Quatro deputados da ala da direita na Assembleia de Legislativa de São Paulo (Alesp) criaram um grupo composto pela própria base do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para fiscalizar e cobrar o Governo do Estado. Segundo os parlamentares, algumas pautas prioritárias para a direita têm sido negligenciadas pelo Executivo estadual, além de o governador paulista estar fazendo o que consideram "acenos exagerados" a representantes políticos da esquerda.
Os fundadores do bloco informal são todos deputados do Partido Liberal: Tenente Coimbra, Major Mecca, Gil Diniz e Lucas Bove. O grupo deve abrigar de 10 a 12 parlamentares, tornando-se a terceira maior bancada da Alesp, atrás do próprio PL e do PT, ambos com 19 deputados.
Conforme apurado pela reportagem da Gazeta do Povo, parte dos deputados da ala da direita em São Paulo estão insatisfeitos com projetos que o governador vem deixando em segundo plano. Também há descontentamento com o tratamento que o Governo do Estado vem adotando com os deputados que se intitulam como “direita raiz”.
“O fortalecimento de algumas pautas que estão sendo esquecidas e de alguns espaços que deputados do PSDB estão ocupando. Uma voz singular é mais fraca do que uma voz em grupo. Algumas pautas já deveriam ter saído, como a escola cívico-militar”, aponta o deputado estadual Tenente Coimbra.
Na visão do parlamentar, "todo mundo virou a base do governo e alguns são da base só para ter as benesses. Com isso, algumas vozes estão se destoando. Nós somos as vozes da base com pautas de costumes, não podemos perder o tom de quem colocou a gente aqui. É uma união dessas vozes, inclusive de outros partidos, para ter um posicionamento mais firme dentro da Assembleia, sempre respeitando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador Tarcísio”, afirma Coimbra.
“Somos a base, mas não somos alienados. Caso venha um projeto que não concordamos, não vai ser um deputado contra. Vão ser 10 e obviamente não vai passar”.
Deputado estadual Tenente Coimbra (PL-SP)
Ele reforça que os parlamentares devem seguir votando com o governo. “Não é um grupo de oposição, muito pelo contrário: a nossa taxa de votação com o governo é maior que do próprio Republicanos. Os quatro deputados estão presentes em todas as votações”, evidencia Coimbra.
O deputado estadual Gil Diniz esclarece que o grupo vai votar a favor da privatização da Sabesp e da reforma administrativa, mas refuta outras pautas propostas por Tarcísio. “Somos favoráveis nesses projetos (privatização da Sabesp e reforma administrativa), não somos um grupo para boicotar o governador. Ontem mesmo estávamos presentes na para votar o projeto do ICMS, todos esses quatro deputados, mas o governo não conseguiu o quórum necessário, ou seja, quem está sabotando o Tarcísio não são os bolsonaristas”.
“Nessa semana, o governador falou em pauta racial. Não falamos nada disso em campanha e resolvemos mostrar a nossa posição porque a gente vem sendo cobrado pelos nossos eleitores e essa não é a nossa pauta."
Deputado estadual Gil Diniz (PL-SP)
Diniz acrescenta que o propósito é fazer uma crítica construtiva ao governador. "Ele precisa da gente na aprovação dos projetos. Ele quer agradar a esquerda. A gente também quer sinalizar para o nosso eleitor. Criamos uma força independente na Alesp”, reforça ele.
Outro parlamentar que integra o grupo, Lucas Bove caracteriza o bloco como independente, formado por deputados mais próximos a Bolsonaro. "É um grupo suprapartidário, esperamos inclusive a adesão de outros partidos. O bolsonarismo veio para ficar, é uma corrente muito forte e merece ser representada na maior casa de leis da América Latina. Passa, sim, por algumas insatisfações da postura do governador. O grupo tem o objetivo de defender as pautas e o legado do Bolsonaro”, diz.
Para Bove, o governador se esqueceu de pautas defendidas pela direita em São Paulo. “Escolas cívico-militares: o projeto está parado sob o risco de não conseguirmos ter as escolas para o ano que vem. A câmera no peito dos policiais é algo que está nos incomodando muito desde o início do mandato. O aceno a personalidades que claramente são contra nós, como os elogios exagerados que ele tem feito a ministros do Supremo e ao presidente Lula. Esse apoio ostensivo à reforma tributária, indo contra o Bolsonaro. A ansiedade dele em firmar parcerias com prefeitos para a corrida às prefeituras”, elenca Bove.
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