horário etc, serão temas de debates complexos, e alguma regulação poderá ser necessária. De preferência, sempre indicativa: “inadequado para menores de 18 anos”, por exemplo. E os pais julgam, pois sabem cuidar melhor dos próprios filhos, via de regra.

Reconheço que haverá sempre uma região cinzenta entre autonomia familiar e regras universais de um estado-nação, que nem sempre será de fácil solução. Mas devemos pecar mais pelo excesso de liberdade, do que pelo excesso de repressão e controle.

O caso venezuelano é um ótimo lembrete das razões disso. Um governo autoritário sempre usará a prerrogativa de “proteção dos interesses nacionais” para asfixiar as liberdades individuais. Querem quebrar o termômetro para não mostrar a febre. À violência das ruas, soma-se a violência do próprio governo de impedir o acesso da população a essa informação importante.

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