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Cerca de mil casos

Infiltração do PCC, disputa por rotas e redes sociais: as suspeitas sobre ataques a ônibus em SP

Desde o início do ano, o estado de SP contabilizou cerca de mil ataques a ônibus, intensificados nas últimas semanas.
A Polícia Civil investiga os atos de vandalismo como parte de uma ação orquestrada, mas até agora não tem respostas concretas para os ataques a ônibus, que chegam a mil casos no estado de SP neste ano " intensificados nas últimas semanas. (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

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O problema só piora e a população da região metropolitana de São Paulo não consegue mais ignorar o assunto. Agora, o mistério chegou também à Baixada Santista, no litoral do estado. Após mais de um mês do início dos ataques e pelo menos três vítimas feridas — incluindo uma idosa, uma criança e uma mulher internada com ferimentos graves — os passageiros dos ônibus na maior cidade do Brasil estão com medo de entrar no transporte coletivo para ir ao trabalho, para casa ou cuidar da vida no geral.

Desde o início do ano e especialmente a partir do dia 12 de junho, quando se intensificaram as pedradas contra os vidros dos ônibus em pleno movimento em São Paulo, foram contabilizados quase mil ataques — o pico foi em 7 de julho, com 59 casos em um único dia. Além da capital, houve registros em Taboão da Serra, Santo André e São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Em Cubatão, no litoral, três ônibus de viagem também foram alvos de ataques.

Os criminosos atingiram até vans de transporte especial para pessoas com deficiência e ônibus que circulam em locais como a Avenida Paulista, cartão-postal da capital, e põem em risco a segurança de passageiros, motoristas e cobradores. Sob pressão, nesta semana, em entrevista à GloboNews, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) criticou a demora da Polícia Civil em descobrir o quê, afinal, está acontecendo.

Em um único dia, 59 ataques a ônibus foram registrados em São Paulo.

A Polícia Civil, por sua vez, informa que investiga os atos de vandalismo como parte de uma ação orquestrada, mas até agora não tem respostas concretas para o crime. Enquanto isso, a sensação de insegurança da população dispara e o prejuízo das companhias de transporte, sobe. 

“Está complicado, para sair e voltar tenho que pegar um ônibus entre minha casa e a estação de trem”, afirma à Gazeta do Povo a trabalhadora doméstica Marilza Soares, de 56 anos, moradora de Guaianases, na periferia de São Paulo. “Na volta do serviço, geralmente já depois de umas 19h, 20h, eu tenho até evitado pegar o ônibus e ido andando mais uns 20 minutos até em casa, com medo dessa história”, diz.

“O problema é que isso não é seguro também. Muita gente é assaltada por motoqueiro andando na rua por aqui, então ficamos realmente sem ter para onde correr, tentando a cada dia escolher o risco menor", acrescenta ela.

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Depredações a ônibus disparam e polícia prende oito suspeitos 

Até esta quarta-feira (16), oito suspeitos tinham sido detidos após atacarem ônibus em São Paulo. Sem conexões óbvias entre si, todos negam uma ação coordenada e alegam coisas triviais para a prática dos crimes, como terem sido fechados no trânsito pelos ônibus. Entre eles, foi apreendido um adolescente.

A investigação da polícia segue três linhas principais: ligação dos casos com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital); desafios propagados pelas redes sociais e uma disputa entre sindicatos, empresas e funcionários do setor, ainda não esclarecida. As investigações acontecem com o apoio da Divisão de Crimes Cibernéticos, que monitora plataformas digitais diante da suspeita de articulação dos crimes pela internet.

Dados do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SPUrbanuss) apontam que os ataques tiveram início ainda em janeiro. Até o dia 12 de junho, a média era de cinco ataques diários. A partir da data, saltou para 40 por dia. Já são 947 depredações em 2025, segundo a entidade.

O período coincide com a transferência, por parte da prefeitura, de contratos de empresas sob intervenção por suspeita de envolvimento com o PCC. De acordo com o Ministério Público de São Paulo (MP-SP), a facção criminosa se infiltrou no setor de transportes da capital paulista, com o controle de empresas de ônibus operadas por uma rede de laranjas e CNPJs fantasmas.

“Um grande problema é que a acusação de vandalismo é branda e se não for contra patrimônio público dá no máximo seis meses de pena, não dá nem cadeia”, afirma à Gazeta do Povo um detetive envolvido nas investigações do caso que pede para não ser identificado pois não tem autorização para falar com a imprensa.

“Se padronizar e começar a acusar todo mundo por tentativa de homicídio, com penas aí de no mínimo seis anos de prisão, acho que teremos dois efeitos: um é diminuir os ataques, e o outro é conseguirmos a colaboração de algum envolvido para descobrirmos de vez o que está acontecendo”, diz o policial. Ele não descarta mais de uma causa simultânea para a onda de crimes.

Entre os oito presos por suspeita de responsabilidade nos ataques a ônibus, apenas um deles foi acusado de tentativa de homicídio. Ele foi identificado pela placa do carro como autor de uma pedrada em um ônibus que quase matou uma passageira em São Paulo, no início de julho. A vítima teve diversos ossos quebrados na face e segue internada no hospital em estado grave.

De acordo com o delegado Fernando Santiago, responsável pela prisão, o suspeito alega que a pedrada foi resultado de uma briga de trânsito. A polícia, no entanto, desconfia da versão.

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Ataques a ônibus se repetem mesmo com força-tarefa da PM 

Mesmo após a Polícia Militar (PM) anunciar uma força-tarefa, os ataque com pedras continuaram. No último dia 3, a polícia anunciou a implantação de uma operação especial para intensificar a segurança em corredores, garagens e terminais de ônibus em todo o estado, com a utilização de 7,8 mil policiais e 3,6 mil viaturas em pontos estratégicos.

Apenas na terça-feira desta semana, foram registradas 36 ocorrências. No domingo (13), outras 47 — o segundo dia com mais ataques confirmados. 

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem defendido o trabalho da polícia e minimizou os receios da população em andar de ônibus. “A população não precisa ter medo. Estamos com uma megaoperação em andamento. A inteligência está trabalhando muito”, disse, em resposta aos jornalistas na semana passada.

“Pode ter certeza: nós vamos desarticular essa quadrilha”, prometeu o governador. De acordo com a SPTrans, os ônibus transportam apenas na capital, em média, 2,5 milhões de pessoas por dia, em uma frota com cerca de 12 mil ônibus, distribuídos em 1,3 mil linhas.

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