O temporal enfrentado pela cidade São Paulo no início do mês - que deixou mais de 1,4 milhão de imóveis sem energia elétrica, com ventos que ultrapassaram 100 km/h e contribuíram para a queda de cerca de 2 mil árvores - acarretou novo debate público sobre o enterramento de fios do serviço, como proposta para se evitar outros registros de apagões.
Na capital paulista, alguns bairros nobres contam com o enterramento em áreas bem específicas. São 65 quilômetros de fios enterrados, enquanto a rede completa da cidade conta com cerca de 20 mil quilômetros de cabos elétricos, segundo dados da Enel, empresa privada responsável pelo serviço.
O prefeito paulistano Ricardo Nunes (MDB) cogitou o enterramento dos cabos elétricos, eliminando a relação de atingimento da estrutura de energia durante temporais com fortes ventos. Para evoluir com a proposta, Nunes chegou a sugerir a criação de uma taxa. Pela argumentação dele, a prefeitura não teria condições de custear os R$ 20 bilhões que o projeto custaria.
"Não farei de forma obrigatória. A ideia é fazer com que a gente possa apresentar, sei lá, pega um quarteirão de um bairro qualquer, se quiser aderir uma parte da prefeitura entra e o munícipe entra com outra parte e a gente consegue acelerar a questão do enterramento", disse Nunes, em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes no último dia 6.
Após a repercussão sobre a possibilidade da nova taxa, o prefeito voltou atrás e disse que “não tem a menor hipótese de criação de taxa”. Avenidas como Paulista, Nove de Julho e Angélica contam com o enterramento dos fios na capital paulista, mas isso representa menos de 1% de toda fiação da cidade.
O professor do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da USP José Aquiles Grimoni questionou os valores indicados pelo prefeito para enterrar os cabos elétricos. “O campus do Butantã da USP foi todo enterrado faz uns 15 ou 20 anos e não custou tudo isso, porque o terreno é favorável, tem muito gramado, assim fica mais fácil de fazer o enterramento. Em outros lugares terá que quebrar calçada ou rua, mas também existem técnicas bem mais simples que podem utilizar a fiação dentro da valeta ou, então, pode ser feito embaixo da terra com uma máquina parecida com o tatuzão do metrô”, disse o engenheiro.
Nunes chegou a mencionar que o enterramento dos cabos custaria dez vezes mais do que o cabeamento área, que é a realidade atual.
O engenheiro eletricista da USP refuta: “não é dez vezes mais caro do que a fiação área. Se o local favorecer, diria que é duas ou três vezes mais”. Para Grimoni, o projeto de enterramento de cabos elétricos é algo a ser estruturado a longo prazo.
“A indústria que faz o enterramento não está preparada. Isso são anos de projeto, uma década ou mais, é um projeto que transcende a prefeitura, é um projeto de estado".
José Aquiles Grimoni, professor do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da USP
De acordo com ele, é inviável fazer o enterramento em curto prazo. "Teria que fazer um plano e priorizar áreas que têm hospitais e órgãos públicos essenciais, mas é difícil porque cabo enterrado não dá voto para ninguém e todo ano discutimos isso”, reclama o professor.
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