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Boulos, Salles e Nunes medem forças de padrinhos políticos na eleição de São Paulo.
Boulos, Salles e Nunes medem forças de padrinhos políticos na eleição de São Paulo.| Foto: Montagem/Gazeta do Povo (Divulgação/Câmara dos Deputados/José Cruz e Rovena Rosa/Agência Brasil)

Os pré-candidatos que aparecem como os mais bem colocados nas sondagens de voto para a prefeitura de São Paulo - e que tentam derrubar o plano de reeleição do atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB) - vão colocar à prova a transferência de voto de seus respectivos padrinhos políticos.

O deputado federal Guilherme Boulos (Psol) conta com a popularidade do presidente Lula (PT), que costurou o nome da vice na chapa da esquerda, que terá a ex-secretária de Relações Institucionais de São Paulo, Marta Suplicy. A dupla terá apoio de Lula e de membros do alto escalão do governo federal, como o ministro da Fazenda e ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT).

Além de perder a sua secretária de Relações Institucionais, Nunes ainda não tem a confirmação do apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), apesar de esse aceno ter sido confirmado pelo presidente da sigla, Valdemar Costa Neto. Bolsonaro ainda não se pronunciou oficialmente sobre o tema este ano. Caso se confirme o apoio do ex-presidente à reeleição de Nunes, o PL indicará o vice na chapa. Segundo apuração da Gazeta do Povo, o nome pode vir da área da segurança pública.

Nesta semana, Nunes conseguiu uma confirmação importante: o apoio do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). “O que a gente tem aqui é uma grande parceria de trabalho”, disse Tarcísio à imprensa. Diferente de ocasiões recentes, em que os dois entraram em contraponto, na declaração de apoio o governador paulista não poupou elogios ao prefeito, afirmando que ele é “comprometido com a cidade”.

O atual prefeito da capital ainda tem a seu favor o poder da máquina pública, fator que ajudou a decidir a última eleição paulistana em 2020, quando Bruno Covas derrotou Guilherme Boulos.

Já a situação de Ricardo Salles é um pouco mais complexa. O pré-candidato já desistiu e voltou atrás de concorrer à prefeitura de São Paulo e também luta pelo apoio de Bolsonaro. Salles conta com uma boa relação com o ex-presidente, de quem foi ministro do Meio Ambiente, e tem mais afinidade política com Bolsonaro do que Nunes. Porém, Salles esbarra num acordo partidário antigo entre o PL e o MDB, partido de Nunes - e o presidente do PL já deixou claro que prefere cumprir com o acordo. Salles tem figurado em terceiro lugar nas últimas pesquisas, mas empatado tecnicamente com o atual prefeito.

Tarcísio, Alckmin e Kassab podem pesar na balança da eleição em São Paulo

O governador paulista desfruta de boa aprovação na capital do estado e pode transferir votos ao seu candidato.

O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), apoiará, no primeiro turno, a candidata do seu partido, Tabata Amaral (PSB), que terá José Luiz Datena (PSB) como vice. A deputada federal figura em quarto lugar nas pesquisas recentes de intenção de voto. Caso ela não avance para um eventual segundo turno, Alckmin deve se juntar à Lula e apoiar Boulos. O ex-governador paulista possui bom trânsito em muitas áreas da capital.

Por sua vez, o secretário de governo de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), foi um dos primeiros a anunciar o seu apoio, que será ao atual prefeito, que deve contar com uma coligação partidária superior a 10 partidos. Prefeito de São Paulo de 2006 a 2013 e presidente nacional do PSD, Kassab é o responsável pela liberação de emendas para as prefeituras, o que também pode favorecer Nunes.

Mais da metade dos paulistanos aprovam gestão Nunes

Em levantamento divulgado no dia 13 de dezembro pelo Instituto Paraná Pesquisas, a gestão de Ricardo Nunes era aprovada por mais da metade dos paulistanos. A administração municipal foi avaliada como ótima ou boa por 33,2% dos entrevistados. Outros 35,1% avaliaram como regular e 30% como ruim ou péssima. A pesquisa mostrou ainda que 55,3% dos entrevistados aprovavam a gestão Nunes, enquanto 41,1% desaprovavam. Não souberam ou não responderam somaram 1,6%.

