Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
De olho em 2026

Privatizações, cracolândia e alinhamento político: como começa o 2° mandato do prefeito de São Paulo

Após uma eleição disputada na capital paulista, Ricardo Nunes (MDB) tenta se cacifar como liderança no estado.
Após uma eleição disputada na capital paulista, Ricardo Nunes (MDB) tenta se cacifar como liderança no estado. (Foto: Isaac Fontana/EFE)

Ouça este conteúdo

Para além do imbróglio das últimas semanas envolvendo o serviço de motos oferecido por empresas de transporte de aplicativos e acusações de perseguição a trabalhadores do segmento, o prefeito da maior cidade do país, Ricardo Nunes (MDB), estrutura este segundo mandato municipal tendo como destaque um pacote de privatizações. A proposta, que abrange a venda de empresas municipais, pretende avançar para a ampliação de parcerias público-privadas (PPPs) e o encerramento de atividades de empresas consideradas obsoletas na cidade de São Paulo.

No campo social e de saúde, renova-se a cobrança social para respostas do poder público ao problema histórico da cracolândia na região central. O plano é revitalizar a área, transformando-a em um polo turístico e comercial da capital. Por enquanto, a cracolândia é palco de outra polêmica: a construção de um muro de segregação.

Entre os aliados, Nunes pretende consolidar seu posicionamento ideológico. Conhecido como um político do espectro de centro durante os oito anos que integrou o corpo parlamentar na Câmara Municipal de São Paulo, e na sequência como vice-prefeito de Bruno Covas, Nunes busca se firmar como um representante da ala mais à direita, após ter tido o apoio dos padrinhos Jair Bolsonaro (PL) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) nas acirradas eleições municipais de 2024.

VEJA TAMBÉM:

Privatizações ganham impulso no 2°mandato de Ricardo Nunes

A Secretaria Executiva de Desestatização e Parcerias, criada em 2019, será reforçada para alinhar a prefeitura de São Paulo à política estadual de privatizações e PPPs que é um dos carros-chefe da gestão de Tarcísio de Freitas. Subutilizada até agora, a secretaria será um dos pilares desta nova gestão municipal.

Entre os primeiros projetos está a privatização das ciclofaixas, implementadas em 2013 na gestão Fernando Haddad (PT), frequentemente criticadas por moradores e especialistas em mobilidade urbana. Também está prevista a terceirização de centros esportivos municipais.

Inspirado na iniciativa do governo de São Paulo para a área da educação, Nunes planeja delegar a manutenção e gestão administrativa das escolas municipais a empresas privadas, enquanto a gestão pedagógica permanecerá sob controle da prefeitura. Além disso, o prefeito planeja reduzir a máquina pública, começando pelo encerramento das atividades da SPTrans.

As funções de fiscalização dos contratos de concessão de ônibus serão transferidas para a Agência Reguladora de Serviços Públicos do Município de São Paulo (SPRegula). “A SPTrans é uma boa empresa, mas podemos aproveitar seus bons profissionais em uma estrutura mais enxuta, sem os custos elevados que temos hoje”, afirmou Nunes em declaração feita em novembro. O anúncio da mudançachega depois de ter vindo à tona a investigação que mira na interferência do crime organizado no transporte público de São Paulo.

Rodrigo Prando, cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, analisa os desafios das privatizações que estão no horizonte de Ricardo Nunes. “Reduzir o tamanho do Estado e buscar eficiência são ações positivas, mas é importante considerar as críticas feitas durante a eleição, especialmente sobre a concessão de energia e dos cemitérios”.

VEJA TAMBÉM:

Cracolândia se mantém como cobrança a Ricardo Nunes

Sob pressão para apresentar soluções efetivas para a cracolândia, o prefeito Ricardo Nunes ergueu um muro de 2,5 metros de altura e 40 metros de extensão na Rua General Couto Magalhães, no bairro Santa Ifigênia. A barreira pretende separar usuários de drogas de moradores e comerciantes. A prefeitura afirma que o número de frequentadores da região caiu significativamente nos últimos anos, de cerca de 4 mil pessoas para 700 usuários, cálculo que é fruto de monitoramento diário com o uso de drones.

Uma tentativa de dispersar os usuários deslocou-os para ruas menos movimentadas, afastando-os de áreas comerciais e residenciais. A medida envolveu operações da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana. No entanto, os usuários retornaram rapidamente às regiões centrais, como os bairros da Luz e Santa Ifigênia.

Desde o início de 2024, ações conjuntas entre as forças de segurança municipal e estadual miram na redução do tráfico de drogas no perímetro. Apesar das prisões em flagrante e do patrulhamento em zonas periféricas, crack, cocaína e drogas sintéticas como a K9 continuam chegando em grande escala à região.

Nunes também enviou equipes de saúde e assistência social para abordar os usuários e oferecer tratamento voluntário em alojamentos municipais. Embora respaldada por especialistas, a adesão é baixa: de cada 10 abordagens, apenas uma ou duas pessoas aceitam ajuda, segundo apuração da Gazeta do Povo.

O vice-prefeito de São Paulo, Ricardo de Mello Araújo (PL), foi designado para liderar as ações na cracolândia e, segundo a gestão, faz visitas frequentes à região. Para o cientista político Rodrigo Prando, o problema da cracolândia exige mais do que medidas paliativas. “A questão é complexa e demanda tempo. Soluções como o muro são pontuais, mas representam uma tentativa, ainda que limitada, de oferecer uma resposta à sociedade paulistana”, avalia.

VEJA TAMBÉM:

Alinhamento à direita deve ganhar força em busca de sucessão a Tarcísio

Nunes busca consolidar sua posição no espectro da direita e da centro-direita após o apoio recebido de Tarcísio e do ex-presidente Bolsonaro na campanha pela reeleição. O prefeito pretende reforçar seu alinhamento político e distanciar-se de propostas associadas à esquerda.

Historicamente visto como um político de centro durante os dois mandatos como vereador, Nunes orientou seus secretários a evitarem projetos alinhados à esquerda. Apesar de críticas da direita sobre o espaço cedido na composição do secretariado, vereadores reconhecem como avanço a ausência de nomes ligados à esquerda, como a ex-secretária Marta Suplicy (PT) na gestão anterior.

Segundo apuração da a Gazeta do Povo, Nunes planeja se posicionar como principal sucessor de Tarcísio em 2030. Com dois mandatos como prefeito, ele acredita ser um nome forte para disputar o governo estadual, vislumbrando uma dobradinha com Tarcísio na Presidência e Nunes no Palácio dos Bandeirantes.

Para isso, o prefeito deve utilizar a base aliada para aprovar pautas ideológicas na Câmara dos Vereadores, como projetos pró-vida, repressão a conflitos de território, rejeição à ideologia de gênero e oposição ao uso de câmeras nos uniformes da GMC. Prando avalia que Nunes precisará intensificar o diálogo com o eleitorado de direita.

“Ele não é um bolsonarista raiz, mas deve acenar à direita para consolidar seu espaço. Um secretariado alinhado e posicionamentos sobre temas como câmeras corporais na GCM são passos nessa direção”, afirma o cientista político.

VEJA TAMBÉM:

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.