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Bonde paulistano

São Paulo aposta em novas linhas de VLT com promessa de revitalizar centro e dar fim à cracolândia

VLT Bonde de São Paulo
Bonde de São Paulo é promessa para sair do papel em quatro anos. (Foto: Fernando Frazão/Arquivo Agência Brasil)

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A cidade de São Paulo se organiza para entrar na década de 2030 com duas linhas de bonde - o chamado veículo leve sobre trilhos (VLT) - numa extensão de 12 quilômetros. A iniciativa faz parte do esforço do poder público na revitalização da região central da capital paulista, em especial de áreas consideradas abandonadas, como a cracolândia.

O projeto de implantação do sistema de transporte coletivo foi iniciado em 2023 e teve como passo mais recente a conclusão dos estudos urbanísticos. O custo total estimado do projeto é de R$ 4 bilhões. Parte deste valor, cerca de R$ 1,4 bilhão, é esperado dos cofres do governo federal por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Previamente à licitação que deve formalizar a parceria público-privada (PPP) para o empreendimento, a cidade de São Paulo fará audiências públicas sobre o projeto. A projeção é que a contratação com a empresa ou consórcio responsável ocorra no ano que vem, com os trabalhos sendo concluídos até 2029.

Denominado Bonde de São Paulo, o VLT tem um trajeto divididos em duas linhas – chamadas inicialmente de Vermelha e Azul, que deverão receber novos nomes para evitar confusão com as linhas de mesmo nome na rede de metrô paulistana. Cada linha contará com 13 estações instaladas no centro de São Paulo de modo a interligar locais como a Praça da República, os Largos do Arouche e do Paissandu, a Estação Pinacoteca, a Sala São Paulo, o Parque Dom Pedro II e o Vale do Anhangabaú.

Ambas as linhas serão circulares, mas apenas a nova linha Azul contará com trajeto em ambos os sentidos (horário e anti-horário). "O VLT tem o potencial de reativar a memória dos antigos bondes, enquanto age como um indutor de requalificação urbana, particularmente na região do Triângulo Histórico que inclui importantes marcos como o Largo São Bento, o Pateo do Collegio e o Largo São Francisco. Além de facilitar a integração entre diferentes regiões e equipamentos urbanos, a implantação do VLT nesta área pode resultar em uma valorização significativa dos imóveis", aponta o estudo.

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Linha Azul

  • Trecho 1: Viaduto Dona Paulina - Avenida Rangel Pestana
  • Trecho 2: Avenida Rangel Pestana - Museu Catavento
  • Trecho 3: Museu Catavento - Mercadão
  • Trecho 4: Mercadão - Vale do Anhangabaú
  • Trecho 5: Vale do Anhangabaú - Praça da República
  • Trecho 6: Praça da República - Praça Roosevelt
  • Trecho 7: Praça Roosevelt - Câmara Municipal
  • Trecho 8: Câmara Municipal - Viaduto Dona Paulina

Linha Vermelha

  • Trecho 9: Paissandu – Estação da Luz
  • Trecho 10: Estação da Luz – Rua Prates
  • Trecho 11: Prates – Vila Reencontro
  • Trecho 12: Vila Reencontro – Rua José Paulino
  • Trecho 13: Rua José Paulino – Sala São Paulo
  • Trecho 14: Sala São Paulo – Praça Princesa Isabel
  • Trecho 15: Praça Princesa Isabel – Avenida São João
  • Trecho 16: Avenida São João – Paissandu

De acordo com o projeto, as duas linhas serão interligadas no Largo do Paissandu. Além disso, para permitir maior mobilidade aos passageiros, o VLT fará a conexão com nove estações de metrô, duas estações da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e cinco terminais de ônibus.