Na avaliação da gestão estadual, 36,2% opinaram com o conceito de bom ou ótimo, enquanto 31,8% consideraram como regular e 30,2% disseram ser ruim ou péssima. Para 52,5%, a gestão de Tarcísio foi aprovada e 43,8% desaprovavam. Outros 3,7% não souberam ou não responderam.

Já na percepção do governo federal, 36,7% das pessoas ouvidas consideraram a gestão do presidente Lula boa ou ótima, 28,4% regular e 33,5% ruim ou péssima. A administração do petista foi aprovada por 55,1% do total, enquanto outros 42% desaprovaram e 3% não souberam ou não responderam. O instituto entrevistou 1.046 eleitores entre os dias 6 e 9 de dezembro. A pesquisa possui um grau de confiança de 95%, com margem de erro de 3 pontos percentuais.

Cientistas políticos apontam polarização e chances de Boulos, Salles e Nunes

Para Rogério Schmitt, cientista político do Espaço Democrático, os temas locais serão novamente o fator determinante na decisão de voto dos paulistanos. "Nesse sentido, vejo esta eleição como um plebiscito sobre a gestão do prefeito Ricardo Nunes. A política nacional tende a desempenhar um papel coadjuvante, especialmente no primeiro turno”, opina.

Schmitt aponta que o governador de São Paulo e o vice-presidente da República têm maior peso no interior do estado. “Tanto Alckmin como Tarcísio são lideranças muito fortes no estado, com grande potencial de transferência de votos. Por outro lado, ambos têm mais força no interior do estado do que na capital”.

O cientista político avalia que, se Nunes souber usar a máquina pública a seu favor, isso será mais forte que eventuais padrinhos políticos. “O controle da máquina da prefeitura é habitualmente mais decisivo que qualquer outro fator numa eleição municipal, pois confere ao prefeito o apoio de subprefeituras, vereadores, cabos eleitorais e diretórios partidários", responde, fazendo ressalva:

"O problema do atual prefeito é que ele é um virtual desconhecido para boa parte do eleitorado. Como herdou a prefeitura de Bruno Covas, este será o seu primeiro teste real nas urnas”.

Cientista político Rogério Schmitt

A polarização é considerada inevitável e prejudicial, na avaliação do cientista político e professor do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) José Álvaro Moisés. “Eleições em São Paulo sempre têm uma dimensão nacional porque é a maior cidade do país, com um orçamento maior que alguns países vizinhos. Por causa disso, é inevitável que ressoe a disputa entre as duas principais lideranças do país, Lula e Bolsonaro. Isso significa que muitos temas nacionais que traduzem a polarização entre o bolsonarismo e o lulismo farão parte da disputa entre Boulos e Nunes. O risco que isso envolve é que os candidatos minimizem o tratamento dos temas locais que são importantes para a cidade, como mobilidade urbana, plano diretor, segurança e o sistema de saúde".

Para Moisés, os apoios do ex-governador e do atual certamente vão alavancar as candidaturas, mas o peso da máquina pública épode sermaior. “Alckmin tem uma boa imagem em São Paulo, fez bons governos e terá seu peso, mas Tarcísio, ainda que tenha alguns pontos muito criticados em seu governo, não terá peso menor. Aliás, isso vale também para Nunes, que tem a máquina local em suas mãos. Esse é um aspecto que o sistema político brasileiro ainda não resolveu: quem disputa estando no cargo se beneficia e desequilibra a igualdade que deveria haver entre os candidatos”, afirma o docente. Contudo, ele observa: “Em todo caso, isso vale mais quando o mandatário está fazendo um bom governo, o que não é seguro que seja o caso de Nunes”, opina Moisés.

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