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Tratamento precoce: e se ficar provado que funciona?
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Numa pandemia, devemos relaxar alguns critérios rigorosos da ciência e experimentar um pouco mais. Afinal, com base em estimativas incertas de um vírus ainda pouco conhecido, autoridades pregam medidas drásticas que acarretam em prejuízos enormes para a população.

Nessas circunstâncias, exigir as mais robustas comprovações em testes duplo-cego randomizados para remédios de baixo risco que aparentam eficácia por observação empírica parece um preciosismo esquisito, para dizer o mínimo.

Mas como tudo foi extremamente politizado na pandemia, o uso do tal tratamento precoce não seria exceção. Muitos começaram a demonizar essa alternativa, chamar de "negacionistas" os que defendiam tal caminho, e até ridicularizar quem falasse em Ivermectina ou Hidroxicloroquina. Ironicamente, eram os mesmos que abraçaram com fé cega as vacinas produzidas em tempo recorde e com testes limitados.

Cansados da excessiva politização da pandemia, e preocupados com os riscos desnecessários a milhões de pacientes, alguns médicos cobraram uma postura do Conselho Federal de Medicina. Entre eles está o Dr. Paulo Porto de Melo, com quem já conversei algumas vezes em entrevistas. O que esses médicos desejam é um posicionamento oficial do CFM, lembrando que quem afirmar a ineficácia poderá ser responsabilizado depois, caso fique comprovada a sua eficácia.

Uma coisa, portanto, é alegar o caráter inconclusivo das pesquisas; outra, bem diferente, é garantir que o tratamento precoce não funciona. Os autores explicam o intuito com o requerimento: "Como prerrogativa legal imbuída pela legislação em vigor, cabe ao CFM normatizar terapêuticas novas para que seja instituído ou não o caráter experimental ou até mesmo compassivo, seguindo os melhores preceitos bioéticos. O objetivo desta solicitação é defender a medicina como um todo, onde todos os médicos possam estabelecer a melhor relação médico paciente possível sem cerceamentos, sejam os que prescrevem ou os que não prescrevem tais medicações. Acima de tudo, novo posicionamento do CFM permitira segurança jurídica para que todos possam acolher, acompanhar e dar suporte aos pacientes neste momento tão crucial para a humanidade."

Os autores não se baseiam apenas em "achismo", como os críticos do tratamento precoce dão a entender. No texto que apresenta os argumentos e os casos de sucesso, consta essa passagem: "A medida que o tempo foi passando e o número de publicações crescendo, surgiram as primeiras metanálises, que agregaram um nível de evidência muito maior, por meio do agrupamento de estudos menores, por intermédio de critérios científicos, propiciando atingir um nível de significância estatística mais alto. Assim, a realidade presente no início da pandemia, de que não havia evidência científica que amparasse a utilização dos fármacos reposicionados, foi paulatinamente se modificando, com resultados tanto favoráveis quanto desfavoráveis para utilização de uma ou outra droga."

A quantidade de citações é impressionante, especialmente para quem se acostumou a ler na imprensa que não há qualquer evidência de eficácia, ou pior, que está comprovada a ineficácia do tratamento precoce. Esta semana mesmo tivemos mais um estudo, liderado pela Universidade de Liverpool e pelo respeitado Dr. Andrew Hill, concluindo que o uso da Ivermectina levou a uma queda gigantesca na quantidade de óbitos.

Diante de tudo isso, o presidente do CFM, Mauro Luiz de Britto Ribeiro, publicou um artigo na Folha de SP este domingo alegando que o Conselho Federal de Medicina não mudará o parecer que garante a autonomia sobre o tratamento precoce. Ele abre o texto reconhecendo que se sabe muito pouco sobre o novo vírus, o que deveria ser motivo para uma disposição maior de experimentação. O presidente também coloca em dúvida outras "certezas" disseminadas pela mídia: "Existem inúmeras questões que aguardam respostas da ciência em relação à Covid-19. Cito algumas: o 'lockdown' previne mais a transmissão do que medidas de distanciamento social? Pacientes que já contraíram a moléstia estão imunes? A mutação do vírus é mais grave do que a forma anterior?"

Em seguida, o autor chama de criminosa a politização da pandemia, assim como condena a banalização do uso do termo ciência. Ao relatar que grupos de médicos pressionam o CFM de todos os lados, o presidente confessa não ter ainda a resposta: "Existem na literatura médica dezenas de trabalhos científicos mostrando benefício com o tratamento precoce com as drogas citadas acima. Outros tantos apontam que elas não possuem qualquer efeito benéfico contra a Covid-19. Em outras palavras, a ciência ainda não concluiu de maneira definitiva se existe algum benefício ou não com o uso desses fármacos."

Ora, se há estudos para ambos os lados, diz o bom senso que cabe ao médico decidir com o paciente, ainda mais numa pandemia. O CFM, de fato, delibera que é decisão do médico assistente realizar o tratamento que julgar adequado, desde que com a concordância do paciente infectado — elucidando que não existe benefício comprovado no tratamento farmacológico dessa doença e obtendo o consentimento livre e esclarecido.

Ou seja, o CFM não vai ceder aos grupos que exigem uma declaração oficial da suposta ineficácia do tratamento precoce, até porque poderia ser responsabilizado por isso caso, no futuro, estudos mais robustos atestem sua eficácia. O parecer nº 4/2020, então, não apoia nem condena o tratamento precoce ou qualquer outro cuidado farmacológico — tampouco protocolos clínicos de sociedades de especialidades ou do Ministério da Saúde. Ele respeita a autonomia do médico e do paciente para que ambos, em comum acordo, estabeleçam qual tratamento será realizado.

Esta me parece a postura mais adequada na situação. Mas causa espécie a demonização que o tratamento precoce recebe de certos meios. Nas redes sociais você pode até ser censurado só por publicar as pesquisas favoráveis a esses remédios. É um espanto! É como se tivesse uma turma grande interessada no seu fracasso, torcendo por ele, e colocando todas as fichas nas vacinas.

Podemos entender a preocupação legítima de quem acha perigoso ou irresponsável afirmar que há uma cura para o Covid-19, o que levaria ao relaxamento de muitos sem a garantia do resultado. Mas chega a ser bizarro ver esse ataque todo ao tratamento precoce dos mesmos que pregam o lockdown como se fosse uma panaceia, sendo que não há qualquer evidência científica de sua eficácia. E ainda fazem isso buscando monopolizar a fala em nome da ciência, o que é absurdo.

A ciência, como vimos, mostra que há estudos atestando a eficácia do tratamento precoce, e outros que dizem o contrário, ou seja, ainda é inconclusiva. Mas não é essa a mesma situação das vacinas hoje?! E esses remédios em questão não apresentam baixo risco, são amplamente conhecidos pelos médicos e são utilizados há décadas para outras doenças? Então qual a lógica de demonizá-los dessa forma, e tratar com desprezo os médicos que os defendem?

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