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O morde e assopra de Bolsonaro e o abuso do STF
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As manifestações em apoio a Bolsonaro neste fim de semana em Brasília foram significativas, com vários quilômetros de carros na carreata e milhares de pessoas se aglomerando perto do Palácio do Planalto. Não podem ser ignoradas ou descartadas como "atos antidemocráticos" apenas.

Da mesma forma que condeno qualquer populista que fala em nome do "povo" de forma monolítica, ignorando que o povo é múltiplo e diverso, é preciso lembrar, por coerência, que cada um ali na manifestação é um indivíduo, e que não é justo culpar todos pelos atos de alguns.

O presidente Bolsonaro disse, nesta segunda-feira, que as agressões a jornalistas durante ato em Brasília foram feitas por infiltrados. “Se houve agressão, é alguém que está infiltrado, algum maluco e deve ser punido. Não existe agressão. Agora vaia e apupo é parte da democracia", afirmou, na saída do Palácio da Alvorada.

No último domingo, um fotógrafo e um motorista do jornal Estadão foram agredidos fisicamente, mas jornalistas de outros veículos também foram hostilizados. Ministros do STF e entidades condenaram as agressões.

Corporativismo da mídia é quando militantes disfarçados de jornalistas, da patota "ninguém solta a mão de ninguém", protegem a turma e negam o viés ideológico; quando há agressão ou intimidação a jornalistas, porém, não é corporativismo repudiar tais atos, e sim defesa da liberdade de imprensa.

Não resta dúvidas de que Bolsonaro, se não estimula tais comportamentos, ao menos faz vista grossa a eles. Não dá para reduzir a alguns "malucos infiltrados" essa conduta, quando tantos bolsonaristas justificam nas redes sociais esse comportamento. Muitos acham que é para atacar mesmo a imprensa, "inimiga da nação". E parcela nada desprezível deseja, de fato, o fechamento do Congresso e do STF.

Bolsonaro sabe disso, e mantém a chama de uma reação golpista acesa. Ele usa isso como instrumento de dissuasão aos golpistas do outro lado, a turma que adoraria rasgar a Constituição para derruba-lo na marra e utilizar o STF para legislar e governar.

Como constatou José Maria Trindade no Jornal da Manhã hoje, muitos em Brasília avaliam que Bolsonaro lança balões de ensaio para testar as reações, ver onde há maior resistência e onde tem apoio. No final, porém, o presidente cumpre as decisões institucionais. Critica, o que é legítimo, mas segue o que foi determinado.

Não tentou, por exemplo, insistir com o nome de Alexandre Ramagem para a Polícia Federal, o que é bom sinal. Seria esticar ainda mais a corda, a ponto de possivelmente rompê-la. Melhor a tática do morde e assopra. Até aqui, em que pese o tom elevado dessas manifestações e arroubos retóricos preocupantes do presidente, o fato é que as regras (sujas) do jogo estão sendo seguidas. Nem tanto, cabe dizer, pelo próprio Supremo, quem deveria ser justamente o guardião da nossa Constituição...

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