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Padre Júlio Lancellotti durante o lançamento do Plano Ruas Visíveis, no Palácio do Planalto, em dezembro de 2023.
Padre Júlio Lancellotti durante o lançamento do Plano Ruas Visíveis, no Palácio do Planalto, em dezembro de 2023.| Foto: José Cruz/Agência Brasil

O ano começou agitado na Câmara Municipal de São Paulo devido às denúncias contra o padre Júlio Lancellotti encaminhadas pelo vereador Rubinho Nunes (União) à presidência da Casa e à expectativa sobre a abertura da CPI das ONGs. Nesta terça-feira (20), na segunda reunião do ano do colégio de líderes, o assunto voltou à tona e gerou um bate-boca entre os parlamentares.

De um lado, Nunes e o presidente da Câmara, Milton Leite (União), defenderam o encaminhamento das denúncias, enquanto do outro as vereadoras Elaine do Quilombo Periférico (Psol) e Luana Alves (Psol) questionaram a pertinência de tratar as denúncias contra Lancellotti dentro de uma CPI que investigará ONGs. O vereador Arselino Tatto (PT) também se exaltou, criticando o fato de a reunião tratar do assunto por já estar, na avaliação dele, “expondo a figura do padre”.

No pano de fundo desta discussão está a disputa pela prefeitura de São Paulo, que tem o prefeito Ricardo Nunes (MDB) - aliado de Leite e de Rubinho - almejando a reeleição e enfrentando o deputado federal Guilherme Boulos (Psol) em chapa formada com o PT, ambos partidos apoiados por Júlio Lancellotti.

O caso tem sido utilizado nas pré-campanhas, como na fala de Boulos durante a cerimônia de filiação de Marta Suplicy ao PT, em janeiro. Na ocasião, Boulos afirmou que é preciso "derrotar o bolsonarismo na maior cidade do país" e combater "aqueles que estão querendo abrir uma CPI contra padre Júlio Lancellotti", parabenizando "o presidente Lula sobre o posicionamento que teve nesse caso".

Encaminhamento pela Câmara dos Vereadores 

O presidente da Câmara de São Paulo, Milton Leite, iniciou a reunião do colégio de líderes perguntando ao vereador Rubinho Nunes “qual é o novo cenário” a respeito da CPI das ONGs, no que Rubinho respondeu que “a primeira vítima, sr. Cristiano, depôs junto à Arquidiocese”, se referindo ao depoimento que o jornalista Cristiano Gomes, de 48 anos, deu na semana passada à Arquidiocese de São Paulo a respeito do abuso sexual que alega ter sofrido aos 11 anos do padre Júlio Lancellotti, na paróquia São Miguel Arcanjo, na zona leste de São Paulo.

Rubinho Nunes afirmou, ainda, que uma nova acusação será recebida a respeito do padre Júlio Lancelloti: “também chegou ao meu conhecimento que uma segunda vítima, um ex-usuário [de drogas], um adicto em recuperação, vai depor sobre fatos similares, o qual ele teria presenciado, junto à Arquidiocese."

Na sequência, Leite afirmou que assim que a Câmara tiver cópia dos depoimentos das vítimas, decidirá se abrirá uma CPI sobre o tema. De acordo com ele, o assunto poderá ser conduzido dentro da CPI das ONGs caso as supostas vítimas tenham sido “sacadas em programas atendidos pela prefeitura de São Paulo.”

“Assim que tivermos cópia desses depoimentos da diocese, aí sim nós vamos apreciar aqui se abriremos a CPI. Primeiro se sobre esse escopo, [segundo] se haverá CPI e [terceiro sobre] qual escopo. A partir desse momento que nós vamos ver se há interesse da Câmara ou não”, disse Leite.

O presidente da Casa afirmou também que encaminhará os depoimentos a "todos os órgãos de controle" tão logo eles cheguem à presidência da Câmara. "Vai ao Ministério Público estadual, federal, à CNBB e ao Vaticano, ao Ministério da Justiça, eu mando para que tomem todas as providências cabíveis além da Câmara, e sem prejuízo da Câmara apurar. Não vou prevaricar", disse ele.

Leite ressaltou que a decisão de instalar a CPI será feita com apreciação dos líderes da Câmara. "Não cabe ao presidente, o presidente traz os fatos solicitados por qualquer vereador. Como temos 45 pedidos [de CPI], 45 denúncias de naturezas diferentes, saber se apoiam ou não será em momento oportuno."

Ao ser questionado ironicamente por vereadores da oposição se era "delegado" por colher depoimentos, o vereador Rubinho Nunes respondeu que "é prerrogativa de qualquer agente público, inclusive vereador, receber um munícipe, e essa pessoa prestar declaração escrita sobre qualquer assunto, assinar". Rubinho afirmou ainda que busca formalizar os depoimentos para submetê-los à presidência da Câmara "até para que todos os colegas tenham conhecimento formal dos fatos, porque o que não existe documentalmente, não existe no mundo jurídico".

Denúncias contra o padre Júlio Lancellotti 

As denúncias contra o padre Júlio Lancellotti vieram à tona quando o vereador Rubinho Nunes, que protocolou a CPI das ONGs no final do ano passado, deu declarações à imprensa afirmando que tinha o objetivo de investigar o padre.

O tema começou a crescer quando, em janeiro desse ano, Rubinho encaminhou à presidência da Câmara um laudo pericial, encomendado por ele, no qual os peritos Reginaldo e Jacqueline Tirotti atestam ser o padre Júlio Lancellotti o homem que aparece em um vídeo em atos libidinosos com um suposto adolescente de 16 anos.

Após receber o laudo pericial, a presidência da Câmara enviou-o ao Vaticano. A Arquidiocese de São Paulo, por sua vez, quando teve acesso ao conteúdo, emitiu uma nota no dia 23 de janeiro afirmando que o material se tratava "do mesmo conteúdo divulgado em 2020" e que, à época, o Ministério Público de São Paulo (MPSP), "considerando ausência de materialidade, a seu tempo, emitiu parecer contrário à instauração de uma ação penal".

Na nota, a Arquidiocese afirmou que, na ocasião, "não chegando à convicção suficiente sobre a materialidade da denúncia e considerando as conclusões do MPSP, bem como da Justiça Paulista, também decidiu pelo arquivamento e informou a Santa Sé".

No dia 30 de janeiro, o assunto voltou à tona quando, em entrevista à RevistaOeste, o jornalista Cristiano Gomes afirmou que em 1987 foi vítima de abuso sexual do padre Júlio Lancellotti. Na entrevista, Cristiano disse que tinha 11 anos e era coroinha da Paróquia São Miguel Arcanjo, na zona leste de São Paulo, quando supostamente foi abusado pelo padre. Após a entrevista, a Arquidiocese de São Paulo entrou em contato com Cristiano para colher o depoimento dele e iniciar uma investigação sobre o tema.

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