Fundador do PT deixa a sigla sob críticas de falta de democracia no partido

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Elói Pietá, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT), deixou a legenda após o diretório municipal de Guarulhos (SP) vetar a candidatura dele para a prefeitura da cidade. Ele estava na sigla há mais de 40 anos.

“O PT na cidade de Guarulhos está sendo menos democrático que o Partido Republicano nos Estados Unidos. Lá pelo menos tem as primárias e aqui isso foi proibido".

Elói Pietá

Em entrevista concedida ao jornal O Globo, Pietá disse que queria e que tinha demanda para que ele fosse candidato. "Mas foi rompida a norma da democracia interna e o PT não aceitou realizar a escolha pelos 25 mil filiados que o partido tem na cidade, como determina o estatuto. Apenas 35 membros escolheram que o candidato será aquele que estava em quarto ou quinto lugar nas pesquisas”, disse o ex-prefeito.

O pedido de desfiliação foi protocolado nesta terça-feira (23) no diretório do PT em Guarulhos. O documento, ao qual à reportagem da Gazeta do Povo teve acesso, pede a desfiliação imediata do fundador. Há um temor por parte dos petistas de que a esposa dele, Janete Pietá, também deixe a sigla. Ela foi a vereadora mais votada da cidade na última eleição e responsável por puxar outros nomes para a Câmara dos Vereadores de Guarulhos.

O ex-prefeito afirmou que não procurou a alta cúpula do PT, como o presidente Lula (PT) ou a presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann, para se queixar da situação. Apesar da que é considerada uma "traição" do partido, Pietá disse que buscará uma sigla que componha a base aliada do governo federal.

“Pretendo estar num partido que apoie o governo Lula e ser candidato de uma frente ampla que também tenha contato com o governo estadual. O Solidariedade tem manifestado que quer estar junto nessa frente, mas tem muitos outros, como PDT, PSB, MDB, Rede. Vou dialogar com meus companheiros do PT, tem muita gente comigo. Não estou aconselhando que ninguém deixe o partido, cada um tem a liberdade de decidir. Eu saio porque a legislação eleitoral me obriga a estar filiado a um partido para me candidatar”, afirmou o ex-petista.

Elói Pietá: fundador do PT e principal nome da sigla em Guarulhos

Elói Pietá, 79 anos, é um dos fundadores do PT. No início da década de 1980 venceu sua primeira eleição para vereador em Guarulhos. Na Câmara Municipal ficou por dois mandatos e chegou a ser presidente da Casa. Em 1990, foi eleito deputado estadual por São Paulo. Na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), o petista ficou por três mandatos consecutivos.

No meio do terceiro mandato como deputado estadual, Pietá concorreu pela primeira vez à prefeitura de Guarulhos e foi eleito, em outubro de 2000. Ele foi reeleito ainda no primeiro turno quatro anos depois.

Pietá deixou a prefeitura em 2008 e no ano seguinte assumiu a vice-presidência da Fundação Perseu Abramo, onde ficou até 2012. Ele continua integrando o conselho da instituição.

Nos anos seguintes, Pietá acumulou derrotas em sua carreira política. Em 2016 tentou novamente ser prefeito de Guarulhos, mas não conseguiu sequer ir para o segundo turno. Em 2018, tentou ser candidato a governador de São Paulo, mas perdeu as prévias do partido para o candidato Luiz Marinho (PT).

Ainda em 2018, Pietá tentou uma vaga para deputado federal, mas obteve pouco mais de 60 mil votos e não foi eleito. Em 2020, o agora ex-petista tentou novamente a prefeitura de Guarulhos, mas ficou em segundo lugar. Ele perdeu para o atual prefeito, Guti (PSD).

O PT, que barrou a tentativa de Pietá de concorrer a prefeito de Guarulhos pela quinta vez, deve escolher o deputado federal Alencar Santana (PT) para a disputa de outubro. O parlamentar é vice-líder do governo na Câmara. Segundo apuração da Gazeta do Povo, o deputado recebeu o aval de Lula para concorrer ao cargo.

Com cerca de 1,3 milhão de habitantes - a segunda cidade mais populosa do estado - e um dos maiores Produtos Internos Brutos (PIBs) do Brasil, Guarulhos é considerado estratégico para o PT. Em caso de vitória de Santana, o partido aposta em uma possível dobradinha com Guilherme Boulos (Psol), caso o candidato da esquerda vença na capital paulista.