Após quase seis meses de Tarcísio de Freitas (Republicanos) à frente do governo de São Paulo, as críticas à linha editorial da TV Cultura, emissora da Fundação Padre Anchieta, se mantêm principalmente por aqueles que apoiaram a candidatura de Tarcísio com base nos valores conservadores que ele defende.
Como uma emissora pública e que recebe recursos do governo estadual, a TV Cultura vem sendo questionada por manter uma linha editorial de esquerda, principalmente em seu jornalismo, através dos convidados e entrevistadores de programas como o Roda Vida e o viés das reportagens do noticiário.
As tentativas do governo Tarcísio, por sua vez, de aumentar a pluralidade de ideias acrescentando nomes de direita na organização, por enquanto, estão sendo fracassadas. O caso mais recente foi a indicação pela secretária de Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, Marilia Marton, do nome do cineasta Josias Teófilo para o Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta, que tem entre as atribuições "estabelecer as diretrizes da programação".
Conservador, Josias ficou conhecido principalmente pelo filme O Jardim das Aflições, sobre Olavo de Carvalho e a filosofia dele. Após a apresentação de seu nome, no entanto, a reação de integrantes do conselho foi de repugnância.
"Alguns membros do conselho falaram que não sentariam comigo de jeito nenhum e, se fosse eu o indicado, eles renunciariam".
Cineasta Josias Teófilo
"Detalhe que eles não sabem nada sobre mim, a única coisa que sabem é que fiz um filme sobre o Olavo", diz Teófilo. A secretária, porém, que na ocasião reclamou sobre a falta de diversidade do conselho, afirmou que continuará insistindo no nome de Teófilo.
No lugar dele lugar, Marton indicou então o nome de Aldo Valentim, que foi secretário nacional de Economia Criativa na gestão de Jair Bolsonaro (PL). Em uma eleição que teve atipicamente a participação de todos os membros do conselho, Valentim foi eleito com 70% dos votos, o menor índice entre todos os outros oito nomes indicados.
Bastidores da TV Cultura
Em conversa com especialistas em comunicação e integrantes do conselho, a avaliação é que a linha editorial da TV Cultura não é passível de influência direta das gestões à frente do governo do estado devido à própria estrutura organizacional.
Na Empresa Brasil de Comunicação (EBC), por exemplo, responsável pela TV Brasil, os membros do Conselho de Administração e a Diretoria Executiva são indicados diretamente por ministros do Executivo Federal e pelo presidente da República, o que permite uma influência política direta na programação.
Já o Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta tem 47 membros na composição, sendo 20 "integrantes natos", entre eles reitores de universidades, presidentes de sociedades e fundações e secretários municipais e estaduais de São Paulo. Além deles, há três nomes vitalícios, um escolhido entre os funcionários e os 12 demais são eletivos. O presidente é eleito entre os membros.
Outro ponto a ser considerado é que o conselho não tem função "executiva" direta na programação da emissora, mas apenas define parâmetros gerais. Dessa maneira, a escolha dos conteúdos veiculados ficaria a cargo dos próprios profissionais que estão no dia a dia da emissora. De acordo com ex-funcionários da empresa, esses são admitidos na maioria por indicação de colegas, mantendo assim o perfil ideológico majoritariamente "de esquerda".
Questionada sobre como são escolhidos os conteúdos veiculados, a emissora respondeu à Gazeta do Povo que "tem uma Diretoria Executiva formada exclusivamente por profissionais experientes que já atuaram em outras grandes emissoras. Juntamente com uma equipe competente de colaboradores, faz uma programação voltada a todos os públicos, com imparcialidade, independência e respeito à diversidade cultural, social, racial e de gênero."
Sobre a influência que o governo do estado de São Paulo tem sobre a emissora, a assessoria de imprensa do veículo respondeu à Gazeta do Povo que "a TV Cultura e as Rádios Cultura são públicas e educativas, não são rádios e televisão estatais. Embora dependam parcialmente de recursos públicos, as emissoras também geram receitas próprias. A independência, a imparcialidade e, principalmente, a autonomia serão sempre marcas da emissora."
Apesar destas declarações, a avaliação nos bastidores é que o governo Tarcísio poderia influenciar de maneira mais contundente na emissora por meio do repasse de verbas. Caso a programação desagrade demais, ela poderia ser reduzida como "moeda de troca" para um viés editorial mais favorável.
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