VLT Bonde São PauloProjeção do trajeto das linhas Vermelha e Azul do VLT "Bonde de São Paulo". (Foto: Assessoria de Projetos Estratégicos/Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento de São Paulo)

Segundo o estudo urbanístico, a escolha do nome “Bonde de São Paulo” foi feita como uma forma de resgatar com o VLT o conceito do meio de transporte fundamental para o desenvolvimento urbano da capital paulista no início do século XX. “Naquela época, o bonde desempenhou um papel central na expansão e na modernização da cidade, conectando bairros e facilitando o crescimento econômico e social. Ao adotar esse nome, o projeto não apenas busca modernizar a mobilidade urbana, mas também homenagear e revitalizar um símbolo histórico de progresso e integração urbana, resgatando a memória e o patrimônio cultural da cidade”, aponta o projeto.

As composições do bonde de São Paulo serão formadas por cinco vagões cada. Os veículos serão totalmente elétricos e comportarão cerca de 450 passageiros. Com funcionamento previsto para a faixa de horário entre 6h e meia-noite, o projeto prevê que as linhas terão um intervalo máximo de seis minutos e meio até a próxima composição. Assim, o percurso total de cada uma das linhas poderá ser feito em pouco mais de 40 minutos.

A avaliação da Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento, que conduz o projeto, é de que o novo sistema tenha potencial para transportar 134 mil passageiros por dia. Com isso, espera-se uma redução diária de cerca de 11 mil carros no trânsito de São Paulo. O preço estimado da passagem do VLT é o mesmo do sistema de ônibus, atualmente em R$ 5, e os usuários poderão ter a integração com o Bilhete Único - sistema de bilhetagem eletrônica que unifica as passagens dos diversos meios de transporte.

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Além dos estudos técnicos, a definição dos detalhes a respeito das novas linhas contou com medidas preparatórias como a alteração de trechos do sistema de transporte por ônibus. Há um ano, a linha 2002-10, que liga o Parque Dom Pedro II ao Terminal Bandeira, passou a fazer um novo trajeto justamente pelo trecho contemplado no projeto do VLT. Segundo a administração municipal, tal ação permitiu uma série de análises sobre o fluxo de passageiros e a quantidade necessária de pontos de embarque e desembarque.

A operação do VLT será de forma integrada com outros meios de transporte, como ônibus, carros e motos. Pelo projeto, as linhas terão uma “flexibilidade” em sua implementação, com os trilhos sendo instalados em faixas compartilhadas – o que demanda a retirada de parte do trânsito comum dos locais – ou em trechos de uso exclusivo.

Para evitar conflitos e situações como o Bonde São Paulo tendo que esperar pelo semáforo abrir para seguir caminho, o sistema de sinalização cortado pelas novas linhas terá controle automatizado. Sensores nos vagões e nas linhas aliados a um sistema de geolocalização permitirão que os semáforos sejam sincronizados de forma a dar prioridade ao VLT sobre os outros veículos.

Além das novas linhas e terminais, o estudo urbanístico do projeto contempla 50 quilômetros de calçadas com acessibilidade, 5 quilômetros de corredor verde e interligação com 30 quilômetros de ciclovias.

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Para exemplificar as vantagens econômicas, sociais e ambientais do novo modelo, o projeto do VLT compara o Bonde de São Paulo com sistemas em uso em Viena (Áustria), Sevilha (Espanha), Xangai (China), Hiroshima (Japão), Toronto (Canadá) e Sidney (Austrália). As redes brasileiras instaladas em Fortaleza (CE), Santos (SP) e Rio de Janeiro também entraram no estudo.

Em comum, o projeto destaca que em todos os casos há benefícios trazidos pela integração com outros modais de transporte, na redução da emissão de poluentes e na revitalização urbana das cidades. “Este é um ponto essencial para São Paulo, que busca revitalizar o centro da cidade e incentivar o desenvolvimento econômico local”.

O tamanho das redes de VLT estudadas, porém, é tido como uma das principais diferenças com o modelo proposto para São Paulo - a rede de transporte chinês é uma das mais extensas. As condições econômicas e sociais, bastante diversas entre as cidades, são apontadas como desafios operacionais – “evasão tarifária, vandalismo e manutenção são mais prevalentes em algumas cidades, como Rio de Janeiro e Fortaleza, enquanto em outras, como Hiroshima e Viena, a operação é mais estável e segura”, detalha o estudo.

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