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Precisamos elevar o nível do debate
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Precisamos elevar o nível do debate, fugir do tribalismo, da boçalidade. Mas isso não será possível enquanto os "liberais" que pregam moderação rejeitarem qualquer participação de quem apoia parte do governo nesse diálogo, mas receberem de braços abertos radicais de esquerda.

Assim como faz mais mal do que bem detonar sites obscuros chapa-branca ao mesmo tempo em que se enaltece militantes disfarçadas de jornalistas com perfil não só esquerdista, mas totalmente autoritário e arrogante. O povo percebe o duplo padrão e isso só atrapalha o diálogo.

Essa postura alimenta o pior lado do bolsonarismo. Qual o sentido em tratar Ciro "Retroescavadeira" Gomes, ou China Gomes, como um interlocutor legítimo da democracia, mas excluir defensores de Bolsonaro, cujo governo ainda conta com Paulo Guedes, Rogério Marinho, Tereza Cristina, Tarcísio Gomes de Freitas etc?

Esse duplo padrão é percebido e levanta a bola da ala mais radical do bolsonarismo. Vejamos o caso de Sergio Moro. É perfeitamente legítimo criticar a forma com a qual escolheu sair, atirando no ex-chefe, acumulando mensagens de maneira que soa premeditada. Mas daí a transforma-lo num traidor infiltrado para destruir o "mito" vai uma longa distância.

Concordo que há certa ironia no fato de Moro ter deixado de ser um espião da CIA para virar um espião da KGB. Ambas as narrativas, convenhamos, são patéticas...

Bolsonaristas mais aguerridos e fanáticos repetem que o presidente representa "o povo" contra traidores de todos os lados. Governante algum incorpora o desejo do tal Povo. Isso não existe. Soa jacobino, rousseauniano, totalitário. O povo brasileiro é formado por mais de 200 milhões de pessoas com perfis distintos, ideologias variadas, desejos pessoais.

Quando se faz esse tipo de crítica, uma parte dos seguidores mostra as garras: “Desce do muro, escolha um lado, você é bipolar”. É perfeitamente possível repudiar o viés da mídia, o centrão oportunista e a atuação do STF, e também a agressão ou intimidação a jornalistas e a conversa golpista de fechar Congresso e STF. Meu lado é o Brasil.

Bolsonaristas resgataram imagens de agressões de petistas a jornalistas ou cidadãos. Sim, a esquerda radical é boçal. Sim, a mídia dá destaque diferente, tem claro viés. Mas isso NÃO justifica agredir ou mesmo intimidar e expulsar jornalistas e falar em golpes. Um erro não anula outro.

Bolsonaro diz que chegou ao seu limite, e subiu o tom. Mas como constatou o editorial da Gazeta, "Envolver o Brasil inteiro em um conflito aberto entre poderes quando o país agoniza em meio a uma crise dupla – econômica e de saúde pública – é passar completamente do limite".

"Há lealdades maiores do que as pessoais", escreveu Moro no Twitter. Estou de acordo. Sejamos fieis aos nossos valores e princípios. Pessoas, sempre imperfeitas, podem nos decepcionar. Vamos subir o nível do debate. Vamos falar mais de ideias e menos de pessoas.

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